CAPÍTULO 2

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"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria."

I CORINTIOS 13:2

- Leandro, estão te chamando na mesa cinco. – Gustavo, um dos garçons, passou correndo enquanto dizia. – E aproveita e desenferruja teu espanhol porque os caras são gringos.

- Estaba tardando... – O espanhol que aprendera num cursinho durante o ensino médio estava lhe dando frutos nesse momento. Conversou tranquilamente com os clientes que, durante a conversa, descobrira ser do Chile e estavam num passeio curto ao Brasil. Leandro fez os pedidos, sugeriu pratos da casa, orientou sobre os vinhos brasileiros e ainda auxiliou no pagamento da conta. No final, rendeu como comissão ao Gustavo. Tinha feito sua boa ação do dia.

[...]

- Nossa cara, morto! – Eduardo disse enquanto caminhava junto com Leandro até o ponto de ônibus. Era madrugada quando deixou as dependências do restaurante onde trabalhava. Junto com seu amigo, que inclusive morava próximo do rapaz, foram conversando amenidades, até que o assunto "Paula" voltasse a ser pauta. – E a Paula?

- Tá muito... – Antes que Leandro terminasse, Eduardo emendou.

- Não me venha com "tá muito bem, obrigado" que eu vou dar nas tuas orelhas. – O jovem riu.

- Você quer saber o que na verdade, ein Eduardo? – Ele ajeitou sua mochila nas costas enquanto fitava o horizonte verificando se vinha algum ônibus.

- Quero saber se vai ou racha. – Simples e direto, um jeito tipicamente Eduardício.

- A gente tá se conhecendo cara... – Leandro passou a mão pelos cabelos agora úmidos depois do banho que tomara antes de sair do restaurante – Eu deixando o tempo levar.

- Hum... – Eduardo pegou o celular e digitou um SMS para sua namorada que já dormia há horas. – A Paulinha deve ter te pego de jeito ein, garanhão.

- Nossa Du, tem horas que tu nem parece meu amigo. – O jovem comentou incomodado com a afirmação.

- Mas pensa assim Le, tu tem eu que valho por um inimigo que é mais amigo do que tudo. – Leandro só soube afirmar com a cabeça enquanto ria das gracinhas do amigo. Ele tinha razão, Eduardo era um amigo e tanto.

[...]

- Paula, você demora tanto pra ligar minha filha... – Joana fazia voz de choro ao telefone. – Assim eu morro de saudades da minha princesinha.

Era sempre assim. Toda vez que ligava para seus pais, que agora moravam numa cidade no litoral de Sergipe, tinha a mesma sensação de acolhimento e saudade embolados na garganta prendendo o choro.

Paula nascera em São Paulo, seus pais criaram os dois filhos em terras paulistas. Depois da vida feita, resolveram voltar para a família que estava no nordeste do país. Levaram seu irmão caçula, Pedro, que só tinha 13 anos e estava adorando a mudança dos pais para perto dos avós. Paula, já beirava os 23 e resolveu ficar mais um pouco. Disse que queria guardar mais dinheiro e que depois iria para junto dos pais. A moça tinha pouca idade, mas grandes sonhos em seu coração. Queria estudar, fazer uma faculdade, morar na terra dos pais e seguir a vida. Do jeito que Deus escreve, certinho pelas linhas tortas.

Sendo a primogênita, seus pais viviam lhe pedindo para que voltasse para casa. Ela estava com tudo programado para o final do ano, mas aconteceu que um jovem rapaz apareceu em sua vida e agora, não sabia se essa viagem realmente aconteceria. Gostaria de confidenciar tudo para a mãe, mas não tinha coragem de dizer sabendo que Leandro e ela mantinham uma relação sem nome e que durava apenas poucas semanas.

- A sua benção mainha. – Paula ditou e recebeu o cumprimento de volta. – Estou bem, só um pouco cansada do trabalho.

- Você já sabe que pode vir quando quiser, não é? – A mãe falou num tom acalentador. – Pedro se adaptou bem. Só o velho Manoel que fica toda hora pedindo a Deus que nossa princesa venha logo ficar com a gente.

E foi assim que a conversa se seguiu. Foram algumas palavras e amenidades jogadas pelo telefone que nem sentiu a hora passar. Quando parou para ver, eram quase dez horas da noite. Havia perdido suas novelas e o jornal que costumava ver. Mas, conversar com a sua mãe era um acalento às suas tempestades emocionais.

[...]

2 a.m.

Paula, tá aí?

2:02 a.m.

Paula, se tiver acordada me responde.

2:05 a.m.

Paula, queria te encontrar agora.

2:07 a.m.

O que aconteceu Leandro?

2:09 a.m.

Nada demais, é que estou de folga amanhã e queria ficar com você hoje.

2:11 a.m.

Você quer é me matar do coração.

2:15 a.m.

Jamais Paulinha, posso passar aí?

2:16 a.m.

Vai ficar?

2:17 a.m.

Até o dia amanhecer.

2:19 a.m.

Vem.

[...]

- Você é doido. – Ela disse quando recebeu o rapaz na porta da casa onde, agora, morava sozinha.

- E você mais ainda. – Ele, envergonhado, sorriu. – Seus pais não ensinaram a não abrir a porta de pijamas?

- Não vou comentar sobre isso. – Ela sorriu gostosamente e ambos entraram em casa. Comeram, beberam, conversaram e viram um filme. Tiveram momentos de namorados comuns com histórias comuns. Não viram a hora passar e não chegaram a reparar que horas eram quando Paula pegou no sono recostada no pescoço de Leandro.

Esse, por sua vez, também havia pego no sono e tudo o que queria era só dormir ao lado dela. O motivo da sua alegria nas últimas semanas.

O SOL DE JULHOOnde histórias criam vida. Descubra agora