Capítulo 1

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"I never thought I would ever find
Something so assured but so fine..."

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Ah, não! Tem de sempre ser assim? Por que é que a minha menstruação não pode ser regular como a das outras mulheres? E estas cólicas! Ah, Deus, por que me fez mulher? Mas o pior de tudo, por que não me concedeu uma menstruação regular? Ninguém merece.

Bom, sou a Daisy e tenho um ciclo menstrual muito irregural, oque significa que todo santo mês sou obrigada, pela querida natureza do interior do meu corpo, a lavar os lençóis da minha cama.

E tem como piorar as coisas?

Tem.

Como?

Por estar atrasada às aulas.

Quando consegui ganhar a tão sonhada bolsa para estudar cá nos Estados Unidos da América, especificamente na Unidersidade de Harvard, sim, eu sou inteligente, apenas não sei como prevêr a minha próxima menstruação, mas isso não vem ao caso. Como eu dizia, quando estive para vir para os EUA, os meus pais queriam que eu fosse viver na casa de uns velhos, que oferecem hospedagens à alunos estrangeiros. Porém, eu sempre quis ser independente o mais cedo possível e é por isso que hoje em dia eu vivo sozinha em um apartamento e trabalho como servente em um restaurante de grande reconhecimento, que por sorte é bem perto da minha casa, e estudo durante a manhã até ao início da tarde. Não é tão difícil assim.

Olho a minha volta e está apenas a metade da minha turma dentro da sala. Somos apenas um total de dezasseis alunos, o que signifca que hoje somos oito, ou melhor nove, a contar comigo.

O professor* não se encontrava na sala, ainda.

Enquanto ouço todos a conversarem, retiro da minha mochila o livro que ando a ler recentemente. Eu amo ler. Eu daria a minha vida para salvar um livro favorito, e não, isso não é um recurso estilístico.

O bom é que tenho uma companheira no meu apartamento, a Minnie. Sim, nome de um rato dado à uma cadela. Mas quem não é viciado em Mickey Mouse, não é mesmo? Século 21, por favor! Existem ainda preconceitos com pessoas mais velhas que amam uma boa maratona de episódios completos de Mickey Mouse?

Talvez, só talvez, Mickey Mouse seja mais uma das coisas pela qual eu daria a minha vida. Como eu disse...só talvez.

– Bom dia à todos e peço perdão pelo meu atraso. Problemas na família, não são nada fáceis – entrou o professor com um sorriso amarelo estampado.

Não que eu não estivesse a prestar atenção à aula, mas eu precisava mesmo da minha cama.

Eu amo desenhar, consequentemente, estou a cursar arquitetura. E convenhamos que a pior disciplina existente em todo o universo é geometria.

E não, não é porque eu amo desenhar que eu deva amar geometria. Já me bastam os infinitos cálculos que tenho de fazer com a física. Muitos acham que quando alguém escolhe um curso a pessoa deve amar tudo sobre o mesmo, e isso inclui as disciplinas, o trabalhos ou até mesmo os colegas.

Não, nunca me dei bem com pessoas.

A verdade é que não é necessário teres de gostar de tudo, mesmo que aquilo seja para o teu futuro. Eu amo física, desenho e matemática, porém odeio com todas as minhas poucas forças geometria. Todavia, eu sei que é tudo essencial para o que quero no meu futuro.

– Menina Daisy? – pelo tom da voz dele não parece que ele só me chamou uma vez.

– Sim, professor?

– Responda à questão que a coloquei!

– Poderia repetir, se não se importar, por favor? – aposto que as minhas bochechas estavam mais vermelhas do que a minha cara quando fica perante ao sol.

– Importo-me sim – respondeu. Meu Deus, os problemas na família desse senhor devem ser resolvidos o mais rápido possível. Já não dá isto!

Nada respondi. Apenas abaixei cabeça e deixei que ele prosseguisse com a sua aula. Se eu estava a prestar atenção? Não.

E se me encontro fora da sala, neste momento? Sim.

