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Me estiquei na cama, gemendo de frustração assim que o despertador começou a tocar. Não havia outro som no mundo que eu considerasse tão irritante quanto esse.

06:00. Mais uma manhã gloriosa de estudos se iniciava, ainda que, deitada na cama e esfregando os olhos, eu começasse a considerar faltar às aulas do dia.

Enterrei o rosto no travesseiro e fechei os olhos, a mão direita ainda agarrada no celular e pronta para desligar o próximo alarme e dormir outra vez.

— Charlotte, não estou ouvindo você andando pelo quarto. — A voz rouca de Marcie, a governanta, soou alta do lado de fora do meu quarto. — E não quero arruinar sua privacidade, mas se eu não ouvi-la em cinco minutos, entrarei.

— Bom dia, Marcie! — Exclamei em resposta, num tom azedo cantado. Chutei as cobertas para longe do meu corpo enquanto suspirava pesadamente.

— Bom dia, querida. O café está pronto. — O tom de Marcie, por sua vez, era risonho. Ouvi quando ela caminhou para longe, provavelmente indo para a cozinha.

Me empurrei para fora da cama e caminhei até meu banheiro, tomei um banho rápido e abri a terceira porta em meu quarto. O closet estava impecavelmente arrumado, obra de Marcie. Separei o uniforme do colégio, composto por uma saia preta plissada, camisa social branca, gravata e blazer pretos. Calcei meu All Star e penteei os cabelos. Com um último suspiro, me encarei no espelho comprido, deslizando os dedos sob a pele macia. Olheiras profundas marcavam meus olhos, meus cabelos pareciam sem vida e a pele pálida demais, sem brilho. Apesar da boa noite de sono, ainda me sentia cansada e minha aparência era a de alguém que não dormia há dias.

— Lottie, você vai se atrasar!

Estacionei o Jeep numa vaga suficientemente perto da porta principal. Pendurando uma alça da mochila no ombro esquerdo, acionei o alarme e caminhei sem pressa para dentro do prédio, erguendo o queixo para passar entre os alunos que, como de costume, me encaravam. Já no armário, procurando o mais lentamente possível pelos livros de Biologia, não demorou muito para que um certo alguém aparecesse.

— Bom dia! — Joan saltou ao meu lado, com um sorriso largo. A olhei rapidamente: os cabelos crespos arrumados caprichosamente emoldurando o rosto, batom rosa escuro nos lábios e uma leve camada de rímel. Sua pele negra estava brilhando com seu glow natural.

— Oi. — Respondi, fechando o armário com um estalo.

— Que dia lindo, não? — Disse ela casualmente. Sorriu. — Comprei ingressos pro musical no teatro. Você ainda quer ir? Ainda tem vontade?

Sorri.

— Sim, obrigada.

Joan ficou inquieta.

— E você está bem hoje?

— Estou, Joan. Como você está? É seu primeiro dia solteira. — Desconversei, percorrendo o corredor devagar. Era cansativo ser tratada por todos a minha volta como uma bomba relógio, então decidi fingir que nada estava acontecendo. Enquanto andávamos pelo corredor, girava minha pulseira da sorte no pulso.

— Tudo bem, eu acho. Aquele infeliz já me ligou hoje cedo. — Ela bufou e eu sorri pela distração. — Não sei o que Noah pensa. Como é possível ser tão imbecil? Tão burro?

— Ele é tão egocêntrico. Incrível a capacidade de fingir que não te botou chifres no baile de boas-vindas. — Respondi, procurando Noah pelos alunos.

— Nem me fale. — Joan bufou outra vez. — Mas tudo bem, pois vou sair com Joseph no sábado.

Joseph era um ótimo amigo do ex-namorado de Joan, Noah. E se bem conhecia o temperamento dele, aquilo daria uma bela confusão... justamente o propósito de Joan.

GenesisWhere stories live. Discover now