Parte única

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 As buscas já acontecem a dois dias e não encontraram nada até agora. Eu olho o oceano procurando por respostas, sentindo raiva das ondas que vem e vão. Foi tudo tão rápido, eu ainda não acredito. Eu tinha ido comprar sorvete e ele continuou jogando vôlei com os outros rapazes. Eu olhei para trás e eles estavam lá, todos juntos se divertindo e então alguém jogou a bola longe demais e Mauro entrou no mar para buscá-la. Eu só perdi um minuto. O vendedor de sorvete chamou minha atenção e eu tirei o dinheiro do bolso para pagá-lo. Quando voltei para junto dos outros da turma ele ainda não tinha trazido a bola de volta. Nós olhamos, esperamos e nada. Então começamos a procurar por toda a praia, perguntando a pescadores, banhistas, vendedores, mas ninguém tinha visto ele sair da água. Voltamos para o hotel e acionamos a guarda costeira e a polícia local. Estávamos tão assustados, sem saber o que tinha acontecido. Eles determinaram o perímetro e colocaram equipes de buscas no mar. A polícia interrogou cada pessoa da turma até que chegou a minha vez. Foi um longo e cansativo interrogatório, eles perguntaram sobre a vida que Mauro levava, sobre sua relação com a família, sobre o nosso namoro. Se ele apresentava algum quadro depressivo, se tomava remédios. Eu tentei responder à tudo de forma sóbria, mas eu estava em choque. Mauro e eu namorávamos a três anos, começamos no fundamental e pensávamos em nos casar um dia. Eu ainda não havia assimilado o fato de que talvez ele não voltasse. Quando saí da sala de interrogatórios encontrei os pais dele na sala de espera. Eu mesma havia ligado, achei que seria mais fácil se eu desse a notícia. Tentei parecer calma, não queria assustá-los. Dona Dora era hipertensa e seu marido ainda estava esperando o resultado dos últimos exames do coração. Ele parecia saudável, mas eu não quis apostar. Nos falamos e em seguida um policial veio buscá-los para depor.

Voltamos para o hotel e aguardamos. Depois de vinte e quatro horas de buscas com mergulhadores e barcos a guarda costeira informou que não tinha mais possibilidade de que ele estivesse vivo e que agora eles estavam focando em achar o corpo. Seus pais não paravam de chorar, todos nós sofremos com a notícia. Meus pais acharam melhor que eu voltasse para casa, mas eu não queria ir embora, seria como admitir que ele estava morto. Esperei até a estadia no hotel acabar. Cinco dias desde o desaparecimento e não haviam encontrado nada ainda. A notícia voou e repórteres apareceram de todos os cantos. Nesse meio tempo fizemos tudo que podíamos para ajudar, espalhamos cartazes pela cidade, colocamos depoimentos em redes sociais. até termos que voltar para casa. Eu acompanhei cada notícia sobre o caso. A polícia cogitou várias hipóteses:

Que poderia ter sido ataque de tubarão, mas não encontraram sangue ou roupas rasgadas. Poderia ter ficado preso em algum coral, mas os mergulhadores olharam e não havia nada. O mais provável era que ele tivesse se afogado e sido levado pela corrente, mas o corpo nunca foi encontrado. Um mês depois as buscas terminaram sem resultado algum. Seus pais, no entanto, nunca desistiram da ideia de ver o filho voltar para casa. Acho que teria sido mais fácil para todos nós se tivéssemos tido um funeral para chorar.

Anos se passaram, eu tive que seguir minha vida assim como todos os demais. Eu cursei jornalismo e me tornei uma repórter investigativa. Eu decidi que correria atrás de casos dos quais as pessoas já tivessem desacreditado. Até então eu havia conseguido. Se era uma profissão perigosa? Provavelmente. Para mim isso não importava, eu queria que aquelas pessoas tivessem respostas concretas, respostas que eu não tive. Fiz muitos documentários e a maior parte ganhou prêmios importantes, com isso pude ser reconhecida mundialmente pelo meu trabalho. Não se pode agradar todo mundo, no entanto. Também tive minha cota de anti-fãs, afinal os "fatos óbvios" não contam toda a verdade. Certa noite enquanto bebia uma taça de vinho sentada no meu sofá recebi uma ligação da mãe de Mauro. Eu atendi de imediato com medo de que talvez tivesse acontecido algo.

- Dora, está tudo bem?

- Ruth, querida. Está sim. Eu precisava falar com você por isso liguei. Eu e Renato queríamos lembrar você sobre o aniversário de Mauro. Você não esqueceu, não é?

Além do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora