Lembro-me perfeitamente do dia em que tudo começou. Essa é uma das lembranças nas quais faço questão de guardar.
Era um dia normal, uma sexta para ser mais exato, todos na casa estavam extremamente animados para um evento que que aconteceria durante a noite, era um eclipse, aquele maldito eclipse.
Naquele dia eu estava extremamente nervoso, seria exatamente naquele dia que eu iria pedir meu namorado em casamento após quatro anos de namoro. Eu nunca pude pedi-lo e temo não poder também.
Tento ser otimista, tento pensar que ele foi encontrado por um grupo de sobreviventes e que está vivo, mas no fundo de meu âmago eu sei que nada está bem. Ninguém será salvo, todos estão aqui com o único objetivo de morrer por essas criaturas que dominaram a terra.
Segundo meus cálculos já fazem mais ou menos um mês que estou confinado em meu apartamento. Antes eu poderia sair e exercitar meu cérebro mas agora, machucado, está tudo mais difícil.
Esse silêncio infernal está me matando aos poucos junto a dor da fome e da perna quebrada. A comida acabou a dois dia e a água também. Não existem locais próximos para que eu possa pegar mantimentos. O que me resta é apenas ser tomado pela loucura.
É deprimente dizer que nesse momento a inconsciência é uma das únicas coisas que me acalmam e o delírio é algo que eu estou aprendendo a amar. Posso ouvir minha mãe me chamando, meu namorado dizendo que me ama, meus irmãos rindo como sempre e meu pai me encorajando a segui-los.
Pensando bem, porque ainda estou aqui? Porque ainda insisto em me manter vivo? Não tem porquê continuar.
Pego minha pistola, a mesma que usei para acabar com o sofrimento da minha família e com um simples puxar de gatilho um som alto reverbera por todo o silêncio o cortando por completo.
Paz, finalmente a encontrei após 365 dias no inferno.