— Você acha que vai me envergonhar da mesma forma que a cadela da sua mãe fez comigo? — Sr. Damaceno esmurra a filha vestida de noiva, com uma violência tão brutal, que é imaginável se crer que possa existir um sentimento dessa magnitude, dentro de um ser humano.
A moça de dezoito anos, choca-se contra o móvel que guarda toda prataria da casa, para cair no chão em seguida.
— Não bastava ter transado com sua mãe, ele também queria foder você! Desgraçado! Eu vou matá-lo!
— Eu o amo! — Sr. Damaceno não acredita no que está escutando. Como está proximo da mesa, o pai pega uma travessa de madeira, cheia de frutas, e joga na sua filha.
— Eu te amaldiçôo! — Grita o velho comerciante a plenos pulmões.
— Eu estou grávida! E não há nada que o senhor possa fazer para impedir isso! — A moça que atende pelo nome de uma santa, grita com toda força.
Joanna grita outra vez... Mais alto.
A voz dela parece açoitar o coração encolerizado do pai.
Damaceno recua apertando sua mão contra seu peito.
A frase do "Não pode ser", inunda a sua cabeça descompensada, como uma enchente da maré.
O pai cospe no chão.
— Você é o demônio! — Damaceno parte para cima de Joanna e chuta-lhe o ventre.
O grito não sai. Fica entalado. Preso. Amordaçado.
A dor que Joanna está sentindo, só a deixa puxar o ar para dentro. A sua fisionomia lembra um peixe respirando fora da água.
Ela sente como se uma dança de facas lhe agredissem para sair pelo seu sexo.
— Meu filho... Não. — Ela tenta lamentar-se novamente, mas sua voz é sobrepujada com um chute na sua face, jogando sua cabeça contra a parede.
O sabor ocre enche-lhe a boca, e o sangue jorra pelo nariz.
Joanna agonia-se tentando adivinhar onde será o proximo lugar que sofrerá a agressão, o que não demora muito para obter a resposta.
Os chutes alternados do seu pai, acontecem iguais as marchas dentro dos quartéis, e são desferidos na barriga que inutilmente tenta segurar a criança com cinco meses de vida, dentro de si.
Damaceno percebe que a filha ainda respira. A moça está com a respiração fraca.
— Ele não vai ficar fora do seu corpo. Essa aberração vai para o inferno com você. — O pai junta o feto ao corpo da mãe, sua filha.
Damaceno vai até a cozinha pegar uma jarra com água, coloca num copo de vidro escrito "Coca Cola", liga o som e senta-se no sofá.
Quando ele acorda, a filha ainda respira com dificuldades. Ele olha em sua volta.
Há um quadro na parede, com oitenta centímetros de altura por um metro e vinte de largura. Moldura clássica.
Na tela tem a pintura de uma mulher camponesa, caminhando por um campo de centeios, lendo um livro e segurando uma sombrinha nas cores exatamente perfiladas: vermelha, rosa, azul e amarelo ouro.
— Eu preciso que você venha aqui! — Damaceno desliga o celular e olha para o corpo da filha.
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MULHER EMPAREDADA (ONE-SHOT) - LANÇADO 29/03/2019. +18 Anos
Short StoryConto ONE SHOT - Vencedor da 4 Edição do Concurso @TerrorLP com o tema: A maldade Feminina. Essa história de Terror é baseada numa das lendas mais conhecidas no cenário pernambucano. Leia no escuro ou vire o quadro. O Crime verídico que criou a l...