As luzes nunca mais se acenderam. Era o que ele pôde ver, depois de aparentemente um ano, passando por ali.
Como as luzes costumavam ser fortes, intensas... E agora negras, completamente negras, um montante aglutinado de nada.
Era pedir muito ver um sorriso outra vez? Ele certamente achava que não. Mas por que então isso era tão difícil?
"Por favor, Deus, ajude-me", ele poderia pedir, mesmo não sabendo em que religião rogar. Rogar por mais um sorriso, mais uma vontade. Qualquer coisa nova.
A calçada era esburacada. Sim, coitada da calçada, mas ele se sentia do mesmo jeito; atropelado, pisoteado, esburacado, arrancado de seu próprio eu, seja o eu só dele mesmo ou o eu com ela, tanto fazia.
Abandonado, fugido. Arrancado de seu próprio eu. Mas que diferença isso fazia, se ele mesmo não sabia quem era seu eu? Pois bem, que diferença faz um rato ter um queijo podre ou estragado se não se sabe se o rato tem um queijo em primeiro lugar? Ou mais, se o rato existe!
Ao lado da calçada havia um prédio. Um prédio imponente, de seis milhões de andares; andares que subiam para cima e apontavam para os lados, compridos e majestosos andares ocupados por pessoas que não sabiam onde moravam tampouco.
Uma calçada suja levava da calçada esburacada para o prédio imponente. E da calçada suja ele conseguia ver a janela que nunca mais se acendia. Sempre negra a janela, não mais luzes brilhavam lá, que agora brilhavam em outro lugar, por mais imponente que algum dia pudesse ter sido o prédio. Ou a própria janela. Sempre negra e vazia a janela.