Bullet

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Vejo os primeiros vestígios do sol surgindo no horizonte, o que indica que o dia será com um céu azul resplandecente. Daqueles que se você olhar por muito tempo seus olhos começam a reclamar da claridade, e fazem lágrimas involuntárias escorrerem pelo seu rosto até chegar em seu queixo e marcarem o chão em um pingo, deixando um gosto salgado e tudo com aspecto grudento.


Muitas pessoas descrevem como sendo um "dia bonito", o que de minha parte é muito preconceituoso das pessoas acharem isso. Afinal, se não fossem os belíssimos dias nublados anunciando a chuva que está por vir durante o verão, todos iriam se queixar a muito pelo calor que parece cozinhar até suas entranhas.


Ainda bem que era um "belíssimo dia de sol" de inverno. Todos deviam estar glorificando um dia ensolarado entre tantos de intensa chuva que faz ser noite ao meio dia por suas escuras nuvens acompanhantes.


A leve brisa vinda do mar passa por meus cabelos fazendo-os balançar e virar uma juba de leão. Algumas meninas se desesperariam em minha situação, mas não eu. Apenas torço para cada vez mais sentir desses pequenos momentos de paz e tranquilidade, de alegria.


Balanço meus pés pendurados sob a famosa e movimentada rua à beira mar, agora deserta e com resquícios da chuva do dia anterior que, lentamente, evaporava conforme o sol dava as caras.


O mar brilhava com o nascimento de um novo e claro dia. Suas ondas se movimentando calmamente sobre a areia, quase como se estivesse acordando de uma boa noite de sono, sem pressa para levantar.


Os pássaros já começam a cantar alegremente em seus ninhos, fazendo as árvores ganharem vida.


Olho para o lado e vejo a garrafa de whisky, ainda pela metade, me encarando. Me intimando. A dura realidade da noite anterior cai sobre mim. Estava divagando, me distraindo do objetivo inicial.


Tomei a garrafa em minhas mãos e fiquei encarando-a. Um tempo se passou e meus dedos começaram a doer, foi quando percebi que estava colocando força demais ao redor do vidro que a qualquer instante poderia se partir em milhões de pedacinhos, rasgando toda pele de minhas mãos que encontrasse pela frente.


Aproximei o gargalo de minha boca e dei um longo suspiro encorajador. O odor de álcool que a bebida exalava entrou por minhas narinas fazendo arder. Após um acesso de tosse, finalmente tomei coragem e bebi um demorado gole e, com receio de não conseguir novamente se parasse ali, entornando tudo de uma vez.


Quando terminou, dei uma olhada para a garrafa vazia, então taquei-a longe pela avenida, que ao encontrar o asfalto se espatifou em pedaços, fazendo o local brilhar com o reflexo do sol, que já estava um palmo mais alto que da última vez que olhara.


Já conseguia sentir o álcool começando a fazer efeito em minha cabeça. Olhei para um pássaro que passava à minha frente, mas já não conseguia focar ele corretamente. Era agora ou nunca.


Cambaleante, fiquei de pé sobre o beiral do telhado do prédio em que me encontrava a mais tempo que o necessário.


Encarei o sol, brilhante, trazendo vida a tudo em que tocava com seus raios. O começo de mais um dia normal e ensolarado de inverno na pequena cidade aonde nasci, cresci, e muito certamente, morreria.


O álcool agora havia chego ao ápice de seu efeito, em que nada mais fazia sentido em minha mente.


Apesar de não ter visto ninguém desde o dia anterior por aquelas bandas, ouço uma voz distante, mas que sentia estar muito mais perto do que meu cérebro conseguia raciocinar. Ia cada vez ficando mais baixa... e mais distante. Gritando meu nome.


Dei meia volta e vislumbrei uma mancha preta desfocada, apenas o vulto de quem eu já sabia que era. Ele esticou a mão tentando alcançar a minha, que em algum momento havia erguido em resposta. Meu nome sendo gritado cada vez mais, mas escutava e processava cada vez menos. Chegara a hora.


Fechei os olhos e senti a brisa passar por entre meus dedos abertos, fazer o contorno em cada curva de meu corpo, balançar meu cabelo e bagunçá-lo ainda mais. E, com um último suspiro, me deu a força necessária para finalizar o que havia começado.


Pude sentir meus pés perdendo o chão, e meu corpo rapidamente pendendo contra o que fosse que estivesse do outro lado. Abri os olhos novamente e dessa vez pude distinguir suas características um pouco mais claramente.


Cabelos pretos, pele branca, roupas o mais escuras o possível. O braço ainda estendido em minha direção. Se distanciando cada vez mais e mais. Ouço meu nome, bem definido, uma última vez. Fecho meus olhos novamente, com a certeza que se aproximava o momento final.


Tudo pareceu parar por um instante. Os pássaros, o vento, o efeito do álcool, o barulho do mar, o calor do sol em minha pele. Apenas escuto um grito desesperado, finalizando o fatídico momento.


"Fique!"


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Alo, apenas para contextualizar um pouco, me inspirei na música Bullet do Hollywood Undead (vídeo acima) para escrever essa short story.

Faz uns anos que tenho ela guardada e só agora criei a coragem para postar, mas espero que gostem ♥

Pretendo escrever sobre outra música logo, já estou com uma música em mente e a história meio formada então, se a faculdade permitir eu respirar, vou tentar não demorar muito.

É isto. Não esqueçam de votar e comentar!

xx 


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⏰ Last updated: Apr 27, 2019 ⏰

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