HanSol Vernon

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Ele se olhou no espelho pela quinquagésima vez em, tipo, dez minutos.

Era impressionante como, não importasse o tempo que passasse, ele continuava não achando-se bonito o suficiente. Não que estivesse, sei lá, preocupado com padrões de beleza – longe disso. Se tinha uma coisa que jamais o preocuparia seria o tal do "padrão de beleza" da sociedade em que estava inserido.

Nah, não tinha nada disso. Ele não se sentia bonito o suficiente para si mesmo, o que, com toda certeza, era muito mais complicado de se resolver do que se fosse para os outros. No fundo, ele sabia que deveria se sentir bonito. Analisava seu corpo, nu, na frente do espelho, e cada vez mais, se dava conta de que, se fosse em outra pessoa, acharia a mais bela das obras de arte existentes no planeta. Então qual era o problema?

Seus amigos o amavam. Eles estavam lá quando o garoto havia precisado. Droga, seu melhor amigo o amava tanto que havia se declarado algumas semanas atrás, e ele não sabia o que responder, embora não tenha precisado, pois a explosão em seu peito quando os lábios de Choi SeungCheol tocaram os seus, respondeu em seu lugar. E, sério, ele havia prometido a SeungCheol que tentaria enfiar na sua cabeça que era bom o suficiente, mas simplesmente não conseguia entender por quê o dono dos fios acinzentados o achava tão maravilhoso.

Ele repetia isso para o garoto diariamente, quase. Toda vez que seus dedos grandes deslizavam por entre a mão menor, ele soltava um "você é tão perfeito" sussurrado ao pé do ouvido, que fazia o ligeiramente mais baixo sorrir envergonhado e esconder suas mãos juntas atrás do corpo. Ainda não estava acostumado com a ideia de que alguém estava realmente apaixonado e disposto a fazê-lo entender, finalmente, que era bonito independente dos seus conflitos. É que quando estavam juntos, era fácil. Era fácil se sentir amado, lindo e suficiente quando os lábios do mais velho deslizavam pela sua pele o enchendo de beijos, e era mais fácil ainda quando seus lábios encontravam os dele, e suas mãos apertavam sua cintura, e sua voz rouca sussurrava mil juras de amor que apenas ele podia ouvir.

Difícil mesmo era quando estava sozinho. Quando SeungCheol e seus outros amigos o deixavam na porta de casa após a escola, e ele sentia o olhar decepcionado da sua mãe pesando em suas costas até que o menino desaparecesse pelo corredor. Difícil mesmo era quando evitava se olhar no espelho quando entrava no banheiro para se lavar, e praticamente impossível quando se observava nu após o banho, diante do seu reflexo, como estava agora.

Um suspiro. As imagens patéticas dele mesmo, sentado no chão do box, com a ducha lhe caindo sobre as costas enquanto chorava copiosamente, lhe passavam pela cabeça. Nem sabia dizer se aquela memória era de minutos atrás ou de qualquer outro dia. A situação era a mesma diariamente, de todo modo. E ele se odiava.

Você nunca vai ser bom o suficiente. De que adianta? Todo esse esforço.. – Murmurou, baixando o olhar para os seus braços. As marcas de canetinha que seus amigos haviam deixado já tinham sumido, e só lhe restavam as linhas avermelhadas da pele que começava a cicatrizar. Tinha que ser sincero; embora não conseguisse deixar o velho hábito pra trás, ainda achava mais bonito quando seus braços estavam decorados pelas diversas borboletas coloridas que seus amigos desenhavam pela derme, em busca de oferecer alguma ajuda, algum conforto para quando chegasse em casa.

É. Ele amava muito seus amigos. Amava muito SeungCheol. Amava muito SeungKwan, JunHui, SoonYoung, JiHoon, MingHao, e todos os outros que o acompanhavam sempre, na escola, na aula de dança, na internet. Eram seus doze amigos, os melhores amigos do mundo, e ele amava muito todos eles. Um dos seus maiores sonhos era que, um dia, todos se encontrassem em algum lugar para passarem um tempo juntos. Porque, definitivamente, os amava muito. Ele só não amava muito a si mesmo...

Desceu o olhar para a brilhante prata que enfeitava sua mão direita. Dividida em duas. Uma, em seu mindinho, e a outra, em seu anelar. O primeiro anel, havia sido um presente, desenhado por ele mesmo, para todos os seus doze amigos. Independente de onde estavam, se não se conheciam, todos eles possuíam um anel igual. E o outro.. SeungCheol. Havia recebido o presente naquela manhã.

vercheol; 「espelho, espelho meu 」Onde histórias criam vida. Descubra agora