Fugindo

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Sobre essa história:
1. Há troca de gênero em determinados momento. É proposital.
2. Pelas tags dá pra imaginar onde essa história vai parar, então eu não aconselho que leia se é facilmente atingido por essas coisas.
3. Realmente espero que gostem, porque foi bem tenso escrever isso.
Enfim, boa leitura

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Meus pés doíam e pediam arrego. Minhas mãos latejavam assim como minha cabeça que, há muito, já tinha perdido as ataduras. Meus braços, pernas... Meu corpo todo tinha as marcas do meu tormento nos últimos anos. Todas aquelas cicatrizes...

Minha visão estava turva e embaralhada. Meus pensamentos eram confusos e eu já não conseguia entendê-los. Se é que um dia eu consegui.

Talvez o efeito das drogas ainda não tivesse passado. Talvez o efeito dele ainda não tivesse passado.

A exaustão quase me levou ao chão em diversos momentos, mas eu não podia parar, não podia permitir que ela me pegasse, mesmo que eu soubesse que já não me perseguia.

Não. Eu não podia voltar. Depois de anos, aquela fuga era minha maior esperança de salvação. Possivelmente, também a única.

O clima era quente. Reconfortante. Uma positiva mudança em relação ao clima inóspito ao qual me acostumei naqueles últimos anos, à frieza dele.

Em algum momento me lembro de alguém me oferecendo ajuda. Ou talvez seja só minha mente adoecida e cansada, confundido meu pedido de socorro com uma ilusão. Afinal, não seria a primeira vez que me ignoravam.

Talvez eu devesse parar...

Ela me encontraria de novo, então, por que correr?

Talvez eu devesse voltar...

Afinal, eu tinha tudo, por que fugir?

Talvez ele me perdoasse... De novo.

Ela era uma pessoa tão boa. Sempre me perdoava. Sempre.

Eu tinha errado em fugir...

Mas não era novidade. Eu sempre faço tudo errado. A culpa é sempre minha.

Talvez trocar o certo pelo duvidoso não fosse tão bom assim.

Ele, certamente, não era o pior dos demônios que eu encontraria por aí. Existiam pessoas piores.

Por quê?

Por que eu saí?

Por que eu fugi?

Talvez ela estivesse certa e eu fosse louco.

Talvez ele estivesse certo e eu fosse burra.

Talvez ele estivesse certo e eu estivesse histérico.

Talvez ela estivesse certa e eu estivesse alucinada.

Ela estava certa. Ele sempre está certo. Quem erra sou eu.

Era tão mais fácil continuar alí. Eu já havia me acostumado com a dor. Mesmo que tudo fosse ruim...

Então, por quê?

Mesmo a indiferença, a inconstância, a frieza com que me tratava eram melhores que a incerteza pelo futuro que me aguardava.

Eu me viciei no sofrimento.

Ele me tornou completamente dependente.

POR QUE EU NÃO CONSIGO FUGIR?

POR QUE EU QUERO VOLTAR SE AQUILO ME FEZ TÃO MAL?

SE EU JÁ NÃO SOU MAIS ÚTIL, POR QUE ELA AINDA ME MANTEM ALI?

Eu deveria ter desconfiado de suas boas intenções...

Por que eu ainda tenho fé nele?

Por que eu ainda acredito que algo mudará?

Por quê?

Por quê?

POR QUÊ?

Eu não conseguia parar de me questionar.

Eu não conseguia parar de aceitar o que ela me falava.

Eu não conseguia parar de me martirizar.

Ele conseguiu.

Conseguiu me convencer que eu não presto. Que vou morrer sozinha.

Que ninguém ia querer um homem como eu.

Que eu sou apenas uma mulher surtada e psicótica.

Que eu sou apenas um ser humano desprezível e deveria agradecer aos céus por ter alguém como ela em minha vida.

Ele me destruiu.

E eu aceitei em silêncio, afinal, quando percebi que algo estava errado, já era tarde demais.

Ela já tinha feito, da minha cabeça, o tabuleiro de seu jogo.

Senti o chão sumir sob meus pés.

Senti meu corpo pender.

Ele conseguiu.

Ela me empurrou...

E, já completamente sem forças para lutar por salvação, eu caí.

Inteiramente sem vontade para levantar.

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⏰ Última atualização: Nov 29, 2019 ⏰

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