Era uma tarde chuvosa quando eu a deixei. Era uma tarde fria, chuvosa e triste.
Meu corpo estava prostrado, ajoelhado contra a grama molhada. A calça do meu terno preto estava molhada e suja de lama, pela terra recém-revolvida.
Apoiei minha mão contra a lapide de mármore, correndo os dedos pelas inscrições, sentindo como se fosse um ultimo adeus. Uma ultima vez em que eu iria tocar algo que ainda tivesse o cheiro dela.
Fechei os olhos, deixando minha mente vagar em busca da garota de olhos verdes. Linda, cheia de vida. A garota que eu havia ajudado a destruir. Eu lembrava exatamente da primeira vez em que a vi. Eu me lembrava de pensar que nunca uma garota como ela iria querer um cara como eu. Eu me lembrava do primeiro beijo e de como ela tentava parecer confiante, mesmo estando assustada em meus braços, quando eu a fiz minha. Suspirei, sentindo as lágrimas completarem o trabalho que a chuva havia começado.
Nesse mesmo instante, a mão repousou sobre meu ombro, calma, gentil, mas forte, como eu precisava que fosse. Virei-me para encontrar os olhos claros de Alexander. Meu amigo. Meu irmão. Ele não disse nada. Tinha os mesmos olhos vermelhos, o mesmo semblante triste, cansado que eu tinha. Haviam sido muitos meses de dor e sofrimentos. Muitos meses de noites em claro com um bebê recém-nascido nos braços esperando que a mãe estivesse forte o suficiente para embalá-lo, até que ele mesmo desistiu, apegou-se ao colo que podia ter. Meu, de Alex, de John, foi assim, até que ela finalmente desistiu. Não podia mais lutar e eu não podia mais vê-la lutar.
Levantei-me e olhei ao meu redor. A maioria das pessoas já haviam ido embora. Estávamos apenas Alex, John e eu. Meu filho tinha uma rosa cor de rosa nas mãos. Ele caminhou até a grama revolvida da lapide e a colocou ali, correndo os dedos pela placa de mármore fria, como eu havia feito á pouco. Olhos vermelhos perdidos no horizonte, jovem demais para aquele terno preto.
Lembro-me de tudo como se fosse hoje. Lembro-me do cheiro da terra molhada e da dor lancinante que senti ao ver meu filho sofrer daquele jeito. Eu me lembro de sentir que faria qualquer coisa para que a dor que ele sentia viesse toda para mim. Eu não pude. Não havia nada que eu pudesse fazer naquela hora. Eu havia passado tempo demais preocupado comigo mesmo para entender que eles precisavam de mim. Eu havia passado tempo demais aproveitando minha vida, meu dinheiro, minha fama. Tempo demais perdido comigo mesmo.
Egoísta – minha mente repetia em silencio – tudo isto está acontecendo porque você foi egoísta demais para olhar ao lado e perceber que eles precisavam de você.
Apertei meu filho contra os meus braços, sentindo sua resistência em ser consolado. Ele era forte. Era maduro e bom. Muito melhor do que eu nunca havia sido.
Fechei os olhos, sentindo finalmente sua cabeça pender contra o meu peito, soltei o ar devagar, jurando que nunca mais me permitiria estragar a vida de alguém. Eu viveria por eles. Eu os protegeria. Cuidaria deles. Eu seria o pai que não havia sido até agora. Eu seria o pai que o meu não foi. Eu nunca mais me permitiria ser levado por sentimentos. Nunca mais.
Trilha Sonora:
DOWN - Jason Walker: https://www.youtube.com/watch?v=VvGYYg40Ijw
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Tão Perto
Romance***Este livro permaneceu completo até dia 06 de fevereiro de 2015, conforme informado. Á partir de então ficaram apenas capítulos de degustação*** Quando tudo que se pode fazer é confiar, uma pergunta se torna necessária: "Até onde você iria por amo...