Chuva

Loja do Cross

– Chuva...

Eu suspirei um pouco desanimada. Afinal, eu teria que voltar a pé para casa e não havia trazido um guarda-chuva. Eu nunca imaginei que choveria. O tempo, até então, estava impecável nos últimos dias e mesmo naquela manhã. Confesso que havia escutado pelo noticiário, antes de sair de casa, que choveria no período da tarde e que se arrastaria pelos próximos dias. Contudo, a previsão não havia acertado ultimamente e, por isso, ignorei completamente o aviso. Um grande erro. Talvez para piorar a minha situação, a chuva engrossava com o passar do tempo, não demonstrando que cessaria tão cedo. Apenas para completar, minha casa ficava bem longe do colégio.

Olhei para o céu, encarando incomodada as espessas nuvens cinzentas em um quase negro. Minha esperança por uma brecha naquele temporal morria a medida que os sons se tornavam ainda mais altos a medida que acertavam o prédio escolar. A escuridão era tanta que a pouca luz que ainda conseguiam atravessar o intimidador véu de nuvens não era o suficiente. Desse modo, não parecia ser quase cinco horas da tarde... Talvez, fosse como se fossem sete horas da noite devido ao parcial breu.

Eu tomava coragem para seguir em frente e ignorar a fria chuva de outono. O casaco espesso que eu usava deveria ser o suficiente para me manter bem por grande parte do trajeto. Ajeitei as minhas meias grossas negras sobre minhas coxas, agradecendo mentalmente que havia sido uma sábia escolha ter colocado um par de botas pretas do que os calçados típicos de estudantes. Isso me remetia a advertência que havia recebido mais cedo, porém, não me importava com tal chamada. Respirei fundo e olhei para frente, tentando novamente tomar a coragem necessária para enfrentar a água gélida.

– Quer uma carona, Yui?

Voltei-me para trás e vi que Lenalee Lee, minha melhor amiga, sorria para mim, preparada com o seu guarda-chuva.

Nós éramos da mesma classe durante muitos anos e, desde que eu me lembre, sempre nos demos muito bem uma com a outra. Na verdade, ela era minha única amiga feminina, pois, mesmo após nos enturmarmos com Miranda Lotto assim que entramos no colégio, ainda não sinto que tenho a mesma intimidade que tenho com Lenalee. Meu grupo de amigos era bem restrito, no fim. Atualmente, nós duas havíamos acabado de entrar no primeiro ano do colegial Black Order, uns dos mais tradicionais da região. E, desde que entramos, continuamos a manter velhos costumes. Como esperado de nós, acabávamos ficando até mais tarde no colégio para estudar e, se preciso, auxiliar os professores e representantes de turmas em tarefas mais simples. Não éramos representantes de sala, porém, sabíamos que fazíamos diferença com a nossa ajuda. Sempre recebíamos agradecimentos de outros alunos e pela direção. Eu não sabia o real motivo para que Lenalee fizesse isso. Talvez fosse porque seu irmão, Komui Lee era professor e devido ao seu enorme coração. Contudo, eu tinha um motivo para fazer o que fazia.

Eu precisava me dedicar cada vez mais para alcançar meus objetivos e ajudar a minha irmã.

Desde que meus pais faleceram há 3 anos atrás em um acidente de carro, minha irmã mais velha ficou encarregada de cuidar de nós duas. Soul era uma mulher incrível. Era independente, carinhosa e bem-sucedida no seu emprego como médica. Ela era uma inspiração para mim. A única família que ainda me restara. E, assim, eu queria ser como ela. Eu queria mostrar que também era capaz.

E tudo o que eu podia fazer era me dedicar com meus estudos.

Lenalee estendeu seu guarda-chuva para, novamente, perguntar, através de seu gesto, se eu queria sua ajuda. Até fiquei grata, mas não podia aceitar tanta gentileza.

– Não se preocupe, Lena. – dei um grande sorriso para ela, em forma de gratidão. – Além disso, sua casa é para o outro lado.

– Yui. Não custa nada pra mim. – Lenalee se aproximou de mim e, em seus olhos, pude ver o quanto ela estava preocupada. – Sair nessa chuva é perigoso. Você pode pegar uma gripe ou até uma pneumonia. – ela estava certa com relação a isso. Eu sabia que não podia brincar com a situação ou mesmo subestimá-la. Eu não havia contado para ela, mas, há algum tempo atrás, eu havia estado doente. Porém, eu não me sentiria bem em saber que ela enfrentaria ainda mais aquela chuva fria só para me levar em casa. Simplesmente, eu não podia aceitar.