Hunting High And Low

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Eu esperava vê-la novamente em meus sonhos.

Não lembro exatamente quando eles começaram. Creio que foram poucos meses antes de abandonar a montanha. Sim... devia ter sido mais ou menos nessa época. Primeiro, eram apenas sonhos com lugares distantes, geralmente paisagens naturais exuberantes e que traziam algo que eu nunca havia sentido... Paz. Contudo, depois de algum tempo, eu conseguia sentir alguém além de mim nesses lugares. Era como uma assombração que vagava livremente pela minha cabeça. Aos poucos, era como se essa presença estivesse ao meu lado, mesmo quando acordado. Era estranho... muito estranho... Porém, eu não me sentia mal. Na verdade, era extremamente agradável. Era como se uma nova força me sustentasse para suportar meus dias naquele inferno familiar. Todas às vezes que me testavam, todas às vezes que me torturavam... todas essas vezes de profunda solidão já não eram como se eu realmente estivesse só.

Eu podia jurar que havia realmente alguém comigo.

Foi então que, em meus sonhos, a figura de uma mulher era visível. Eu não tive medo ou mesmo estranhei... Eu sabia que aquela mulher era a presença que me acompanhava dia após dia... Sonhando ou acordado. Eu apreciava isso com todas as minhas forças. Sim... a imagem, mesmo que borrada e sem cor, era a visão que eu almejava todas as noites. Ela sempre parecia dormir, tranquilamente, entre as flores do campo ou em qualquer outro lugar que pudesse me enlouquecer de tanta tentação. Parecia um doce sonho, pois eu tinha a certeza de que a felicidade estampava sua bela face. Nem em meus pensamentos mais selvagens e maliciosos eram tão prazerosos quanto vê-la naquela forma. Por mais que eu nunca tivesse visto seu rosto, por mais que nunca soubesse a cor de seus cabelos, eu tinha a certeza de que aquela era a minha mulher. Como muitos falam, minha alma gêmea.

E não importava o quanto demorasse, eu a procuraria por toda parte, não havendo limites da distância que eu precisaria percorrer.

Mas então, alguns dias antes de deixar os Zoldyck, ela abandonou meus sonhos. Eu fiquei desesperado, confuso e, acima de tudo, sofrendo uma abstinência assombrosa. Esse também foi um dos motivos para sair de casa. Queria a minha liberdade, meu próprio caminho... e encontrá-la. Não é como se ela pudesse simplesmente me enfeitiçar e escapar de mim tão facilmente. Acabou por muita coisa ter acontecido durante essa jornada. Minha falha no teste para me tornar um Caçador, encontrar grandes amigos que até me resgataram quando voltar para minha família, a busca pelo pai de Gon, a luta contra as Aranhas, o jogo da Ilha, as Formigas, a minha vez de salvar o Gon... Muita coisa aconteceu, realmente... E ela nunca mais me apareceu. Sua presença também há tempos havia sumido também, deixando-me novamente na solidão. Ela deixou-me aos pedaços e nem ao menos se desculpou. Eu já perdia minhas esperanças quando, em uma noite, podia jurar que algo repousava ao meu lado da cama. Não me atrevi a acordar, apenas apreciando as batidas de um coração alheio junto ao meu. Era ela. Eu tinha certeza. Só ela era tão angelical a ponto de fazer-me sentir tão loucamente instável. Ela era o mais puro amor que eu poderia encontrar...

Eu já havia assumido isso há muito tempo, porém ela tinha noção do que significava amá-la? Se soubesse, talvez deixasse de brincar com meus sentimentos e deixasse de fugir dos meus braços.

Ei... Eu tenho que ir... – era a voz mais doce que eu já ouvira.

"Ir"? O que quer dizer com isso? – perguntei em meus sonhos e rapidamente senti como se alguém tivesse se levantado da minha cama.

Eu tenho que partir. Desculpa não ter feito isso da última vez. – ouvi sons de ondas ao longe e os grasnar de gaivotas. Mesmo com toda aquela escuridão do sonho, eu sentia que estava em alguma daquelas belas paisagens que ela sempre me mostrava. Por algum motivo, aquela noite não fora o caso, mas claramente havia referência ao mar. – Tenho que ir.

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