A Carta - Capítulo Unico

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"Eu não queria isso.

Clichê, não? Mas é a verdade. Não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Mas não controlamos a vida e, o pior, colhemos tudo que plantamos.

Você sabe, nunca quis ser um namorado controlador. Eu gosto dos seus amigos e do modo que se diverte com eles. Mas sempre odiei te ver bêbado. No começo, eram poucas vezes no mês. Mas isso mudou, virou praticamente uma rotina.

Isso quando você não chegava em casa no dia seguinte, cheirando a drogas e alcoolizado.

Tem alguma noção do quanto isso me destruía? As feridas que você me causou, quando dizia que iria cuidar de mim?

Tivemos muitos momentos bons, engraçados e emocionantes. Mas com o passar do tempo, a indiferença prevaleceu. Você já não me tratava igual antes.

Se não me amava mais, porque mentia?

Todas as vezes que quis terminar, quis encerrar essa relação, você chorava. Prometia que iria mudar, que me amava. E eu? Era tolo em acreditar. Porque eu sempre te amei.

Eu me iludia com as suas mentiras, e me machucava. Até parecia que eu gostava de chorar, de me sentir sozinho.

Nunca fui ciumento. Mas você despertou isso em mim. Afinal, você desaparecia por horas e não atendia o celular.

Comecei a pensar que eu não era suficiente.

Então prometa-me. Que desta vez vai ser diferente. Eu sei que não vai, mas me iludir é uma arte que dominei. Você foi a primeira pessoa que me viu como sou. Quebrado, cheio de cicatrizes, atormentado por meus demônios.

E foi por isso que me apaguei a você. A essa relação abusiva. Você tinha se mostrado ser tudo que eu precisava. E eu tolo, acreditei. Mesmo quando a farsa caiu, continuei acreditando, amando um homem que não existia. Um homem inventado.

Promessas soltas ao vento não tem valor. Céus! Como demorei a por em prática esta frase que tanto te falava. Porque eu era tolo, e inutilmente acreditava que iria te mudar. Fazer a mentira se tornar realidade.

Mas não foi assim que aconteceu, né? Eu me decepcionei tanto, que não consigo mais acreditar nas suas mentiras. Chega uma hora, que o ser humano prioriza nossa sobrevivência, nosso bem estar. Cortamos tudo aquilo que nos faz mal. E é isso que estou fazendo.

Por isso te peço, não me procure. Me esqueça. Pois é isso que irei fazer. Vai ser difícil, eu sei. Mas eu vou tentar. Graças a você, aprendi a viver um dia de cada vez e mesmo assim, me prevenir para os lados bons e ruins.

Estou pondo um ponto final nessa relação. Estou pondo um ponto final no meu sofrimento, nas minhas feridas que não param de sangrar. Mas um dia irão.

Eu sou ingênuo, eu sei. Por ser assim, eu desejo que fique bem, que encontre alguém melhor que eu e principalmente, que seja feliz. Tenha a felicidade que não obteve comigo.

Com carinho, Peter Parker"

Faziam 5 anos desde que Wade acordou e, ao seu lado, não estava Peter, mas uma carta. Virou um ritual a ler todos os dias, pesquisar nas redes sociais pelo menor, procurar qualquer mísera notícia.

Mas ele sumiu, tinha que aceitar isso.

Bom, era o que tentava. Tinha que se convencer disso. Por mais que não parecesse, amava o Parker. Não do modo clichê, como iniciava a carta. Era obsessivo. Peter Benjamin Parker era seu brinquedo, seu objeto pessoal e perdê-lo arruinou seus planos. Mesmo os bons ou ruins.

Mas naquele dia, algo o dizia que finalmente teria uma notícia.

A caminho do trabalho, acabou vendo uma manchete na televisão de uma loja de eletrônicos. E ela, destroçou seu ser.

"O excêntrico Anthony Edward Stark se casou hoje"

Parou para ver melhor. Estava errado, tinha que estar.

"Ao contrário do que muitos pensavam, Tony não se casou com sua secretária Pepper Potts, ambos afirmaram no altar sobre sua amizade pura e simples, tanto que a ruiva foi uma das madrinhas do casamento.

Stark, que já tinha fama de playboy e assumido publicamente como bissexual, casou com seu vizinho, um jovem chamado

Peter Parker"

I'll be fineOnde histórias criam vida. Descubra agora