"Ela gostava de tulipas, mas era alérgica a elas.
E por mais que houvesse tantas outras flores em seu jardim, não adiantava,
ela sempre se pegava observando e tocando naquele mau que a fazia tão bem."Fantine
A brisa gélida que adentra a janela do meu quarto, e que arrasta levemente os fios dourados que pairam sobre a minha face encharcada de lágrimas, é a mesma que reforça o fato de que ainda permaneço viva e não inerte à esse sofrimento.
Ainda que o meu corpo pareça estar anestesiado.Charlies Bukowski diz que precisamos morrer inúmeras vezes para que possamos começar a viver. De fato, para mim, esse pode ter sido o meu primeiro perecer.
Maldito seja esse coração que mesmo depois de ter recebido golpes como se lhe apunhalassem uma faca, continue batendo.
Maldita seja eu, por ter me entregado de maneira tão intensa e demasiada a ponto de permitir que alguém me fizesse chegar à esse declínio.
A ruína de sentir como se não me auto-pertencesse, e sim a ela.E maldita seja ela, por me ter por inteiro em suas mãos, para posteriormente me amassar como um papel rabiscado e me arremessar na lata do lixo.
Os flashes do que acontecera a poucas horas atrás, fazem com que meu estômago se embrulhe.
Meu coração palpita tão forte que o peito arde, não consigo gritar ou respirar facilmente.Não sinto nada, mas ao mesmo tempo sinto tudo, cada veia e cada fibra, cada arrepio e cada pulsar, todos os meus sentidos, vivos e alertas em meu corpo, pareciam ter recebido uma carga elétrica, um choque.. Um choque de realidade.
Flashback on:
Acordo pelo barulho estridente e desagradável do meu celular que repousava no criado mudo ao lado da cama, com aquela sensação de não ter dormido o suficiente.
Estava exausta, pois o meu dia havia sido de muita correria.
Eu e as meninas havíamos nos reunido para gravar o clipe de "Solo tu" e um acústico especial na casa da Aline que iremos nomear como "Rouge Sessions".
Em seguida tive que vir para o hotel mais próximo, já de malas prontas para retornar amanhã mesmo para a Holanda.
Mas não vim pra cá exatamente por isso, também tinha uma pendência a resolver com uma certa pessoa, e necessitávamos de privacidade. Então combinamos de nos hospedarmos no mesmo hotel, mas em horários diferentes para pelo menos tentar despistar qualquer curioso.Meu corpo clamava por descanso, então optei que viria primeiro, me acomodaria em um dos quartos, e algumas horas depois, ela faria o mesmo.
Meus olhos ainda pesavam de sono, mas resolvi ceder e visualizar de quem poderia ser a mensagem que acabara de perturbar o meu sossego, apesar de já ter mais ou menos noção de quem poderia ser.
Sim, era dela, Luciana.
Desde a minha chegada ao Brasil – devido aos nossos compromissos – não tivemos nenhum momento proveitoso em particular. Até tentamos algo na casa da Wirley, mas nada com sucesso, então só nos restava o hoje.
Inevitavelmente, por um segundo, meu coração aqueceu-se. Suspirei pesado e joguei meu aparelho eletrônico de volta ao colchão.
Nunca hei de compreender como uma simples mensagem vindo da mesma, deixa meu peito em estado de euforia.
"Oi amor, vem me ver"
A frase que aparecia na tela do meu celular sendo finalizada com um emoji de carinha pidona e um coração roxo, já não me era mais estranha. Pois sempre que a remetente sabia que eu havia pousado em terras brasileiras, não tardava em fazer isso.
E eu sempre ia correndo ao seu encontro como uma boba apaixonada, que só se sentia realizada estando com ela em meus braços. De fato.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Masochist
Fanfiction"Foi tão estranho perceber que o sossego que eu buscava com a sua presença, foi a sua ausência que me trouxe.."