Histórias Sem Data
Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Publicado originalmente pela Editora Garnier, Rio de Janeiro, 1884.
ÍNDICE
ADVERTÊNCIA DA 1ª EDIÇÃO
A IGREJA DO DIABO
O LAPSO
ÚLTIMO CAPÍTULO
CANTIGA DE ESPONSAIS
SINGULAR OCORRÊNCIA
GALERIA PÓSTUMA
CAPÍTULO DOS CHAPÉUS
CONTO ALEXANDRINO
PRIMAS DE SAPUCAIA!
UMA SENHORA
ANEDOTA PECUNIÁRIA
FULANO
A SEGUNDA VIDA
NOITE DE ALMIRANTE
MANUSCRITO DE UM SACRISTÃO
EX CATHEDRA
A SENHORA DO GALVÃO
AS ACADEMIAS DE SIÃO
ADVERTÊNCIA DA 1a EDIÇÃO
De todos os contos que aqui se acham há dois que efetivamente não levam data
expressa; os outros a têm, de maneira que este título Histórias sem Data parecerá
a alguns ininteligível, ou vago. Supondo, porém, que o meu fim é definir estas
páginas como tratando, em substância, de coisas que não são especialmente do
dia, ou de um certo dia, penso que o título está explicado. E é o pior que lhe pode
acontecer, pois o melhor dos títulos é ainda aquele que não precisa de explicação.
M. de A.
A IGREJA DO DIABO
ÍNDICE
CAPÍTULO PRIMEIRO
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO PRIMEIRO
DE UMA IDÉIA MIRÍFICA
Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de
fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se
humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem
regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos
remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada
regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz
de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra
breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas,
bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo