dormir com você.
deitar na mesma cama que você. velar teu sono e poder desfrutar da sinestesia de observar teus traços ao mesmo tempo em que sentia seu cheiro refrescante nos lençóis.
em um dia qualquer, você bateria em minha porta no meio da tarde com olheiras profundas, embriagado de sono.
— oi. posso dormir aqui um pouco?
meus olhos se encheriam de carinho e eu o daria entrada, parando o que quer que estivesse fazendo pra dar continuidade ao nosso encontro peculiar. alguns casais tinham seus encontros em cinemas e restaurantes, mas nossas rotinas bagunçadas e tão comicamente pós-modernas nos faziam perceber que não havia melhor saída senão aquela em que nós dois nos enrolávamos um ao outro, como se nossos corpos e a cama fossem o soluto e solvente em solução completa.
mas eu não dormiria. o maior pecado do privilegiado é o de negar seu privilégio; e tamanho era o meu por poder desfrutar de tal visão angelical, amor.
seu corpo beijado pelas luzes da rua em contraste com o céu crepuscular das seis da tarde fazendo-o parecer o cenário que van gogh jamais conseguiria capturar com tanta sentimentalidade e paixão.
mas também eram tão bons os dias em que ficávamos acordados, procrastinando o próprio cansaço pra escutar sobre sua semana, ouvir suas músicas favoritas e nos amar da forma mais pura que conseguíamos; sentir seu cheiro, passear a boca pelo seu pescoço e os dedos pela sua cintura, demonstrar da forma mais intrínseca e genuína aquilo que não podia ser verbalizado.
nossas baterias eram carregadas pelas nossas energias trocadas, em mais pura sintonia. nunca era cansativo te olhar enquanto dormia, pois sempre haviam detalhes novos pra notar; suas pintinhas distribuídas pelas bochechas, os cílios longos que, ao carregar suas lágrimas doídas, faziam inveja ao orvalho da manhã, sua boca rosada entreaberta tão perfeitamente desenhada e designada à nenhum outro ser senão você.
não queria nunca que fosse embora; embora que, neste momento, fôssemos um. um só espírito, unido em um único corpo com um só coração que compartilhava do mesmo ritmo; as batidas por minuto eram tão irrelevantes pras nossas tardes em que o tempo parecia não existir...
acordar contigo subindo em meu colo feito criança levada em manhã de domingo, ainda com os olhos colados e sobrancelhas franzidas acompanhadas de um bico enorme, cujo não podia deixar de selar com meus próprios lábios ou seria acusado por heresia ao recusar sua figura tão divina e pura pra mim.
— com o que sonhou? pergunto eu, me apropriando da embriaguez do teu sono como se fosse minha.
— não lembro. mas foi muito bom... dizia, coçando os olhos com um sorriso pequeno. deus... amor era uma palavra tão antiquada quando se tratava de você. — que horas são?
— ainda são 19h...
— ah, que bom...! vamos dormir mais um pouco... vai? por favor... pediu do jeito que sabe que eu cederia, sem nenhuma contestação. seus olhos pedintes e sorriso travesso, mesmo que não os olhasse, seu tom cheio de chantagem entregava. e quem era eu pra dizer não...
—... claro, yoongi.
me enrolo em teus braços novamente, e minhas definições de lar são atualizadas mais uma vez. soubera eu que, ao pedir por paz soprando as velas do meu bolo de aniversário de catorze anos, a encontraria nos suspiros pesados de um corpo dormente agarrado ao meu.
song insp. — watch you sleep by girl in red.