Capítulo 1

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Todos os dias eram a mesma coisa. Acordar as seis horas da manhã, ir para a escola, tentar não dormir ou se perder na troca de classe, ir para o cursinho, voltar para a casa, ouvir sua mãe reclamar de alguma das vizinhas e ir dormir com os ouvidos doendo de tanto a escutar falar. E assim, começar tudo novamente. Nunca acontecia nada de diferente em sua vida. Na verdade, a unica coisa que ainda a animava era esperar os episódios dos Kdramas que acompanhava serem lançados. Aquele dia tinha tudo para ser apenas mais um, tendo apenas como diferencial, se comparado aos outros dias da semana, o fato de que ao chegar em casa iria ver o novo episodio de Touch your Food com sua irmã mais velha e com sua mãe.-Acorda! - Falou Sun Mi, puxando o cobertor rosa pink felpudo de Sun Hee. - Já são seis e meia, você vai perder o ônibus! - Ela saiu do quarto, fechando a porta com muita força.Sun Hee abriu os olhos e se sentou na cama, ainda um pouco tonta e sem saber aonde estava, procurou seu celular por entre o cobertor. Ao ligar a tela teve a surpresa de descobrir que ainda era 05:45. Ela queria berrar com Sun Mi, reclamar do fato de que tinha lhe acordado quinze minutos mais cedo, mas estava sem forças e resolveu ir se vestir logo para ir para a escola. Andou até a janela do quarto e abriu um pouquinho a janela, olhando para a casa da frente. É uma casa de dois andares, muito grande para os padrões do bairro e com um jardim abandonado. Sun Hee suspirou e fechou a cortina, indo contra sua vontade até o banheiro, para lavar o rosto. Ao levanto o rosto, deu de cara com seu reflexo no espelho, lhe mostrando uma linda espinha bem na ponta do nariz. -Ótimo, vou passar o dia parecendo o Rudolf, a rena do nariz vermelho... - Disse para si mesma, com uma voz muito mal humorada. Ao abrir a porta deu de cara com sua mãe, que havia trabalhado no plantão noturno do hospital municipal e havia chego a alguns minutos. Seu rosto estava cheio de marcas de expressão e seu andar é cansado.

-Bom dia. - Disse sua mãe, arrastando as pantufas de lhama até o quarto com um pacote de bolacha sem recheio e um copo grande de café. Do quarto se ouvia o jornal matinal noticiando mais um assassinato. Sun Hee suspirou e sorriu para a mãe. Todas as manhãs são do mesmo jeito. Elas nunca chegam a trocar mais de duas palavras. O único momento em que as duas tem algum tipo de dialogo é quando estão falando sobre algo que está passando na TV. Fora isso, sua mãe não chega a ser muito comunicativa. Não com ela, pelo menos.

Sun Hee é a irmã do meio, e com muita tristeza lhe afirmo que os boatos são verdadeiros. Infelizmente os filhos do meio são os esquecidos. Foram varias as vezes que a pobre garota havia se sentido extremamente descartável se comparada com suas irmãs. Sun Mi era bonita, inteligente e muito responsável. Já Sun Hwa era fofa, engraçada e ainda estava naquela fase do qual tem seus desenhos pendurados pela casa, não importa quão feio sejam. Já Sun Hee...não tinha nada de especial ao olhar de sua família.

Na geladeira se encontrava alguns pedaços de pizza da noite passada e um pão que havia vencido a uns três dias. Sua barriga fez um barulho alto ao ver as opções e, apesar da tentação em comer alguma daquelas deliciosas alternativas, ela decidiu deixar para comer no intervalo. E assim, voltou para o quarto se vestir e esperar o horário do seu ônibus. A escola não ficava muito longe de seu bairro. Na verdade, era apenas uns 15 minutos de carro e 30 andando.

Sua melhor amiga, Dong Yul, estava lhe esperando ao lado do portão da escola. Ela usava um fone de ouvido que ganhou a uns dois anos em uma promoção do fanclub que participava. Ela havia ganho na categoria fã mais dedicada do mês, então o usava todos os dias esperando que alguém, em algum momento, perguntasse onde que o conseguiu. Porem, isso raramente acontecia já que as pessoas focavam primeiro na quantidade absurda de remendos que o fone tinha.

-Fez o trabalho de geografia? - Perguntou Dong Yul enquanto tirava o fone de ouvido. Até quem estava longe delas podia ouvir a música que estava tocando. Talvez fosse para combinar com os fones, mas ela sempre parecia estar escutando Exo. Porem, Sun Hee nunca ousou lhe fazer uma pergunta como essa, já que sabia que a amiga nunca iria parar de falar e talvez ela não estivesse preparada para isso.
-Trabalho? Que trabalho? - Sun Hee levou um susto e seu coração começou a bater mais forte.
-Ele passou esse trabalho a duas semanas!
-Mas eu não sabia dele! - Ela colocou a mão no cabelo e tentou se lembrar sobre o que era o trabalho. - Por que você não me falou antes?
-Eu falei! Semana passada!
-Não falou não! - Sun Hee se sentou no chão, de costas para a parede, e começou a procurar seu caderno na mochila mas tudo o que encontrava era bolinhas de papel e sujeira de bala. - Nossa, que nojo! Eu preciso limpar isso! - Então, ela encontrou um pacote de chiclete já derretido. - Será que isso aqui ainda é comestível?
- Provavelmente não. - Disse Dong Yul pegando o pacote da mão de Sun Hee e antes de joga-lo no lixo, parou e olhou para a amiga. - Sun Hee...você pretendia mesmo comer isso aqui? Era brincadeira, né? - Perguntou, um pouco preocupada. Porem, a garota não lhe ouviu e ela resolveu se livrar daquilo logo. - Eu falei desse trabalho na semana passada e você me disse que ainda dava tempo então não ia fazer.
- Blasfêmia! Como pode minha melhor amiga mentir dessa forma? Eu nunca fiz isso!
- Você sempre faz isso...
-Achei! - Disse Sun Hee animada tirando o caderno todo amaçado da mochila. Ela abriu na matéria e olhou para Dong Yul com um sorriso muito forçado e grande. - Deixa eu copiar o teu trabalho? - Dong Yul lhe olhou bem seria e não respondeu. - Por favor! É a última vez!
-Você já está me dizendo isso desde a primeira série! - Ela tirou o caderno bem organizado da mochila e entregou para a amiga que lhe mandou beijinhos e correu para dentro da escola.
Todos os alunos haviam resolvido se sentar no refeitório, mas por sorte das duas a biblioteca havia aberto mais cedo naquele dia. A bibliotecária não era uma das mais amigáveis, porém, dependendo do assunto ela não parava de falar. Só havia uma pessoa na biblioteca e as duas tentaram não fazer nenhum barulho mas a cadeira enferrujada da escola que estava caindo aos pedaços queria chamar atenção naquela manhã. A bibliotecária tirou os óculos lentamente e ficou com o olhar fixo nas duas por um tempo que parecia interminável e depois disso até o som do lápis no caderno pareceu alto demais.

O garoto dos meus sonhosWhere stories live. Discover now