Ouçam a música do vídeo na mídia, vai dar o clima certo para a leitura. Vale muito a pena!
Além daquelas quatro paredes, em qualquer direção possível, existia um mundo. Ela sabia disso, e desejava mesmo o conhecer, e não sabia ao certo o que realmente a impedia de transpor a ínfima barreira que a impedia. Não havia qualquer indivíduo que se colocasse contra esse intento. Existia ali uma porta, que por vezes ela usava, para acessar o exterior do quarto. A janela, sim por ela também era possível ver vislumbres do que havia além dos aposentos. Que não eram sua prisão, nada físico o era.
Sua família, e alguns outros diziam que o mundo era repleto de música, sons e poesia. Para ela nada disso fazia sentido. Viviam eles no mesmo mundo que ela? Tinham mesmo vivências tão ímpares as suas? Não era possível que entre os tons monocromáticos, e cinzentos de seu mundo, alguém pudesse suscitar cores vivas, e amplitude de sensações. Para ela além das paredes de seu quarto, e mesmo ali, existia o frio. Em sua forma mais selvagem e devastadora. A trilha sonora cabível era melancólica, funesta essencialmente. Especialmente nos dias maus.
Os dias bons existiam! Neles ela abria a janela, ao cair da noite mirava o céu. Dali era possível ver o céu salpicado de estrelas, mas contemplar o firmamento é pouco, para quem deseja voar. E ela queria, figurativamente, levantar vôo. Ser transportada para a realidade que tantos outros conheciam. Conhecer as cores, os aromas e sons que tanto ouvia sobre. Diziam que um passo era tudo que necessitava ser feito, então ela o dava. Uma música escolhida na playlist favorita da irmã espalhava suas notas a partir dos fones de ouvido, enquanto ela esboçava planos em seu velho caderno surrado. Um passo apenas! Um passo ela repetia em sua mente.
Sua irmã, três anos mais nova, treze anos, em algumas ocasiões lhe falou que era preciso um passo maior. Algo que a obrigasse a sair da zona de conforto. Conhecer pessoas novas, fazer amigos, quem sabe encontrar um namorado. Ela não entendeu, porquê zona de conforto. Isso significava que as pessoas consideravam que ela se sentia confortável com essa situação? Que sentia alívio em ter esse aperto no peito, que só lhe trazia angústia? A resposta da irmã foi: "Ella, você só vai saber se tentar. A mamãe sempre diz que só sabemos que encontramos a solução para um problema quando nos deparamos com ela. Tente, por favor!". Pela irmã, por seu desejo de não se sentir tão inapta, por sua vontade de ser mais do que era naquele instante. Ella tentou.
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Ella, esteve aqui
Short StoryElla estava perdida numa prisão de seus próprios sentimentos, e percepções do mundo. Sabores e gostos já não lhe significavam nada, e a vida parecia menos interessante a cada dia. Mas ainda há uma esperança! É o que sua irmã Valentina nunca deixa d...