Ela corria noite adentro, embora o entardecer tivesse apenas acontecido a pouco tempo e o céu ainda exibisse as cores do pôr do sol recente no horizonte, juntamente com a escuridão... Não sabia se havia outras pessoas por ali, se sim não havia tempo de notá-las.
A rua não estava tão escura, na verdade até bem iluminada. A moça passou rápido por algo que lhe chamou a atenção, olhava toda a rua ao redor sem tempo para parar. Imaginou que logo alguém apareceria, mas não via ninguém e não tinha tempo para esperar. E sabia que sua mente apenas a distraíra daquilo que na verdade enfrentava... Sabia que em breve seria alcançada, e já lhe faltava o fôlego.
Fazendo uma curva chegou a um muro alto cujo topo era arame farpado. Em seu desespero imaginou se pulando ali teria uma chance de escapar e num impulso o fez.
A princípio julgou que não seria capaz, pois não era seu o costume pular muros, e muito menos com arame farpado, mas olhou rapidamente em volta e viu que não teria outra saída pois aquele era o fim da rua.
Não podia voltar e então deu um impulso, agarrou as mãos na parte de cimento, e apoiando-se com alguma dificuldade firmou sua bota de cadarço no arame tentando não se arranhar nas farpas e pulou para dentro.
Caindo do outro lado, apesar do chão de terra sentiu alguma dor, e não sabia se havia rasgado ou não o short jeans... Mas o coração batia acelerado, e não havia tempo para ocupar-se disto.
Notou que caíra num local parecido com uma grande horta caseira, talvez uma chácara. Apesar de se encontrar numa área urbana, próxima a uma ferrovia.
Avistou que duas mulheres aparentando idade avançada, conversando de vassouras na mão logo ali a poucos metros. Mas estas não lhe deram importância.
Voltando sua atenção para o muro, abaixou-se e tentava sequer se mexer ou respirar muito alto... A expectativa conflitava com a esperança ao fitar o topo do muro... Ao mesmo tempo contando que algo descesse por ele, ao mesmo tempo torcendo não ver nada.
Contudo viu um arranhão do arame farpado na superfície da pele morena de uma das suas coxas... Outro profundo em uma das mãos... E logo em instantes assustou-se com o barulho de outra pessoa saltando a seu lado.
As mulheres ao longe pareceram voltar sua atenção para a cena, assustadas embora nada dissessem. Ela tentou se encolher e o homem que ali aparecera a ergueu e a olhou dos pés à cabeça.
Ela tremia um pouco ao olha-lo de volta, e ele abaixou-se e passou a língua no sangue do ferimento em sua coxa. Ela escorou-se à parede e no mesmo instante o viu se levantar e colocar-se a centímetros dela, olhos nos olhos...
Já via o sorriso torto de caninos pontiagudos na face alva dele. Então tomou coragem e com uma das mãos ainda trêmula fez sinal para ele parar. Ao notar que ele já intencionava lhe avançar... E respirou profundamente.
-Espere! MALCOLM! Eu sei que está aí fora! Se vai ter de ser, então venha e faça você mesmo!
Ela chamou e falou em voz alta para o outro lado do muro, e em segundos um rapaz negro e aparentemente jovem, mais alto que ela e o primeiro homem, surgiu em sua frente, deixando as mulheres que ainda viam tudo de longe com as mãos nas bocas entreabertas, admiradas por vê-lo ali tão repentinamente, como se ele fosse um fantasma ou coisa que o valesse.
A moça morena ainda tremia e ofegava um pouco. O rapaz mulato foi se aproximando dela. E logo sentia o cheiro de sua pele e a envolvia em seus braços... Ela não conseguia parar de ofegar e tremer... Embora se sentia envolvida e de certa forma confortável... Mesmo que ainda temesse. Tremor e temor se misturavam na tez feminina.
-Você está muito nervosa... Só vai sentir dor assim... Relaxar é melhor!
A voz masculina soava num sussurro sarcástico próximo a seu rosto, e em seguida os lábios carnudos dele exibiram um sorriso irônico com caninos longos e afiados como os de um gato, que logo alcançaram a sua pele. E ela pôde sentir as presas penetrando seu pescoço discretamente. Não parava de ofegar um só segundo...
-Su-suave... Devagar... - foi tudo que ainda conseguiu dizer diante da dor inicial, enquanto seus olhos ainda o visualizavam... Ela ainda buscou olhar o céu uma última vez antes de cerrar as pálpebras.
E logo a respiração alterada de seu busto arfante deu lugar a um gemido... Ela arrepiou-se inteira... E outros gemidos mais altos e ainda ofegantes se seguiram... Gemidos claros de prazer! Que inesperadamente se mesclava à dor... Enquanto as mãos fortes lhe seguravam pelas costas e os dedos entranhando-se pelos cabelos negros e lisos através da nuca.
As mulheres se sentiram incomodadas com a cena e os sons que aqueles jovens faziam. E ao ficarem sem ação entraram em casa, trancando porta e janelas. A moça compreendia bem o que Malcolm fazia... Os gemidos ainda lhe brotavam da boca e já sentia as pernas bambas.
Então era mesmo possível sentir prazer com aquilo...? Agora, entre uma respiração ofegada e outra sabia que sim... E sentindo todas aquelas intensas sensações sabia que tomara a decisão certa ao escolhe-lo!
Sentiu então algo úmido em sua mão... E logo algo pontiagudo em seu pulso... E deduzirá que o colega de Malcolm havia lhe lambido o arranhão da mão e agora lhe sugava com força o pulso. Mas aquilo era apenas um adendo perto do que o primeiro já a fazia sentir.
Entregou-se por completo... E cada vez mais arrepios agradáveis lhe invadiam o corpo inteiro, mesclados a sutil dor das mordidas. A moça não podia conter a excitação e sentiu as pernas lhe faltarem, e seu corpo ser sustentado pelos dois vampiros. Somente algo não humano podia conceder tamanho deleite enquanto lhe tomava vida...
Vida! Aquela palavra era de repente tão efêmera... Agora sentiu-se por instante uma tola, por tentar fugir daquele modo tão ingênuo de criaturas que conseguiam inclusive ouvir seu coração batendo à metros de distância... Aquela fuga não fazia sentido desde o início.
Era certo que eles a pegariam. Mas agora não queria pensar mais nisso. Sentia seu sangue quente fluir nas veias e diretamente para a boca deles... Sem desperdiçarem uma só gota! Contudo o deleite e lhe proporcionavam por isso, acabava por fazer a troca justa... Um deleite inumano... Embora já não pudesse gemer, apenas ofegar! Até sucumbir...
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Fuga
Mystery / Thriller"Ela corria noite adentro, embora o entardecer tivesse apenas acontecido a pouco tempo e o céu ainda exibisse as cores do pôr do sol recente no horizonte, juntamente com a escuridão... Sabia que em breve seria alcançada, e já lhe faltava o fôlego."...