Heartless

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Não havia homem na terra que pudesse condená-lo. A raiva, a decepção e o sentimento pobre de traição o consumia rapidamente, sem dar-lhe o tempo de se salvar. Tudo ao alcance daquele homem era destruído, sendo arrebentados contra as paredes ou simplesmente lançados violentamente contra o chão. Tudo se deteriorava com apenas um único toque. Seu interior clamava. Ardia como as próprias chamas do inferno. Ódio lhe resumia muito bem. Por mais que seu rosto apenas incumbia a sinistra indiferença, seus olhos transbordavam em uma mistura devastadora de dor, fúria e sede de vingança. O cômodo que habitava já estava quase irreconhecível pelo caos que o próprio havia criado. As paredes tinham suas feridas, marcas que não chegavam perto das que foram feitas no coração do homem. Vidro e porcelana, aos pedaços, decoravam o piso, assim como os retalhos de seu vestuário... Por mais que continuasse aquela desordem, não havia remédio para a sua dor e sua revolta.

Em um minuto dado aos seus pensamentos, suas ações cessaram por completo. Zero insistiu dar um profundo e demorado inspiro. O ar gélido fora o suficiente para lhe trazer o mínimo de sanidade possível para fazê-lo perceber o que havia feito. Observar o cenário criado fora desgostoso. O homem rapidamente pegou sua carteira, o molho de chaves e seu celular. Abriu a porta em um aparentemente golpe, abandonando o apartamento em que vivia sem se preocupar em trancar a porta assim que fechara a mesma com toda a brutalidade.

Perambulando as ruas cinzentas, sua mente conturbada organizava-se aos poucos. O rapaz agradecia ao pequeno momento de lucidez que teve. Se não fosse por isso, certamente ele teria arriscado a dirigir até a casa de Yuuki em sua condição mental. O tempo até seu destino era bem-vinda ao homem. Uma vez que o tempo seria o suficiente, ou deveria ser, para retomar a sua sanidade e manter-se são para o que estava por vir. A cada passo dado, um fragmento de maturidade; A cada passo, um fragmento de rancor. Fora um tolo por ter acreditado. Acreditado nas palavras vazias que a mulher lhe iludira. Fora ingênuo ao crer que a conhecia após todos aqueles anos. Ele era feliz...

Até que a verdade o despertou e o fez ver o quanto fora enganado.

A presa era sua inimiga. Não bastava apenas tocar o interfone da residência. Rudemente, o homem batia seu punho fechado contra a porta, sendo impossível não ser capaz de ouvir tais ruídos. Zero não se permitia perder nem mais um segundo de sua vida com aquilo. Logo, a porta se abriu, revelando uma bela mulher, perfeitamente vestida e maquiada. Ela exibia um belo sorriso, porém o mesmo morreu no mesmo instante que seus olhos recaíram no rapaz em sua porta. Yuuki encontrava-se em pânico, demonstrando seu nervosismo ao fugir do olhar inquisidor. Ao menos, aquele tempo em que viveram junto tiveram alguma utilidade para o rapaz. Tal comportamento lhe causou ódio e tomado por esse sentimento o homem chocou seu braço contra o batente, produzindo um alto som ameaçador. Em defesa, a mulher assustada recuou alguns passos. Seus olhos aterrorizados buscavam reconhecer a pessoa ali. Ela não compreendia o que poderia causar aquela reação... A não ser que ele sabia. E fora quando os olhos cinzentos do mesmo pareciam querer a sua morte que a mulher compreendera.

O dono daqueles olhos cheios de tristeza e ódio tinha plena ciência das decisões ocultas tomadas por Yuuki.

– Eu ainda não acredito que isso está acontecendo. – a voz do rapaz estava repleto de incredulidade. O sarcasmo em suas palavras era tão ofensivo quanto as suas expressões severas. Calada, a mulher apenas consentiu. – Você teve a ousadia de me pedir um tempo, dizendo que estava ocupada com compromissos com a faculdade e estava sufocada... Sendo tudo uma grande porcaria de mentira pra você ir se encontrar com o desgraçado do seu ex?

– De onde tirou isso, Zero? – Yuuki fingiu ignorância, tentando alcançar a mais tranquila feição. Contudo, seu próprio disfarce se comprometia toda vez que fugia do contato visual com o homem.

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