Prólogo

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Há muito tempo, quando a magia ainda fluía na Terra, existia um homem amargurado, porém este homem não era igual aos outros humanos, ele era pior. Invejoso, narcisista, ganancioso, impiedoso, enganador. Infelizmente, este homem era o maior conjurador da Terra. Desde o sul até o norte, do leste ao oeste, ninguém era forte o suficiente para derrotá-lo, sua magia era tão poderosa que poderia corromper até o mais puro dos corações.

Aquele conjurador sentia um vazio, um vazio tão grande que nada que ele possuía poderia preencher. Ele não era amado, e apenas isto já bastava como punição para seus pecados... Já havia causado tanta destruição e mortes que ninguém era capaz de amá-lo, apenas o temer.

Durante uma madrugada assombrosamente fria, onde o céu parecia chorar lágrimas de sangue ,o conjurador se afogava em seus próprios sentimentos rasos, e sozinho contemplava a melancólica lua. Mas ele estava decidido, ele sabia exatamente o que fazer. Onde tal conjurador vivia, havia um reino próximo que era muito prospero e sua rainha acabara de dar a luz a uma menina, logo Cassius, o conjurador, invadiu o castelo e sequestrou a criança. Ele nunca mais estaria sozinho.

A menina era linda, parecia um anjo, e ela possuía o maior tesouro existente: o coração inocente de uma criança, logo Cassius não poderia estar mais feliz, ele cuidaria da menina como se fosse sua filha. Finalmente seria amado. A pequena foi nomeada Arabela, e conforme a menina crescia mais e mais, o conjurador temia que ela o visse como o homem que era. Cassius fazia de tudo para que Arabela o visse como um bom homem, porém no fundo de sua alma ele sabia que não conseguiria sustentar esta mentira para sempre, podre... Pobre homem apodrecido, não sabia que a verdade viria a tona tão rápido.

Assim que Arabela completou seus 16 anos, seu pai, o conjurador, já estava por um fio de ser consumido pela magia, restando apenas uma pequena lasca de amor em seu coração. Ele temia o que poderia fazer com sua filha quando não fosse mais capaz de amar. Por muito tempo ele sentiu como se estivesse se equilibrando em uma corda bamba, a corda tremia e o medo de tropeçar nos próprios pés era quase inevitável, mas agora ele se sentia completamente diferente, como se aquela corda tivesse virado um nó em sua garganta, ele estava sufocado, estava perdendo sua sanidade. Sua consciência poderia desaparecer em questão de segundos.

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Era uma linda noite de primavera, Arabela estava na sacada de seu quarto, a brisa da noite trazia o cheiro da lavanda consigo e fazia os cachos prateados da menina dançarem sob a luz do luar. A menina observava o jardim de sua casa que finalmente estava florido, ela e seu pai se empenharam muito durante meses para o colorir.

Logo Arabela deixou a sacada e adentrou seu quarto, e ouviu um gemido vindo da porta que estava sendo aberta, era Cassius, ele parecia hesitar, suas mãos estavam tremulas e em passos pequenos, lentos e vacilantes ele se aproximava de Arabela que parecia não entender o que estava acontecendo. O conjurador segurou a mão de sua menininha que tanto amara, e para salva-la de si decidiu passar todos seus dons para ela, mesmo sabendo que tais dons iriam a corromper. Ele preferiu ser odiado por ela do que odiá-la ou a machucar.

"Me desculpe, Ara..." disse o homem aos prantos .

"Eu te amo minha filha, mas chegou minha hora de partir." estranhamente o homem envelheceu séculos em questão de segundos, e assim foi gradativamente até que se tornou pó.

Arabela começou a sentir um peso em suas costas, seu sangue parecia denso, sua cabeça doía, aquela bela noite se tornou um pesadelo. Nem o cheiro suave da lavanda podia suavizar o ar. E com os olhos pesados, a menina apagou.

Raios de sol invadiam o quarto na manhã seguinte anunciando um novo dia. Cambaleando e tendo que se escorar nas pedras da parede Arabela se levanta, infelizmente suas leves e delicadas mãos agora eram pretas como carvão e carregavam unhas grandes e afiada. O chão estava coberto pelas cinzas de quem ela amou durante toda uma vida, e aquilo doía mais que qualquer corte.

Arabela não se tornou de todo má, seu corpo agora vivia em conflito. Um conflito eterno entre a escuridão e a pureza, um conflito que apenas resultaria em dor e agonia, seu produto era a mais genuína depressão. Desesperada e se sentindo sem chão, a jovem decidiu sumir do mapa, passou anos como peregrina, indo de aldeia a aldeia, mas nunca se sentia em casa, até que uma manhã branca de inverno, onde o frio era intenso a ponto de congelar a ponta de seus cabelos e fazer suas unhas parecerem brancas, Arabela encontra uma pequena aldeia onde ficaria até o fim da nevasca. E foi lá onde ela se apaixonou. Seu coração corrompido estava sendo capaz de amar, e este amor foi correspondido. Temis, o homem por quem se apaixonara via beleza em todos seus traços, desde seu cabelo branco como a neve, até suas mãos e olhos negros. Deste amor nasceram duas crianças: uma menina, de aparência grotesca e sombria; e um menino brilhante como ouro, mas suave como algodão. Sabendo que as trevas e luz não podem habitar o mesmo espaço, pois só causariam dor e sofrimento caso entrassem em conflito, Arabela decidiu separá-los, largou tudo, até o amor de sua vida, para deixar cada bebê em um ponto diferente da Terra, e quando tinha o feito conjurou uma maldição onde as trevas nunca mais poderiam se aproximar da luz.

A última notícia que se teve de Arabela foi que ela sumiu na imensidão de uma floresta densa, onde a copa das árvores era tão farta que a luz quase não adentrava, causando assim um ambiente astroso e muito provavelmente funesto. Logo essa floresta ficou conhecida como a Floresta de Arabela, tal era símbolo da lenda que afirmava a vida de um único ser que possuía dois mundos dentro de si.

Séculos se passaram desde o acontecimento, e o mundo se dividiu em duas partes, a natural, ao leste, e a sobrenatural, ao oeste. A parte natural era dividida em reinos humanos que viviam em guerra por causa da ambição e do egoísmo; já a parte sobrenatural era dividido em três partes: ao norte ficava o reino dos esquecidos, onde viviam os descendentes da filha de Arabela, seres grotescos e esquisitos que se retorciam e imploravam por misericórdia; ao centro, digamos que perto da linha do Equador, se encontrava a Floresta de Arabela; e ao sul se encontrava o reino das estrelas, onde viviam os descendentes do filho de Arabela, um reino prospero e coberto em ouro, onde todos os seres brilhavam, era uma verdadeira utopia.

Apesar dos dois reinos sobrenaturais serem extremamente diferentes, suas leis eram de certa forma semelhantes, mas uma se destacava, e todos a conheciam, e sabiam das consequências do descumprimento da lei. Tal lei proibia que qualquer criatura ultrapassasse a fronteira da floresta, ou tivesse qualquer contato com o outro reino.

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⏰ Last updated: Jan 13, 2022 ⏰

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