1

32 5 1
                                    

Há um lugar que talvez se encontre nos confins do universo, mas que também pode se encontrar no fim de um arco-íris, dentro de um relâmpago, nos anéis de saturno, no meio das nuvens ou ali perto de Piracicaba. Com isso, quero dizer que não faço a mínima ideia de onde fica este lugar, mas sei, que está lá.

É o lugar para onde as histórias de amor vão parar.

Lá, todas as histórias, são catalogadas e contadas em milhões, bilhões e quatrilhões de livros, espalhados aleatoriamente em milhões, bilhões e quatrilhões de estantes, prateleiras e criados mudos. Não estão em ordem alfabética ou em ordem alguma.

As estantes são enormes, tanto para os lados, quanto para cima e para baixo. Para alcançar os livros mais altos, é necessário usar as escadas, daquelas que são presas nas estantes e possuem rodinhas.

Ao contrário das bibliotecas normais, onde o silêncio é exigido, ali, ele não era importante, dando lugar a uma sucessiva corrente de músicas melosas, às vezes tristes e outras vezes alegres.

Nesse exato momento em que você lê, a dona deste magnífico e cafona acervo de histórias de amor, trocava a música triste em sua vitrola por uma que começava com um "Hey!" e seguia com uma batida leve e extrovertida, do tipo que iria te sacudir até o sangue ferver e um sorriso inexplicável explodir no meio de sua cara.

Em meio ao labirinto que eram os corredores, as luzes dos lustres que se espalhavam por todos eles, aumentaram espontaneamente e pequenos flocos de luz, que pareciam neve incandescente ou até pequeninos pedaços da lua, se desprendem deles, encontrando seus lugares no ar.

A dona do lugar dançava enquanto andava com suas mãos passando pelas lombadas dos livros de algumas estantes: "Os lábios de Beatriz", "Os olhos castanhos aonde eu me perdi", "O primeiro oi que lhe dei", Eu me apaixonei quando seu cachorro me mordeu (por você, não pelo cachorro)", "O seu pai me odeia, mas eu amo você", "Eu nunca te vi, mas meu coração por ti bate", "O seu pai continua me odiando, mas eu ainda continuo amando você", "Garotas são mais complicadas que física quântica", "Eu não consigo comer quando estou ansioso, mas com você vou até o fim do mundo", "Esqueci de passar desodorante e espero que ela não perceba".

Ela dançava o tipo de dança que quando você vê alguém dançando, sente vergonha por ela. E ela não se importava. Não sei se pelo fato de estar sozinha ou por realmente não se importar. E mesmo que você sentisse vergonha por ela, também sentiria uma pontinha de inveja, por ela se sentir tão bem, tão livre e sem desprendimentos.

Tão baixa e desengonçada, se movendo para lá e para cá! Se eu não soubesse que ela estava dançando, já teria chamado uma ambulância.

Quero descrever como ela é, mas isso é dificil quando se tem apenas um borrão rosa se mexendo. Ela parece ter bastante energia. Epa! Alguém precisa de fôlego! Até colocou as mãos nos joelhos! Lá vamos nós!

Suas roupas eram uma confusão de cores. Usava tênis, cada pé de uma cor: o direito era verde e o esquerdo era azul. As calças, eram jeans bem justos e cheio de retalhos costurados de todas as cores possíveis. O cinto, era repleto de glitter e lantejoulas e a fivela era uma panda sorridente com pequenos corações nos olhos.

A camiseta de um vermelho desbotado, era curta e deixava o umbigo à mostra e a estampa era um alpinista espetando uma bandeira no pico de uma montanha, na flâmula, um coração e abaixo de estampa, em inglês estava escrito "No mountain high enough!". E havia também seu incrível sobretudo rosa, além de seus inúmeros colares e penduricalhos que balançavam a cada movimento dela.

E claro, seus cabelos. Um emaranhado de fios da mesma cor do sobretudo: o rosa chamativo que você veria a quilômetros de distância, curtos e com três longas mechas trançadas.

O nome dela é Ally, ou melhor, Afrodite, afinal ela é o cupido.

Quando acabava de acordar, o que Afrodite mais gostava de fazer, era colocar uma música feliz, deixar ela entrar em suas veias e começar a dançar feito uma louca, enquanto procurava novos livros.

Afrodite lia numa velocidade bem rápida, principalmente se a história a cativasse. Ela adorava as histórias de amor que tinham um final feliz, mas é difícil encontrar uma assim, pois a vida continuava. Contos de fada só terminam felizes, porque a história para de ser contada ali. Essa coisa que chamam de amor é um negócio complicado.

O amor é uma coisa no universo que torna todos que o sentem, um bando de babacas de sorriso fácil que suspi- ram para lá e para cá com o coração dentro de uma caixa embrulhada para presente. Ele é complicado, frá- gil, doce, amargo, ridículo, brega, ca- fona e, às vezes, ele é triste.

Em sua coleção, Afrodite havia lido todo tipo de história, com todo tipo de declaração de amor. Desde as mais grandiosas, feitas em shows com milhares de pessoas vendo, ou até as mais simples e singelas, como um simples segurar de mãos ao cair da tarde.

Também havia as que não terminavam bem. Aonde existia um fim e ele era azedo e salgado.

Havia uma seção reservada somente para essas histórias. A seção mais fria, escura, solitária e repleta de dor.

A seção dos corações partidos. Tão grande quanto o resto da biblioteca.

E infelizmente foi um livro dessa seção que Afrodite encontrou pri- meiro. Esse tipo de livro, era trazido pela maré de água salgada e largado à deriva no chão da biblioteca.

lsso era triste, significava que algum dos livros que ela leu e aparente- mente era feliz, havia encontrado um fim ali. Era mais pesado do que parecia, ela precisou de um pouco mais de força para pegá-lo do chão. O título era "Quando ela se foi, deixou a porta aberta", as páginas estavam amarelas, soltas e algumas até se es- farelavam. Cheirava a mofo e ressen- timento.

Aquilo mexeu com o humor de Afrodite. Ela havia parado de dançar e havia se virado para voltar. Iria mudar a música, mas seus olhos não deixaram, mostrando um outro livro sendo trazido por várias borboletas azuis, descendo até ela.

Ela deu alguns passos e esperou com uma das mãos abertas, o momento em que as borboletas deixassem o livro cair. Era leve e com apenas algumas páginas. Sua capa era uma garota usando uma capa de chuva amarela olhando para uma moça bem longe dela.

Afrodite leu o título. Ao abri-lo sentiu o perfume adocicado levado por uma leve brisa agradável. As páginas eram delicadas, tão fáceis de se rasgarem. Histórias como aquela deveriam ser lidas com muito cuidado. É assim que elas começam. Outra música começou a tocar e ela sorriu. Pôs o outro livro dentro de seu sobretudo e começou a ler o da menina da capa de chuva amarela imediatamente.

About Love {Camren Fanfic}Onde histórias criam vida. Descubra agora