O "sim" que não suportou o "pensar"

27 1 0
                                    

Foi muito rápido aquele encontro de olhares. Mas, aquela tarde tinha algo diferente. Nos olhamos no mesmo momento como se o anseio fosse ficar ali petrificado por horas sem desviar da curiosidade em saber o que estava realmente acontecendo. Não sabia nada ao seu respeito, da mesma forma que ele. Eu já vivia ali e jamais o tinha visto. Naquele dia sentou na cadeira atrás da minha. Nada típico. Mas, não tinha estranhado o motivo. Sempre havia muita gente e tinham outras cadeiras vazias. Só me dei conta quando meio sem querer olhei para frente e vi o seu olhar encontar o meu através do vidro espelhado daquele ônibus. Tentei desviar para outras direções quando percebi, mas ele ficou esperando outro encontro.
As horas passaram naquele dia. A aula tinha terminado e só me restava aguardar o ônibus e voltar pra casa. Quando subi vi ele sentado na primeira cadeira que eu sempre retornava. Mas, não exitei. Não mudei de lugar, permaneci ali. E até pedi que jogasse o lixo do lanche que tinha comprado após já ter me saciado. Pode ter sido meio que um atrevimento mesmo, mas até que achei engraçado. Kkkkkk. Ele estava mais perto do lixeiro né!
Poucos minutos depois perguntei o nome dele. Não podia ficar do lado de alguém que já tinha pedido até um favor e não saber ao menos o nome. Nos identificamos e outras perguntas surgiram até que chegou minha parada. Eu que costumava sempre dar aquele cochilo, nem tinha percebido que era a hora de descer.
Dias se passaram, e vi algumas coisas mudarem por ali. Já estávamos meio que amigos, daqueles que já se conheciam há uma década. Falávamos de quase tudo um pouco. E lembrar do outro trazendo lanchinho é algo pra nunca mais esquecer. É fofo! E assim uma amizade ia se fortalecendo.
Não foi nada difícil a troca de contatos, pois já fazíamos parte de um mesmo grupo, então já sabíamos o número de cada um. E conversar fora do olhar físico era mais fácil para disfarçar o nervosismo que ficava toda vez que perguntava algo e esperava a resposta fixando aquele olhar sobre o meu.
Ele sempre foi daqueles que surpreendia mesmo. E eu uma garota que carregava algumas decepções e já  não acreditava muito em gentilezas, por mais que isso sempre deixasse um impacto quando acontecia.
Eu tinha aquele olhar de alguém que havia ganhado outro amigo. Ele me olhava como sua futura namorada.
Foi aí que tudo começou!
Ele ia me conquistando aos poucos. Parecia que estudava o meu jeito. E eu  observava aquilo tudo acontecendo de um modo sem entender, mas sem interferir. Até que um dia ele procurou minha mãe e conversou horas com ela de assuntos sobre mim. Ousado ele né! Também achei! Somente depois me ligou pedindo que adivinhasse onde estava naquele exato momento. Isso mesmo! Quem achou que eu havia acertado errou feio igual a mim. Depois veio até minha casa e conversamos de boa, mas nada de novo aconteceu ali.
De repente eu parei e voltei a analisar o que havia acontecido. E a ficha começou a cair.
Ele estava tentando me mostrar que poderia dar certo e eu não conseguia enxergar daquela maneira. Eu me esquivei e ele sentiu isso.
Talvez eu tenha sido uma boba mesmo e ele não entendia o porque da minha reação. Procurava me decifrar e eu não permitia. Mas, não perdemos o contato.
Eu não conseguia acreditar que alguém poderia estar gostando de verdade de mim. Que toda aquela gentileza era real. Era por mim, pra mim. Sem segundas intenções. Sem esperar tanto, porque eu era o mais esperado. Eu só conseguia olhar o depois. As consequências se aquilo tudo fosse uma farsa. Iria abrir outras feridas, outras más recordações. E eu travei. Não consegui definitivamente dar aquele passo. Porque simplesmente me prendi ao que já havia passado por medo de sofrer novamente sem ao menos ter tentando.
E foi aí que algo mudou. Não ter tentando!
Então, resolvi marcar uma conversa pessoalmente. E não exitei. Mandei uma mensagem pra ele e combinei o horário. Tivemos uma conversa muito demorada. Falamos e supomos muitas coisas. Eu já decidida a tentar. Ele um pouco apreensivo, mas feliz por me ver e por estarmos tendo aquela conversa que talvez fosse a decisão de algo tanto esperado. Eu então finalizei dizendo que queria tentar. E ele me pediu para pensar.
Naquele momento eu não sabia o que fazer. Nos olhamos por quase 20min. após a resposta. Fiquei paralisada. Arrasada por dentro. E respondi que podia pensar. Nos cumprimentamos e ele foi embora.
Sozinha, eu não parava de pensar naquela resposta. Cogitei tanta coisa, tantas! Por quê me disse aquilo se me fez acreditar por um instante que era o que mais queria também? Não conseguia assimilar.
Antes de tudo isso se tornar essa grande confusão na minha cabeça eu sabia que ele tinha terminado um relacionamento fazia pouco tempo, mas havia me garantido que não existia mais nada definitivamente.
Um dos motivos também que me fez exitar tanto antes. Mas, ele asseverou que não existia mais nada mesmo.
E o que havia mudado? Meus neurônios turbilhavam de tanto procurar justificativas para aquela resposta. E eu não pensei mais e mandei uma mensagem dizendo que continuaríamos amigos mesmo.
Sabem o que é surtar quando leem algo que não esperavam? Foi o que aconteceu!
Ele não imaginou em nenhum momento que eu pudesse voltar atrás na minha resposta. Mas, eu voltei atrás!
Eu senti toda aquela indecisão voltar feito enxurrada em cima de mim. Eu tive medo não só do "não", mas de ser decepcionada outra vez! Concluí que ele podia estar tentando uma reconciliação com a ex-namorada. E eu não queria ser a indecisão ou até mesmo prêmio de consolo. Esperei ouvir um sim naquela noite e acabei ouvindo um "vou pensar" como resposta. Mas, preferia ouvir a verdade!

Esse foi um lapso de tempo como outros mais que virão. Acompanhe meus pensamentos!😉

Lapsos TemporaisOnde histórias criam vida. Descubra agora