3º Capítulo

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O sorriso desapareceu dos seus lábios e o brilho abandonou os seus olhos.

"O quê? Porquê? É pelo dinheiro? Natasha, se precisas de mais dinheiro, eu pago!" a pobre senhora esquecida nesta casa gigantesca, quase implorou para que o que eu tinha acabado de lhe dizer pudesse mudar. Também eu gostava que fosse mentira, que pudesse ficar aqui a sobreviver à monotonia da minha vida em Detroit. Para minha infelicidade e da Mrs. Carter esta é a verdade.

"Mrs. Carter, não é por nenhum dos motivos que a senhora possa estar a pensar. Vou mudar-me."

"Oh." a sua expressão suavizou.

"A minha mãe quer mudar-se para Inglaterra. Eu sou contra, mas não posso contrariá-la, ainda dependo dela para muitas coisas." Mrs. Carter não sabe que sou inglesa, até porque não tenho muito acento britânico. Não sabe nada sobre a minha família ou história de vida. É demasiado pessoal para pensar em contá-la a alguém.

"Eu compreendo, mas não queria nada perder a única companhia que tenho. Afinal, tornaste-te na única pessoa com quem podia ter uma conversa formada e inteligente. Vai ser muito difícil voltar a tomar o pequeno-almoço sozinha." Disse a última frase com nostalgia e tristeza. Partiu-me o coração e um nó formou-se na minha garganta. Esta senhora foi a única pessoa com quem alguma vez pude ter uma conversa madura e sábia acerca de conhecimentos de vida. Vai custar-me imenso deixá-la sozinha.

"Lamento imenso Mrs. Carter, gostaria de puder mudar isto mas não posso."

"Quando deixas o serviço?"

"Daqui a 3 dias." Olhou-me com uma expressão chocada e nó na minha garganta ia aumentando.

"Tão pouco tempo?! Porque que só me disseste agora?"

"Só soube ontem."

"Oh Natasha, gosto tanto da tua companhia. Percebi que és uma menina demasiado inteligente e observadora para a tua idade. Interessas-te de assuntos da vida que precisam de bastante maturidade, e falas deles com a maior tranquilidade. Admiro-te por isso. Acho que nunca tive conversas tão profundas, fundamentadas e argumentadas como as que tive contigo. Sempre achei que as pessoas fossem demasiado fúteis e desapercebidas para compreender determinados assuntos, como estes." O meu nó estava prestes a desfazer-se em lágrimas, mas sou demasiado boa a escondê-las.
Partilho da mesma opinião de Mrs. Carter, por isso é que não tenho amigos. Esta senhora foi a pessoa mais parecida comigo que encontrei nos últimos tempos. Concorda comigo em bastantes opiniões e explica sempre os seus pontos de vista. Não precisamos de falar uma da outra, contar a nossa vida, para discutirmos pensamentos.

Levantei-me para lavar a loiça do pequeno-almoço, pronta a continuar o dia de trabalho.

**

Voltei ao mesmo lugar, preciso de aliviar a minha mente um pouco. E nada melhor do que escrever para o fazer. Nesta alturas penso que a caneta é a minha voz, o papel o meu melhor amigo e o que escrevo o meu desabafo. É demasiado íntimo e meu. meu.

Nostalgia

A nostalgia é caracterizada por ser o nome dado ao sentimento de tristeza profunda causada por saudades. Eu sou muito nostálgica.

No meio de toda a tristeza que sinto, a nostalgia entra em parte. Tenho saudades de muitas coisas. Tenho saudades de receber amor, que alguém se preocupe comigo. Tenho saudades de momentos inesquecíveis, como passar uma tarde a rir até que a barriga doa. Tenho saudades das memórias que criei, ou melhor, do tempo em que as criei. Tenho saudades das pessoas que amo. Mas acima de tudo, tenho saudades de quando me sentia feliz.

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