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-Vitóriia acoordaa, acordaa minha filhaa!!! Sinto meu corpo ser chacoalhado sobre a cama, abro os olhos bem pouqhinho.

-Que péssimo jeito de me acordar mãe! Coço os olhos tentando afastar o sono.

-Levantaa!! Sua voz era urgente a todo momento. -Rápido Vi!!

-Que foi mãe? Aconteceu alguma coisa? Pergunto preocupada.

-Eu queim...queimei o frango! Ela diz respirando fundo. -Eu fui corrigir uns testes e me esqueci dele no forno!

-Calma mãe, tem ovo e linguiça, da pra fazer na hora até! Digo, eu ainda estava meio dormindo.

-Seu pai quer jantar frango assado, ele deixou isso bem claro antes de sair. Minha mãe diz passando a mão no rosto. -Vi, corre, tenta achar algum lugar que venda frango assado, e comprar, tenta voltar antes dele chegar. Por favor!!

Eu sei que pode parecer uma tempestade em copo d'água por conta de um frango, mas Paulo tinha disso, ou coisas eram do jeito que ele queria, ou era do jeito que ele queria. Ver minha mãe desesperada na minha frente, faz meu coração sangrar.

-Eu vou encontrar, fica calma tá?! Prepara o resto da janta. Eu volto já já.

Solto o fone do celular e nem me lembro de mandar uma mensagem pra Ninha, agradecendo pela companhia na minha sonequinha da tarde.
Saio desesperada em busca de um frango assado. Procuro em padarias. Restaurante. E até mesmo em bares. Parece que o povo angrense não curte frango assado, não é possivel. Me sento em um banco qualquer tentando encontrar uma solução.

"-Clarissa!!" Me levanto rapido e corro em direção a casa da minha melhor. Em dias comuns não é muito bom sair correndo pelas ruas, as pessoas podem achar que é um arrastão ou coisa do tipo, mas eu simplesmente não estava me importanto com isso.

Chamei no portão umas duas vezes e a Cla apareceu na porta vindo abrir pra mim em seguida.

-Oi. Ela me olha confusa.

-Preciso de um frango assado. Eu digo e ela começa a rir. -Eu tô falando sério.

Ela me olha no olhos, respira fundo. -Isso tem algo a ver com o traste do seu padrasto?

-O que na minha vida que não tem a ver com ele?! Por favor Cla me ajuda. Já estava implorando, só eu sei o quanto é doloroso assistir sua mãe ser xingada e apanhando e não poder fazer nada.

-A sua sorte é que a moça que cuida aqui da casa, preparou um frango hoje. Ela diz me dando passagem.

-Tu vai me deixar levar ele? Faço minha carinha de gatinho do Shrek.

-Eu vou né.. Ela ri.

Ela embrulha e põe em uma sacola. E me entrega em seguida.

Eu paro por um instante e vejo que o egoísmo bateu em minha porta e eu abrii.

-Cla seus pais vão.... ela não me deixa concluir a frase.

-Eles vão entender quando eu explicar. Ela diz e eu balanço a cabeça em negação, ela não podia falar que meu padrasto é um mostro ele só ficaria mais furioso e faria mais coisas ruins com minha mãe e comigo. -Caalma, vou dizer que Jorel comeu uma parte e então quando vi já era tarde e dei o resto pra ele.

Olhe em volta procurando a bola de pelos ambulante, quando o avistei corri até ele.

-Eii gatiinhu, tu vai ficar com fama de guloso, mas é por uma boa causa tá?! Tiiinhaamuuuu... dou um beijinho nele e corro pra saida.

-Ei, tu não me ama não?! Cla grita da porta.

-Muiiiitoo, tu é minha pessooa!!!! Jogo um beijo no ar e disparo em direção a minha casa.

...

O jantar foi silencioso, meu padrasto disse uma palavra se quer.
Assim que terminei, pedi licença e me retirei da mesa.
Fui pro meu quarto e me joguei na cama.

-Que tarde doida... Acabo rindo, sem humor, mas é que tudo parecia uma grande piada, toda uma luta pra conseguir um frango, a droga de um frango.

Respiro fundo e retiro meu celular do bolso, pois estava incomodando e eu também precisava falar com Ana.

Quando acendo a tela vejo algo que não esperava. Ana ainda estava em chamada, estremeço.

Levo o telefone ao ouvido e a chamo em um sussurro: -Ninha?

Ouço sua respiração do outro lado.

-Eu posso explicar, se tu ouviu algo....é só que.  Droga!! Me enrolo.

-Então quer dizer que minha passarinha se chama Vitória, bonito nome Falcão.. Ana diz apenas isso, não me pede explicação e nem tenta me fazer falar. -Tu precisa tomar um banho e descansar.

-Ana eu.... Apesar de ela não ter pedido, eu sentia que devia uma explicação a ela.

-Depois a gente fala disso tá?! Agora cuida de ti e descansa, qualquer coisa eu tô online pra tu sempre. Ela diz. E eu fecho os olhos em gratidão.

Antes que eu possa dizer algo mais, ouço o barulho de algo se quebrando na cozinha. Meu celular reclama de bateria baixa. Olho 5%, e num piscar de olhos(literalmente) ele desliga. Mas uma vez ouço um som alto vindo da cozinha.
Jogo o celular na cama e corro pra ela.

-O que tá acontecendo? Minha mãe estava no chão chorando baixinho. Meu padrasto estava com a camiseta molhada, talvez tenha derramo suco em si próprio e como sempre resolveu culpar minha mãe por isso.

-Essa inútil! Ele diz em um tom alto, mas não chega a gritar. -Merece uns tapas pra ver se aprende a prestar atenção no que tá fazendo.

-idiota. Digo baixo, mas tem tanto pois minha mãe me olha com desepero.

-O que fooi que você disse?? Ele vem em minha direção.

-ELA NÃO DISSE NADA!! Minha mãe grita ainda não chão.

-CALA A BOCA SUA VADIA, FALEI COM ELA, NÃO COM VOCÊ!! Ele altera a voz o que me faz estremecer por inteiro. -O quee você DISSE???

-I-D-I-O-T-A!! Digo de forma pausada e gritada.

Sinto meu rosto arder. Uma lagrima sai automaticamente do meu olho. Prendo a respiração tentando me controlar pra não me acabar de chorar ali mesmo.

-NÃO TOCA NELA!!! Minha mãe diz em desespero. Minha visão estava embaça por conta de toda lágrima que estava ali, forçando pra sair e eu tentando segurar.

Mas Paulo vai além. Sinto uma dor intenção. Por alguns segundos tudo fica escuro. E quando clareia novamente percebo que estou deitada no chão.  Meu olho lateja.

-VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREEITOO!!! Minha mãe tenta vir em minha direção, mas ele a segura. Eu não conseguia falar, pois tinha um nó em minha garganta. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo.

-Ela tem que me respeitar. AGORA ela vai saber que tem que me respeitar!! Paulo diz isso e começa a caminha para fora da cozinha. Para na porta. -VEEM!!!!

Minha mãe me olha e o olha. Eu esperava que ela ficasse mas não foi o que ela fez. Ela o seguiu, sairam da cozinha me deixando ali jogada no chão.
Me encolhi em posição fetal e chorei, chorei toda a dor. Sentindo todo o abandono. Chorei por ser frágil. Chorei. Chorei. Chorei.

E se...Onde histórias criam vida. Descubra agora