O estranho dos meus devaneios (Nossos estranhos #2)

1 - Sonhos recorrentes

Três noites seguidas tendo o mesmo sonho que me fazia acordar suada e excitada. Pelo menos naquele dia já era quase manhã, então ao invés de tentar voltar a dormir, eu apenas levantei e me joguei embaixo do chuveiro com a água fria. Precisava arrumar alguém para saciar minhas necessidades, afinal aqueles sonhos já começavam a me irritar.

Pensei no homem misterioso dos meus devaneios, aquele rosto, aquele olhar duro e certeiro. Uma vez tinha lido que não podemos sonhar com pessoas que nunca vimos, que o nosso cérebro é incapaz de criar fisionomias, ou algo assim, mas como eu poderia já ter visto aquele homem e não me lembrar? Ele tinha algo que me fazia estremecer só de relembrar a forma como me olhava. Além da voz pronunciando meu nome com uma intensidade desconcertante.

De onde eu o conhecia? E por que sonhava com ele de maneira tão erótica por três noites?

Meus pensamentos rodavam sem chegarem a qualquer conclusão. Terminei de lavar os cabelos, ensaboei-me com meu sabonete líquido preferido e deixei que a água fria me despertasse.

Quando saí do banho, olhei para o meu reflexo no espelho e vi como estava exausta. Precisava parar de algum jeito, mas as coisas na editora estavam a todo vapor, especialmente depois da Feira de Livros de Berlim, em que eu havia feito inúmeros contatos e intermediado a tradução do livro do Túlio com uma editora espanhola.

Depois passei um tempo a mais na Europa para tentar descansar e ficar um pouco fora do alcance de Marcelo, que continuou tentando me encontrar a todo custo. Ao menos quando fiquei fora do país, tornei impossível que ele fosse até mim. Porém sua insistência continuou por todo aquele último mês. O que me deixava irritada e ligeiramente carente. Afinal o sexo com ele havia sido sempre bom... Talvez fosse isso que tivesse me levado aos sonhos. Enfim, o resultado era que meu corpo precisava de sexo e descanso, mas parecia que eu estava bem distante dos dois.

Com o retorno vieram as novidades de Lucy e a correria com o casamento. Apesar de Derek ter organizado tudo, eu e minha amiga ainda quisemos dar opiniões e tivemos que encontrar um vestido perfeito para o grande dia. Como madrinha eu precisei preparar uma bela despedida de solteira e um rápido chá de cozinha. Tudo simples, mas que junto com todo o trabalho que tínhamos na editora, só triplicou meu cansaço. O resultado foi que minha pequena temporada na Europa foi por água abaixo e era como se eu tivesse tirado férias há muito tempo.

Lucy estava em sua maravilhosa lua de mel no Caribe, regada à margaritas e muito sexo, com certeza. Porque aqueles dois não conseguiam se desgrudar um só instante.

Será que eu só conseguia pensar em sexo? Inferno!

Coloquei uma calça flare preta de cintura alta, uma blusa branca de seda e meu batom vermelho. Meu cabelo estava com o corte bob wave, então sempre o deixava secar naturalmente, produzindo ondulações que eu adorava. Apliquei delineador e rímel, marcando meu olhar como sempre. Gostava de me sentir bem, mesmo que por dentro fosse uma confusão em forma de gente.

Meu celular apitou em sinal de mensagem. Peguei apressada, indo para cozinha a fim de preparar algo para comer antes de sair. E era ele, de novo.

Marcelo: Oi, amor. Será que hoje sua agenda tem espaço pra mim?

Respirei fundo. Aquele ritual de me mandar mensagens diárias, me chamar de amor e me suplicar por um encontro já tinha ultrapassado todos os limites. Eu me sentia esgotada! Tinha chegado a hora de resolver aquilo de uma vez. Então apertei um botão e esperei.

— Amor! Finalmente! — A voz animada me fez fechar os olhos por alguns segundos, ainda era ele, meu Marcelo... Mas nem tão meu assim. — Preciso tanto te ver, Fê. Por favor.