Park Jimin
Busan
17 de fevereiro de 2013
A ocasião de sua morteA noite de inverno caiu no exato momento em que Park Jimin deixou o café. Caminhando pelas ruas escuras de Busan, ele enrolou o cachecol em torno do pescoço para se proteger do frio. Sentia-se bem depois de finalmente ter falado com alguém, pois tornou aquilo real. A revelação de seu segredo de longa data aliviou a pressão, permitindo-lhe relaxar um pouco. Enfim, Jimin acreditou que tudo daria certo.
A confissão no café foi um teste. Prático. No último ano, Jimin guardara muitos segredos - e aquele era o maior e o mais insensato de todos. Os outros podiam ser atribuídos à juventude, à inexperiência. No entando, esconder essa última parte de sua existência era pura imaturidade, explicar apenas pelo medo e ingenuidade. O alívio que sentiu ao enfim contar para alguém confirmou sua decisão. Seus pais precisavam saber. Já era hora.
Exausto por causa da pós-graduação em direito e do ritmo frenético de sua vida, ficava fácil imaginar-se indo para debaixo das cobertas e dormindo até de manhã. No entanto, Jimin viera para Busan para cumprir seu dever. Para entrar nos eixos novamente. Dormir não era uma opção, portanto. Assim, ele levou dez minutos para secar os cabelos, vestir um agasalho esportivo confortável e meias grossas de lã. Na bancada da cozinha, ligou o Ipod, abriu o livro, ajeitou as anotações e o laptop, e começou a estudar.
No entanto, naquele momento, após estudar direito constitucional durante uma hora, Jimin escutou: uma pancada ou vibração na porta.
Park correu até a antessala e puxou a cortina para o lado. Ficou confuso com o que viu. Nessa confusão, seus pensamentos se perderam. Sentiu um frio na barriga e um arrepio na espinha. Com a mente pouco clara, nenhum pensamento se sobressaiu para fazê-lo refletir. Lágrimas brotaram nos olhos e, ao mesmo tempo, um sorriso se manifestou. Ele desligou o alarme, com a luz vermelha se convertendo em verde. Em seguida, destrancou a porta e girou a maçaneta. Espantou-se quando ele forçou a entrada e, como água acumulada com o dique, projetou-se na direção da antessala. Mais surpreendente ainda foi a agressão.
Despreparado para o ataque dele, Jimin sentiu os calcanhares serem arrastados por sobre o piso de ladrilhos. Então, ele o empurrou com força contra a parede. Agarrando-o pelos ombros e pelos cabelos, arrastou-o até a cozinha. O pânico esvaziou a mente de Jimin. Naquele momento, todas as ideias e imagens que tinham estado ali até alguns segundos atrás desapereceram, dando lugar aos seus instintos mais primitivos. Park Jimin passou a lutar por sua vida.
A agressão prosseguiu na cozinha, com Jimin agarrando e chutando qualquer coisa que fosse capaz de ajudá-lo. Depois de o livro e o laptop caírem no chão, ele procurou tracionar os pés com meias de lã nos ladrilhos frios. Enquanto ele o puxava pelo recinto, Park agitava as pernas freneticamente. Foi quando desferiu um pontapé enfurecido contra a cristaleira despedaçando toda a louça e espalhando os cacos pelo piso. Com o caos na cozinha ainda instalado, incluindo tigelas rolando e banquetas se chocando, Jimin conseguiu pisar no tapete da sala, o que lhe deu força e tração. Ele tirou proveito disso para buscar se libertar do domínio do oponente, mas sua resistência só aumentou a fúria dele, que passou a puxar a sua cabeça para trás com força, arrancando uma mecha de cabelos e fazendo-o cair de uma vez. Ao pousar, Jimin bateu a cabeça contra a estrutura de madeira do sofá. Então ele se arremessou sobre Park.
A dor era lacinante. A visão de Jimin ficou embaçada, e a audição, comprometida.
Ferido e sangrando, Jimin ficou ali, desfalecido, acordando cada vez que ele a maltratava em ondas coléricas, violentas. A impressão foi de que se passou uma eternidade antes de o homem decidir abandoná-lo. Antes de ele escapar pela porta corrediça de vidro da sala, largando-o aberto e deixando que o ar frio da noite penetrasse pelo recinto e atingisse o seu corpo.
Ele sentia as pálpebras pesadas. Naquele momento, tudo o que Jimin conseguia ver era a luz branca emitida pela lâmpada no batente, um brilho contra a escuridão da noite. O pior tinha passado. A dor desaperecera. Jimin não mais recebia socos, nem estava mais sendo sufocado. Finalmente, livrara-se do domínio dele. Não sentia mais aquele hálito quente no rosto. Ele não estava mais sobre Park. A ausência dele era toda a liberdade que Park queria.
No chão, com as pernas estendidas e os braços como dois galhos de árvore quebrados ligados às suas laterais, ele encarava a porta escancarada do pátio. O farol distante, com sua luz brilhante orientando os barcos perdidos na noite, era tudo que ele percebia e tudo que ele queria. Era vida, e Jimin se agarrou à sua imagem oscilante.
Ao longe, uma sirene ecoou na noite, baixinha no início, e depois, mais alta. A ajuda estava chegando, embora ele soubesse que era muito tarde. No entanto, Jimin saudou a sirene e o auxílio que traria. Não era mais para si que ele esperava a ajuda.
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Busan (Yoonmin)
FanfictionBusan, uma pequena cidade entre montanhas, é esse tipo de lugar, bucólico e com encantadoras casas dispostas à beira de um longo trecho de água intocada. Duas semanas atrás, o estudante de direito Park Jimin foi brutalmente assassinado em uma dessas...