244 Dias

Primeiro

Tinha tudo para ser mais uma sexta feira comum, passei o dia no hospital, fiz as escalas de folgas dos colaboradores, alguns procedimentos corriqueiros e no caminho pra casa fiquei pensando em motivos para não sair com as amigas - com a oitava temporada de Suits na Netflix, sair de casa não era uma opção. Como não havia encontrado uma desculpa aceitável, decidi tomar um banho, passar uma maquiagem e um vestido azul florido com um decote sendo camuflado por um laço.
Quando estava pegando minha bolsa, meu pai decide barrar minha saída sem argumento algum - que por muitas vezes sou obrigada a engolir devido ao transtorno bipolar que ele desenvolveu após o câncer na cabeça e insiste em não tratar. O problema disso tudo é que ele me atinge, me deixa mal e naquele dia em especial eu estava extremamente vulnerável, o que me fez desmoronar.
Em meio às lágrimas, pensei em tomar um banho, tirar aquela roupa e decidir o que faria com o resto da noite - além de chorar, claro.
São nesses momentos em que perco o controle da minha vida, que todas minhas inseguranças e medos vem a tona, e nesse momento foi quando pensei quais eram os critérios para chegar ao ápice do desespero.
Não queria ligar para ninguém, não queria o apoio da minha mãe - que sempre passa a mão na cabeça do meu pai e as loucuras dele - mas eu precisava botar para fora de alguma forma.
O bom da Internet nesse ponto é o anonimato e instalar um aplicativo de ajuda mútua, em meio a lágrimas e o meu desespero pareceu uma ótima ideia. Já conhecia o aplicativo, meu terapeuta indicou para os momentos em que eu me visse em desespero e não quisesse compartilhar com ninguém conhecido.
No app tem de tudo um pouco, de pessoas que fazem piadas, pessoas que buscam fins sexuais, pessoas que realmente precisam desabafar e uma postagem em especial, uma pessoa oferecendo-se a ajudar quem necessitava de apoio.
Talvez na minha vergonha de falar com alguma amiga ou com o namorado sobre o acontecido com meus pais, decidi chamar essa pessoa "bem intencionada" e, porque não?!