Quando a Emergência do Hospital recebeu uma ligação informando que você tinha se acidentado, Strange, eu entrei em choque. "Não pode ser", eu dizia. Por fora, eu estava impassível, ninguém diria que eu ainda sentia algo por você, mas por dentro eu me desesperava, imaginava em que estado você estava e escondia a preocupação e o medo de ser algo muito grave. Eu fiz questão de te recepcionar na entrada da Emergência, queria que visse um rosto amigo naquele momento tão assustador, mas o que vi em você me abalou: olhos inchados, mãos enfaixadas, corpo desforme e desfalecido na maca da Ambulância.
Acho que nunca terei coragem de te dizer isso, mas o que vi naquele dia fez eu me arrepender da decisão de não ter ido com você àquele jantar na sociedade de neurocientistas. Mas veja, eu não podia! Não depois de tudo o que aconteceu entre nós. Fico dividida, me perguntando se a minha ida ao jantar teria feito alguma diferença, se você não teria se acidentado se eu estivesse com você. Eu sei, isso é meio narcisista, eu sei, eu sei. Como se eu tivesse o poder de evitar tragédias... mas talvez eu tenha e talvez a minha ida ao jantar impedisse o seu acidente. Nunca saberei... mas naquele momento eu não podia dizer sim a você, entenda. A forma como o nosso relacionamento terminou me destruiu, Strange, me destruiu, eu te dei o meu melhor, eu te dei a minha alma, mas você respondeu aos meus presentes daquele jeito. Aquilo me destruiu.
Eu não podia ter ido ao jantar com você, mas queria ter ido. Você talvez não estaria nessa cama, com inúmeros pinos nas mãos, triste e pessimista com a jornada que virá. Eu fico triste por você, com você, me dói te ver desse jeito, nessa cama, abandonado, desolado. Eu sento diante de você, nessa noite chuvosa, triste e com o coração partido por te ver desse jeito. Mas, ao mesmo tempo, eu me encho de alegria por te ver vivo e respirando, por te ouvir roncar mesmo sob uma tonelada de sedativos... QUE BOM QUE VOCÊ ESTÁ VIVO, STEPHEN!!!!!!
Quando eu soube que você tinha se acidentado, eu pensei o pior, eu confesso. Mas te ver vivo é bom demais. Nessas últimas horas eu fiquei cheia de nostalgia, lembrando dos nossos momentos juntos. As boas lembranças são poucas, mas são tão fortes e inesquecíveis...
Hoje cedo, enquanto eu aproveitava a sua boa vontade e fazia a sua barba, eu não pude não lembrar daquele dia na piscina do hotel, quando você me embalou em seus braços e me tirou pra dançar ao som de "I Met A Little Girl". Ainda lembro da sua voz no meu ouvido, cantarolando "And you're so sweet to me; don't think I'll ever roam..." O cheiro da sua loção pós-barba ficou grudada no meu roupão naquele dia, o mesmo cheiro que eu senti hoje em minhas mãos depois que finalizei a sua barba...
Sinto falta de nós, Stephen... Nunca te admitirei isso pessoalmente, mas é isso, eu sinto falta de nós. Sinto falta dos seus discos, dos seus chás, de deitar contigo na banheira e medir o tamanho de nossas pernas enquanto nos abraçamos com elas... Nossos bons momentos foram poucos, mas, como disse, foram inesquecíveis. Eu te olho nessa cama, calmo em seu sono, e penso na sorte que eu tive de dividir esses momentos com você. Mas penso no azar também que eu tive, por ter te conhecido justamente quando o seu narcisismo estava no ápice. Não me arrependo de ter ido embora e de ter caminhado para longe de nós, me arrependo de não ter feito isso antes.
Nunca saberei se a minha ida àquele jantar teria evitado o seu acidente, mas gosto de pensar que sim, que eu poderia ter feito algo de diferente pra você. Eu me culpo, veja, mesmo sabendo que a culpa de fato não é minha. Acho que é porque eu ainda gosto de você, Stephen. São coisas que a gente pensa quando acha que é importante para alguém...
Eu às vezes me pego imaginando se você ainda pensa em mim ou se você alguma vez pensou em mim depois que eu fui embora. Olho pra você, mas não obtenho nenhuma resposta... Faz tempo desde a última vez que eu te vi dormir. Como as coisas mudaram, Stephen... Queria que elas fossem iguais para sempre.
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Cartas a um Estranho
FanfictionChristine Palmer tem dificuldades para confiar os seus sentimentos às pessoas, por isso escreve, escreve, escreve. Mas desde o seu fim abrupto, mas necessário, com Stephen Strange, Christine só consegue ter inspiração para escrever sobre um assunto:...