Eu não sei o que se está a passar comigo. Isso nunca me aconteceu. Ou talvez seja apenas o professor mesmo, e os seus problemas na família.
O bom é que no momento em que saí da sala, faltavam exactos treze minutos. Suponho que agora faltem uns três e agora me arrependo de ter deixado o celular em casa.

Hoje é dia de folga! O que significa que a maratona de Mickey Mouse está totalmente de pé.

Voltando ao assunto celular; eu não sou viciada. Consigo aguentar até duas semanas sem o meu celular. Todavia, ficar sem o meu computador é mais torturador do que ficar sem um episódio completo de Barbie life in the dream house...ok, acabei, literalmente, de me contrariar. Pois tudo que eu vejo está no computador. Então seria como ficar sem um deles, ao mesmo tempo e blá blá blá.

Mais um facto sobre mim? Não tenho amigos. Deve ser muito hilariante, não é? Uma jovem de 20 anos, inteligente, capaz de ser independente e que conseguiu bolsa para uma das maiores Universidades do mundo, não tem amigos? Isso mesmo, eu não tenho amigos. E, sinceramente, eles não me fazem falta.

Os que eu pensei que fossem meus verdadeiros amigos, onde estão? Também não sei e não me interessa saber.

O meu passado deixou-me muitas cicatrizes. O meu passado vive comigo. O meu passado é o meu pior presente. O meu passado me impede de poder ter um futuro normal.

As pessoas mentem. E não, não fui traída em nenhuma relação amorosa para ter este pensamento. Traição dentro de uma amizade pode ser milhões de vezes pior, e assim foi.

Mal cheguei à casa e já me deparo com um lindo bolo mal cheiroso à minha frente. Não sei até quando vou ter de ensiar à Minnie onde é que ela deve descarregar as impurezas do seu corpo. E que não deve ser na porta de entrada! Ou melhor, ela poderia esperar eu chegar.

–Nós passeamos todos os dias, Minnie. Isto não é justificação. – falar com uma cadela é normal sim. Quem não aceita, que aceite aí na sua casa mesmo.

Depois de ter limpo tudo, tomei um banho rápido e peguei à Minnie. Parei em uma sorveteria, ao lado do prédio onde eu vivia. Eu venho cá quase sempre e até me simpatizo com a tia Krys.

– Ora, se não são as minhas clientes favoritas. – amo ver aquele sorriso dela. Ela é tão simples e tão divertida.

– Somos nós mesmas – sorri de volta – mas a senhorita aqui hoje portou-se mal.

– Ah – agachou-se para dar carinho à Minnie – ela ainda é bebé, vai aprender.

– Assim espero.

– Hoje tudo é por conta da casa. Já vens aqui há quase dois anos. Mereces.

– Muito obrigada, tia Krys – eu nunca fiquei tão sem graça como naquela hora.

Sentei-me um pouco e nós conversamos sobre várias coisas aleatórias.

A tia Krys é natural de Cuba, especificamente de Havana. Ela conta que veio viver nos Estados Unidos por dificuldades financeiras na família. Infelizmente, perdeu os pais cinco anos depois e desde aí teve de se virar completamente sozinha para sobreviver. Hoje ela é casada, tem duas filhas e conta que uma delas tem um filho, Noury. Infelizmente ainda não tive a oportunidade de conhecê-lo, mas a tia Krys fala muito bem dele.

Enquanto conversávamos, um menino foi ter com ela. Ele tinha uma altura média, como a minha. A pele escura, mais para um tom claro quase caramelo, cabelos escuros e era bem musculado, o que mostrava que não falhava, pelo menos, uma semana sem ir à academia. Tinha os olhos do mesmo tom que o cabelo e lábios grossos e encarnados. Ele usava uma roupa de ginástica, o que me dava 100% de certeza que ele era bem regrado no assunto "exercício físico".

– Até já, avó – deu um beijo na testa dela, acenou para mim e eu retribuí. Saiu logo numa corrida lenta.

– É o Noury? – perguntei.

– Sim, é o Noury.

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⏰ Última atualização: Oct 22, 2019 ⏰

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