O verdejante e asqueroso musgo se esgueirava por entre as brechas das pedras negras comprimidas em um muro. Apenas os olhos do garoto ficavam por cima do bloqueio que dividia o mundo real da proteção Real.
Suas mãos estavam prontas e firmes. Um único impulso...
Escorregou.
Sua mão deslizou para frente no tapete verde que crescia ali e o fez sentir a explosão das rochas em seu pulmão, liberando o ar quase que completamente como um balão solto.
-Merda! - Ele murmurou ainda inspirando o ar que havia perdido.
Vontando a colocar as mãos sobre a grossa parede, o menino impulsionou finalmente todo o seu corpo, passando a perna direita por cima do muro e finalmente sentando em cima dele.
O verde intenso do bosque era visto além do vilarejo à frente que, a essa altura, já estava movimentado. Sob os raios de sol da manhã, o som do latido de cães era audível ao longe, e o embaralhar das diversas vozes se complementando nas ruas era reconfortantemente incômodo. Significava que estava prestes a sair - ou fugir - de casa.
Precisou tomar coragem, pois a altura do muro era maior do lado de fora do que de dentro pela presença da escadaria que subia até sua casa. Era inútil tentar sair por ela. O portão metálico que a dava acesso ainda estaria trancado naquele momento.
Um deslize e o vento durante a queda empurrou o seu gorro para trás, deixando, por alguns segundos após sentir o impacto nos pés, sua identidade à vista. Rapidamente, o puxou de volta para o rosto enquanto sentia a bomba em seu peito pulsar mais intensamente.
Alguém o tinha visto? Obviamente, não. Não havia razão de alguém sair do vilarejo naquela hora, muito menos se aproximar da casa dos lordes.
Estava livre. Simplesmente livre. Um passo após o outro, agora estava correndo.
Atravessava as gramíneas que cresciam por toda a parte, criando uma vegetação esverdeada por toda a região, tendo os homens formado as trilhas que guiavam a vila até os seus lordes. Era um grande campo, com outras plantas de cores mais contrastantes com o verde, desde amarelo e lilás, até rosa e vermelho. Algumas crianças costumavam brincar por ali, mas raramente Ahnmeri poderia se juntar à elas. O que lhe restava era a possibilidade de assistí-las do alto através do portão de sua casa, correrem com uma venda atrás das outras em "cabra-cega", ou travarem uma "guerra" com espadas de madeira ou mesmo esconde-esconde nas árvores que cercavam a região, já que lugar era bastante conhecido pelos moradores. Menos para Ahnmeri e Companhia.
Quando não observava as outras crianças, Nyara e Sammuel o faziam companhia no casarão. Agora, seus irmãos estavam dormindo, e era provável que seus pais também. Ele não ouvira nenhum ruído ao pôr seu ouvido na porta do quarto, além do ronco de Treviss, claro.
Enquanto pensava nisso tudo, diminuiu a velocidade, acordando em sua própria mente, e se viu na feira da vila. O cheiro de insetos, plantas e a terra molhada, foi substituído pelo aroma de porco assado, que se sobressaía às laranjas, uvas, maçãs e diversas outras frutas.
Oswald Willon, ambulante de variados itens, desde supostas runas vindas do exílio, até plantas medicinais e acessórios de caça e pesca, já desembrulhava suas mercadorias, colocando-as em um enorme tapete vermelho no comércio da praça, deixando sua mochila colossal no chão. Diversas pessoas o perguntavam como conseguia carregar tantas quinquilharias nas costas, porém ele apenas respondia que o tempo para se acostumar era o melhor apoio para o peso. Havia outros comerciantes, de terras mais longínquas, porém Oswald era o mais conhecido em Hyalton tendo tantos e diversificados itens.
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Ruína do Sangue
Historical FictionFamília, honra e mentiras não serão empecilhos para chegar ao poder. Hyalton está a beira do colapso e a faísca da morte leva o nome Valkron às chamas da Revolução. Quando as máscaras da confederação caírem, Nya, Sam e Ahnmeri terão que descobrir q...