Semana de natal, e tudo tão igual.

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Não gostava muito de comemorar o Natal. Não me sentia motivada, mesmo com todo o apelo comercial que há nesta época do ano. Para mim era sempre um período de recolhimento, solidão, muitas vezes tristeza, melancolia e depressão.

Quando era menina, nunca esperei o Papai Noel e ele também, nunca apareceu!

Morava numa cidade pequena do interior, onde os hábitos eram diferenciados dos hábitos consumistas das grandes metrópoles. Lá a grana era curta e comprávamos apenas o que era necessário e utilizável.

Ganhar presente era muito raro. E quando isso acontecia era uma madrinha ou avó, que indo até a cidade, lembrava-se de comprar algum doce para as crianças...

O Natal era época em que a minha mãe comprava tecido, e ela mesma costurava, para que todos nós fôssemos à missa de Ano Novo, de roupa nova. Gostava de ir à missa de natal e ano novo, mas não sentia o entusiasmo que via nas outras pessoas e principalmente nas mocinhas da minha idade. Ia, mas, porque todos iam...

Esse sentimento continuava até os dias atuais, mesmo morando na cidade há algum tempo, o natal ainda era uma data que passava quase em branco na minha vida. Não me sentia atraída pelas ruas barulhentas, cheias de apelo para que se comprasse de tudo e mais um pouco.

Até que a noite gostava de ver a decoração das fachadas das lojas, dos prédios. As pessoas se superavam a cada ano, eram luzes e mais luzes. Tudo muito colorido, eu não podia negar que era tudo muito lindo. Mesmo assim, não me sentia atraída para as comemorações e inventava desculpas para não comparecer às confraternizações da empresa na qual trabalhava, nas reuniões que minha irmã ou alguém da família sempre fazia.

- É engraçado, passou o ano inteiro sem você sequer me ligar, para saber como estou... se estou viva, se estou bem. É só chegar essa época e começam a chegar os convites. Não acredito que no ano inteiro não teve um aniversário, um batizado, casamento... E não lembrou que eu existia agora me convida para passar o natal aí com vocês! Sinto muito, mas já me comprometi com uma amiga. Não sabia que vocês iam se reunir outra vez este ano. O ano passado foi cruel!

Eu estava furiosa com esse telefonema, era minha irmã, Carla. Desde o natal do ano passado a gente não tinha se falado direito, e agora me liga convidando para passar o natal na chácara com ela e sua família. Desde que nossos pais faleceram a família foi cada um para um lado. As reuniões eram sempre traumáticas. Muitas discussões e lavagem de roupa suja.

- Eu tô fora! Depois do ano passado... Foi ridícula aquela discussão de quem cuidou ou não cuidou da mamãe e do papai. Na verdade o que há é muita culpa! Depois que morre todo mundo sente saudades, mas quando precisavam da presença dos filhos, de uma palavra, onde estavam? Ocupados com suas vidinhas medíocres. - Já sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, ao lembrar a minha mãe sentada em pleno domingo, esperando um dos filhos ligarem ou resolver fazer uma visita. Eu falava com ela, tentava levá-la a algum lugar, mas ela se recusava. - Se alguém ligar, não estarei aqui. - Ela dizia com uma tristeza no olhar...

Carla não sabia o que dizer. Então falou que eu não podia acusá-la de não ter me convidado. E desligou. Fiquei um tempo digerindo a nossa conversa. Como pode? Éramos irmãs! Tínhamos uma amizade muito boa quando éramos jovens e Carla ainda era solteira. Hoje em dia sequer conseguíamos falar ao telefone sem discutir. Nossos pais eram o elo que nos unia...

Quando me mudei pra cidade, ela foi contra.

- O que você vai fazer lá? Sozinha numa cidade grande, onde você não conhece ninguém? Você tem que arrumar uma pessoa legal, casar e construir a sua família...

Papai Noel e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora