TRÊS

1.4K 146 42
                                    

Uma semana

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Uma semana...

Tenho fome, muita fome e sede, mas não quero pedir nada pra ele. Me sinto fraco e o calor dentro do galpão é quase insuportável. Quero a minha mãe, quero o meu pai e tenho vontade de chorar. Porque eles não me matam logo?

_ Como ele está hoje?_ Cicatriz perguntou adentrando o local sujo e escuro.
_ Ainda não cedeu, Cicatriz, o garoto é valente.
_ Ele é um idiota, isso sim! Não vai me vencer e sabe disso.
_ O que quer que eu faça?
_ Desamarre-o, dê comida e água, e o traga para o topo. _ ordenou e saiu em seguida. O homem mal-encarado me olhou com um sorriso maldoso e debochado. Não sei o que significava ir ao topo, mas sinto que nada de bom vem por aí. Ele põe na minha frente um pedaço de pão e um copo de leite e a visão chega a me dá água na boca. Como tudo feito um animal faminto, sem lavar minhas mãos, sem nenhuma educação como me ensinaram. Fazia dois dias que não comia nada. Quando termino, sou forçado a sair do galpão e a luz do dia me causa uma forte dor de cabeça. 
O topo é um lugar horrendo, fede muito e tem rastros de sangue por todos os lados. Sinto medo de estar aqui, muito medo. Sou deixado no centro do lugar e Cicatriz me olha por um tempo, depois anda na minha direção e sem que eu espere, ele me dá um murro certeiro no rosto, me levando ao chão. Começo a chorar. Porra, eu sou só uma criança, porque ele está fazendo isso comigo?

_ Levanta! _ ordena. Eu não quero fazer isso. _LEVANTA PORRA!!! _ Ele grita. Assustado, faço o que manda e levo outro soco, ainda mais forte que o primeiro e imediatamente eu sinto o gosto do sangue em minha boca. Mais uma vez estou no chão. Ele ergue o meu corpo, puxando-me pelos meus cabelos. _ Escute bem pirralho do caralho, ou você faz o que eu mando, ou vai levar uma dieta dessa todos os dias, até aprender a me obedecer! O que vai ser? _ Não consegui respondê-lo, pois os soluços não me permitiam. _ Fala Marrento! _ grita perto demais do meu rosto. Eu não sou Marrento. Penso com raiva.
_ NÃO!_ gritei de volta e uma sucessão de socos e chutes começaram.

Abro os meus olhos e percebo que estou suado e ofegante. Caralho, quando ele vai me deixar em paz? Saio da cama e vou até uma janela do meu quarto, olho o lado de fora por longos minutos até me acalmar. Respiro fundo e resolvo sair um pouco. A casa está silenciosa e escura. Já é quase uma da madrugada e todos estão dormindo. Quando alcanso o último degrau da escada, noto a luz da cozinha acesa. O que Anita faz acordada a uma hora dessas? Ando a passos largos até o cômodo, e me deparo com ela... Fabi está intertida, fazendo algo no balcão. Ela está de costas pra mim e eu fico indeciso se a faço saber da minha presença, ou se a deixo sozinha ali. Com um suspiro lento e silencioso resolvo entrar no cômodo.
_ Acordada a essa hora? _ pergunto. Ela se assusta e no impulso, segura uma faca de mesa e em defesa, apronta o objeto pra mim. A garota ofega de repente, seus olhos não escondem o seu medo. Calteloso, ergo as minhas mãos e não me mexo do lugar, quero que saiba que não vou machucá-la.
_ Calma menina! _ peço em tom baixo. _ Desculpe, não quis assustá-la _ digo baixinho, avaliando o seu rosto. Ela me olha por um tempo e aos poucos vai baixando a faca e por fim, respira aliviada. O que porra ela estava pensando que eu fosse, um marginal?
Será que a minha cara diz tanto assim quem eu fui?
_O que está fazendo?_  insisto na pergunta, dessa vez olhandopara os materiais sobre o balcão. Ela segue o meu olhar.
_ Sanduíches _ diz em tom baixo.
_Pode... fazer um pra mim? _ sibilo, ainda analisando a garota. Ela assente sutilmente.
_ De que o senhor quer?_ pergunta sugestiva. Solto o ar que estava preso em meus pulmões e me aproximo do balcão.
_ De qualquer coisa, só faça _ falo com desdém. Ela volta para o balcão e começa o seu trabalho de montar os sanduíches. Sento-me no banco alto, de frente pra ela, para observá-la. Fabi só falta entrar nas fatias, ela não tem coragem de me encarar e nem de conversar comigo. _ Desculpe-me por ter sido um bruto com você! _ peço pra iniciar uma conversa. Ela ergue sua cabeça e os olhos escuros me prendem imediatamente. _ No meu quarto _ explico.
_ Está tudo bem! _ Ela diz voltando a baixar a cabeça.
_ Não, não tá tudo bem. Vamos deixar as coisas bem claras aqui, Fabiana. _ Ela volta a me olhar.
_ Não entre no meu quarto sem a minha permissão, não mexa nas minhas coisas. Quer ser a minha assistente pessoal? Ótimo! Mas só faça o que lhe for ordenado. _ Ela não fala nada, apenas me olha atenta. Até parece que foi programada para isso: atender e não contestar. Como um robô. _ Entendeu Fabi? _ indago, porque não quero que reste dúvidas.
_Entendi, senhor Alex. _ Respiro fundo. Esse "senhor" ainda vai me levar para o inferno. Penso.
_ Ótimo! _ Ela termina seu trabalho de montar os sanduíches, e põe um deles em um prato o colocando a minha frente. Eu o pego e mordo, sentindo o delicioso sabor da mostarda misturada na salada e no frango grelhado.
_ Hum, muito bom! _ digo, soltando um gemido apreciativo e pela primeira vez, vejo um leve sorriso brincar no canto de sua boca. Me pego curioso, como será o seu sorriso? Quando termino de comer, pego um papel toalha e limpo as minhas mãos e o canto da minha boca. Levanto-me do banco, e antes de sair encaro o bicho do mato, que está me fitando.

13. Meu Perfeito Delinquente - RETIRADA NESSA SEXTA, DIA: 12/11Onde histórias criam vida. Descubra agora