Capítulo Quatro

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- A menina está pronta para ir embora, mas tenha cuidado e descanse bastante - recomenda a médica para Eva.
- Estava a ver que ia quase morrendo - declara Eva, com lágrimas nos olhos.
- A menina está bem, pior ficou o motorista que vai ter que usar uma cadeira de rodas para sempre...
- QUERIDA, ESTÁS FINALMENTE BEM? - interrompe o seu pai, Henrique, com os seus olhos expressivos esbugalhados, idênticos aos de Eva.
- Estou, pai, vou ficar bem... - declara com um sorriso tímido.
- AGORA QUEM ESTÁ A BERRAR NÃO SOU EU - declara Leonardo, a berrar.
- Estou muito feliz por ti - declara Bela com um sorriso resplandecente.

Eva facilmente se emocionou e sentiu uma mistura de emoções demasiado complexa. Por um lado estava feliz e saudável, mas por outro, a imagem de Valentim a abandoná-la não deixava a sua mente.

- Agora vê lá se começas a ter mais cuidado! Já percebemos que não te dás bem com autocarros - diz Henrique, a rir.

- Olha mas nós viemos no carro de dois lugares, por isso, vais ter que ir a pé - diz Leonardo com indiferença e recebe uma cotovelada agressiva do seu marido - meu querido rebento.

Eva já estava habituada a este tipo de ações sem coração por parte de seu pai, mas isso não significava que era uma facada menos tolerável. Assentiu com a cabeça e despediu-se dos seus pais.

A sua melhor amiga acompanhou-a na caminhada para casa, podia sempre contar com a Bela.
- Sabes... podias vir dormir comigo... quero dizer, a minha casa! Não devias ficar sozinha nesta fase de recuperação - sugere Bela num tom de nervosismo.
- Não te preocupes! Eu fico bem, e os meus pais também estão em casa apesar de tudo - esboça um sorriso - e tu também já tens companhia para a noite, não quero ser a terceira roda.

Bela baixa o olhar e sussurra para si: - Eu podia ser a segunda roda.

- O que disseste? Sabes que detesto quando dizes segredinhos!
- Disse que ao menos a minha roda não é um Valentim! - exclama Bela.

A expressão da Eva mudou radicalmente. Não acreditava que a sua amiga tinha descido tão baixo e insultado a sua relação. Só ela podia insultar a sua própria relação!

- Sabes Bela, estou ótima e não preciso da tua ajuda para nada! Adeus e vejo-te quando decidires ser uma pessoa decente.
-Ah! Não precisas da minha ajuda? Bom saber que vais voltar para mim a chorar como um bebé quando o Valentim não te ajudar!

Uma terceira pessoa assistia a disputa no meio do passeio. A espectadora segurava um pacote de pipocas, tinha cabelo escuro e olhos castanhos claros, uma rapariga esbelta que não passava despercebida.

- Está tudo bem aqui? - diz Aurora, a olhar para as suas pipocas.
- Tudo ótimo! Eu já estava de saída de qualquer maneira! - exclama Eva enquanto marcha agressivamente pelo passeio em direção a sua casa.

Bela suspira e observa a sua amiga a virar-lhe as costas. Arrependia-se de algumas coisas que tinha dito, mas Eva tinha que enfrentar a realidade e os factos do seu namoro ridículo.

- Então... queres ir tomar algo e ir dormir para o meu sofá enquanto falamos da tua desastrosa vida amorosa? - sugeriu Aurora, com um brilho nos olhos e... na sua camisola com purpurinas cor de rosa.
- Parece-me bem... vamos.

E, em um silêncio confortável, as duas amigas seguem para a casa de Aurora. Bela só queria distrair-se da sua complicada vida durante umas horas e passar algum tempo com a sua amiga era mesmo aquilo que estava a precisar.

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