Trinta e Um

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_Como assim? Eu não sou compatível?  - digo inquieta sentada sobre cadeira em frente a secretaria do Dr Silvano, que me  encarava com um semblante triste .

Enquanto eu passava uma noite confortável em casa, meu filho teve uma recaida de madrugada, então a busca pela medula compatível  continuava, agora com um certo desespero .

Depois de me conformar com o facto de não ser compatível com o Herman, saio da sala do Dr em busca de ar fresco,

Caminho abraçada a mim mesma em passos lentos até ao jardim, avisto um banco de pedra no meio do solitário jardim sento-me e caio no choro desesperada temendo pela vida de meu filho.

Ja havia se passado alguns minutos desde que me sentei mas nem por isso o choro parou, aparentemente tinha muita coisa para deitar fora, quando me dei conta, não chorava apenas pelo Herman, mas também pelo rumo que a minha vida levou apartir do momento que a Lúcia apareceu no abrigo...apartir do momento que olhei para aquele que so me causou dor, mas que ainda assim me faz uma incontrolável falta...

_Ana... - aquele tom grave alertou todos os meus sentidos, sem antes se quer olhar para o dono da voz, o meu coração ja batia de forma agitada causando-me uma leve falta de ar ... ganho coragem, levanto o rosto e automaticamente os meus olhos se prendem nos dele...a minha garganta se contrai impedindo-me de dizer o que fosse.

_Hantony...-digo por fim enxugando as lágrimas ainda perplexa com a sua  presença.

_Como pudeste Ana! ?- estremeço assustada .

Achei que nunca mais veria esse olhar petrificante coberto de raiva,ou ouviria esse tom brusco,  serei eu louca ao sentir falta até da sua agressividade?

_Como foste capaz de esconder o meu filho de mim! !?- deu passos largos indo até ao meu encontro e pegando-me pelos braços contínuo a gritar-  Que coragem é essa que te fez esconder por nove anos que eu tenho um filho? Tu sabes o quanto  eu sofri com a tua partida! E agora do nada descubro que te foste embora grávida!  E que esse filho que ...que nunca vi, está a beira da morte! !! Sua maltida! Maldita Ana!  -   Eu parecia uma boneca de trapo sendo chacoalhada enquanto Hantony me praguejava ...decidi não revidar agora, porque ele precisava desse momento.
Esconder a paternidade, Herman a beira da morte...talvez me tenha excedido e não sido justa quanto a minha decisão de ocultar.

_Diz alguma coisa! - gritou uma última vez antes de se calar para que eu o respondesse.

_Eu ja perdi um filho por tua causa, não me arriscaria a perder outro! - declaro o encarando forçando alguma frieza no meu olhar .

_Ana...- largou os meus braços, deu dois passos pra traz  totalmente desnorteado,   passou  as mãos sobre cabeça jogando os cabelos para traz, o que me fez despertar e reparar no actual cumprimento do seu cabelo e no seu aspeto...Hantony estava desajeitado, barba por fazer, cabelos compridos, olheiras vivas acompanhando os seus olhos vermelhos fundos....totalmente o inverso do homem de 9 anos atraz.

_O que aconteceu contigo? - digo assustada.

_Isso! - apontou pra ele- É o resultado de todo o sofrimento causado por me teres abandonado, eu te amava com todas as minhas forças Ana! Amava-te mais do que a mim mesmo! Mas não é para isso que estou aqui, que porra é essa de eu ter um filho? Não me venhas com essa de eu ter sido o culpado pela perda do nosso primeiro bebê.
Explica-me tudo!



_Eu ...- respirei fundo-  Um dia depois de ter ido embora com o meu pai, eu me arrependi e decidi voltar pros teus braços ...

_E o que aconteceu para não teres voltado?

_Tu és mesmo um cara de pau! -exclamo andando em círculos .

_Fala de uma vez por todas!

_Eu vi-te a beijar outra mulher no portão de casa-  Hantony sentou-se fazendo uma cara como se tivesse lembrado de alguma coisa-  E quando vi aquilo, me senti tão traída, tão suja por voltar sempre pra ti mesmo depois das merdas que fazias ...eu simplesmente não consegui raciocinar em condições e decidi sair do pais com o meu pai.
E quando descobri que estava grávida ja era tarde pra voltar...eu passei a minha gravidez te odiando, ME! ! Odiando! !
E quando o Herman nasceu eu ...ja tinha a minha opinião formada quanto ao facto de contar a verdade pra ti.   - Termino de falar e um silêncio estranho pairou no ar .

_E porquê que ele está a morrer? - perguntou com a voz trêmula, Hantony estava a chorar... franzi a testa achando estranho as suas lágrimas .

_Leucemia...-enfio a cara nas palmas das minhas mãos-  Ele está muito mal, a quimioterapia não está a funcionar, ele precisa de um transplante de medula e está muito difícil encontrar um dador compatível...nem eu que sou  mãe sou compatível! - despejo tudo pra fora.

_Por isso o teu pai ligou pra mim...- naquele momento me dei conta,  não tinha feito a pergunta mais pertinente "O que ele fazia aqui ? E como ficou sabendo  de tudo?"

_Acabei de fazer a colheita de sangue para saber a compatibilidade, os resultados não tardam, minha mãe também fez o mesmo, nesse momento toda ajuda é necessária, o nosso focu é a recuperação do rapaz! - Hantony falava como um pai preocupado, me senti dividida, fico feliz por ele estar aqui ou mantenho-me firme na decisão que tomei de esconder a verdade?


_A sua mãe está aqui também? - indago com a cara enfiada no chão.

_A sua mãe! Queres tu dizer- corrigiu .

_Não comeces-  me levanto pra fugir do assunto-  Há tanta coisa na minha cabeça eu não quero....

_Para Ana! Entendo que seja difícil pra ti... mas a minha mãe também sofreu muito com isso principalmente com a tua partida...

_Ok-  engulo em seco-  vamos por partes, primeiro o Herman e depois terei a tal conversa com a sua mãe!

_Sua mãe!- corrigiu novamente. - Mas estás certa, o que mais importa agora não somos nós mas sim o nosso filho.

ANA [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora