Um relato para começar... De arrepiar!

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Havia um indivíduo, Fábio Teixeira de seu nome, que vivia do que era dos outros... Ou melhor, vivia do que roubava aos outros! Ninguém se podia descuidar nem um segundo se ele estivesse por perto: se uma casa estivesse com a porta aberta sem ninguém lá dentro, ele entrava lá e tirava tudo o que era de valor (dinheiro, jóias, eletrodomésticos, etc) que pudesse levar enquanto o Diabo esfregava um olho; se uma pessoa se distraísse num café, ele bebia o café dela num só trago e ia-se embora sem o pagar; se um carro estivesse destrancado com uma carteira no porta-luvas que contivesse 70 € enquanto o condutor dormia uma sesta em casa, ele levava a carteira, tirava o dinheiro e atirava a carteira com os documentos do dono para um silvado; e ficaríamos aqui a enumerar tudo o que o Fábio Teixeira fazia no seu expediente se quiséssemos! Devia o grande sucesso que tinha como ladrão à sua enorme perícia criminal, mas também ao facto do destacamento da GNR da terra dele não o prender, não se sabe se por falta de meios, incompetência extrema, preguiça pura ou mistura de pelo menos duas das hipóteses anteriores, porque furtivo não era propriamente – toda a gente sabia o que fazia, por onde andava e onde vivia. E também pode-se dizer que toda a gente o temia!

Então, um dia, o nosso amigo (do alheio) Fábio Teixeira resolveu visitar uma terra nos subúrbios da capital, pensando que teria mais oportunidades para exercer a sua «profissão» e, por consequência, resultados mais avultados numa área (sub)urbana do que numa área rural. Só que, «coitado», teve muito azar nesse dia, e correu-lhe tudo mal! Para começar, à primeira oportunidade que viu para rapinar tentou levar a bolsa de uma velhota sentada num banco de jardim, mas esta apercebeu-se a tempo do que tencionava fazer, e a reação dela não se fez esperar.

- Socorro, acudam!! Agarra que é ladrão!! – berrou a velhota com uma voz esganiçada que se ouvia por toda a freguesia enquanto batia no Fábio com a mesma bolsa que ele tentou roubar! O Fábio começou logo a fugir, mas teve de redobrar a velocidade da fuga até ao carro dele porque, caraças, a velhota corria bem e batia-lhe com força!!

Depois a divisão da PSP daquela terra mostrou-se muito menos inoperante do que a polícia da terra dele: chegou rapidamente ao local do delito frustrado após ser chamada, e logo depois de recolhidas as informações da velhota e das testemunhas, alertadas pelo berreiro que ela fez, lançou-se em perseguição com todos os meios possíveis ao Fábio, que já estava a fugir de carro. E assim durante horas correu pela área uma perseguição policial em alto estilo – ou melhor, em alta velocidade! –, parecida às que se vêm nos filmes, até que pouco antes da meia-noite o Fábio deixou o carro numa zona erma da área e nela se embrenhou, esperando esconder-se na vegetação densa dessa zona. Só não esperava encontrar aí algo fora do normal... E muito menos sabia o que lhe estava prestes a acontecer!

Já era meia-noite, e o Fábio seguia a correr um caminho por um arvoredo baixo adentro que avistava graças ao luar que alumiava o trilho por entre a ramagem severa. Estava cansado de horas e horas a ser perseguido pela polícia e nervosamente alerta do que o rodeava, tal como uma presa acossada pelo medo de ser apanhada por um predador num sítio desconhecido. Mas não tirava um objetivo da cabeça: escapar à polícia. De repente, ouviu uma restolhada que o arrepiou e o fez virar para o lado direito, para uma abertura entre as copas baixas de duas árvores. E mais arrepiado ficou ainda quando viu surgir daí uma pequena figura.

- O que é isto?!? Quem está aí?!? – gritou o Fábio, tolhido do medo pela inesperada figura desconhecida. Então essa figura lentamente saiu das sombras das copas e aproximou-se, revelando-se à revelando-se à luz da noite.

Parecia uma menina pequena. Vestia um casaco branco que lhe cobria os pés com mangas compridas pretas, uma cauda branca com dois anéis negros a arrastar pelo chão e um carapuço branco do qual saíam duas orelhas de gato negras. Tinha quatro dedos em cada mão e cabelo curto castanho. Dois grandes olhos pretos e um sorriso de gato podiam ser vistos no seu rosto expressivo. Foi com esses olhos que fitou o Fábio enquanto se acercava. Então, sem deixar de o olhar, da sua boca, que não abriu, saiu um som:

Ao Encontro dos MedosOnde histórias criam vida. Descubra agora