Capítulo único

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Abaixo-me o suficiente para poder ficar na altura da cama de madeira, já em estado decadente, puxo uma pequena maleta que eu guardava ali há algum tempo, eu sabia que seria bom guardar tudo para esse momento.

Bem, antes que muitos curiosos perguntem, meu nome é Lois, meu sobrenome não vos interessa aqui, bom, pelo menos não agora. E eu decidi sair de casa, depois de dois anos sendo reprimida, não, caro leitor, não sou homossexual, não tenho uma falsa identidade de gênero e muito menos escolhi uma paixão a qual não posso ter. Apenas estou cansada de ter de seguir uma imagem que não serve pra mim, não nasci para ser duquesa, eu apenas sou predestinada a isso.

A pequena mala que tenho em mãos, tem tudo que irei precisar nos primeiros dias, até eu conseguir algum emprego ou qualquer forma de conseguir dinheiro. Eu amo meus pais, afinal, eles são tudo o que eu tenho, mas eu escolhi ser livre, e é isso que vou fazer.

Não depender de ninguém, não exigir de ninguém, não ter que fingir que sou superior à alguém, não ter que ouvir sermão de alguém por não poder escolher outro caminho, isso sim é o que eu mais almejo.

A liberdade.

Tudo começou há alguns anos, quando conheci um menino, nunca senti atração ou algo assim, mas ele me chamou atenção. Ele sempre saía para a floresta que fica a alguns metros de casa - nossa casa não é das maiores, ela é amarela e de tamanho mediano -, ele conseguia atrair minha curiosidade, afinal eu sempre gostei daquilo que não poderia alcançar.

Mas eu sempre me sacrifico por tudo o que eu quero.

Eu lembro que eu o segui, durante uma das suas jornadas malucas, quando tive oportunidade escapei de alguma das aulas chatas de etiqueta que tive - eu sempre detestei aulas de etiqueta - e consegui seguir o garoto até uma pequena clareira que tinha por ali.

E foi ali que eu senti o primeiro degustar da liberdade, a primeira brisa que fez tudo à minha volta mudar. Até o garoto me chamar.

"Garota, o que você 'tá fazendo aqui?" Eu ouvi a voz infantil e calma do garoto soar pelos meus ouvidos.

"Eu 'tô querendo fazer algo diferente! Algo que eu não fiz." Eu falei, abrindo meus olhos e o olhando, os olhos escuros do castanho me encaravam.

Assim ele se virou, olhando o sol brilhar, ambos nos sentamos na grama, apenas olhando o degradê de cores quentes no céu, com várias nuvens ocupando seu vasto espaço. Aquilo era bonito, aquilo trazia paz.

As próximas vezes, eu já havia conversado com o garoto, nos conhecíamos mas nunca falamos nossos nomes, era algo que nunca foi necessário, eu o chamava de garoto e ele me chamava de garota, funcionava bem, já que ambos tínhamos apenas 10 anos na época, aquilo não importaria tanto.

Até ele me falar sobre um lugar, o paraíso, o lugar em que eu poderia ser como eu sempre desejei ser, aonde todos eram iguais, sem julgar as dores do outro, simplesmente se chamavam por nomes, algumas vezes falsos, ou não, nunca saberiam e isso não importaria.

A questão X é: é pra lá que eu quero ir, assim como o garoto, que agora tem a mesma idade que eu, quase 16.

(...)

Eu saio do banho, parece que fiquei ainda mais tensa e triste depois dessa ducha. Minha mente pesa, meus hormônios gritam para que eu vá, minha mente quer apenas sentar e conversar com minha mãe, meu pai, com Judite, até com Jorge, meu jardineiro. Minha mente está uma bagunça, assim como meu quarto, puta merda que quarto bagunçado.

Levanto da ponta da cama, coloco a mala em cima da poltrona, eu decidi, vou e não irei voltar atrás com a decisão. Eu sempre quis ser livre, não? Qual o problema de desejar a felicidade egoísta, apenas uma vez? Posso me cuidar sozinha, já tenho quase dezesseis!

BUSCANDO A LIBERDADE (CAPÍTULO ÚNICO)Onde histórias criam vida. Descubra agora