Prólogo

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Já era noite quando Sehun finalmente limpou as mãos no pano já todo manchado pela graxa. Fechou as portas da oficina e saiu pela parte de trás, que dava diretamente para sua casa. O dia dele? Longe de ser cansativo, apenas um carro para consertar. Estava realmente cogitando a ideia de fechar a oficina, quase não havia trabalho para ele.

Tentou afastar as preocupações sobre o negócio e foi diretamente para o banheiro. Mesmo que não tivesse trabalhado tanto, o único serviço o deixou bastante sujo. Tirou toda a roupa e primeiramente se olhou no espelho. Os músculos razoavelmente definidos por conta do trabalho pesado que tinha e a pele pálida por não sair no sol eram de destaque. Suas mãos manchadas pelo lubrificante, até mesmo seu rosto tinha algum resquício do óleo preto. Além disso tudo, Sehun exalava o cheiro forte do produto, mesmo que ele não percebesse por já estar tão acostumado com o mesmo. Ligou o chuveiro e sentiu a água morna tirar a tensão que seus músculos tinham. Depois de sair do banho, foi até a cozinha, apanhou uma xícara de café e um cigarro, algo rotineiro, um ritual depois do trabalho.

Antes, ele tinha um boa freguesia, então dedicava quase todo o seu tempo á oficina e era algo que ele gostava de fazer, mas, conforme as semanas foram passando, seu número de clientes diminuiu muito. Estava cogitando a ideia de fechar a oficina e as vezes até se amaldiçoava por ter escolhido seguir os passos do pai, também mecânico.

Bebeu e fumou lá fora, observando as ruas quase vazias da região de Seul em que morava, mesmo não sendo retirado, não era um bairro bonito, então, quase ninguém andava por ali. A rua era iluminada apenas pelas luzes alaranjadas dos postes e ele conseguia ouvir os sons abafados da parte mais central de Seul, carros, buzinas, música alta... Assim que deu a última tragada no cigarro, sua atenção foi tomada pelo barulho de motor, mas que logo cessou. Liberou a fumaça pela boca e olhou para a direção de que o som vinha.

Exatamente embaixo de um poste, Sehun viu um homem magro, encostado em seu carro, com o capô aberto, praguejando algo no telefone. Trabalho para ele. Sorriu de canto e jogou a ponta do cigarro no chão, pisando sobre a mesma, caminhou até o homem, na esperança de ajudá-lo.

Luhan se despediu dos pais com um sorriso, mesmo que fosse sentir falta, sair de sua cidade pequenina e ir para a capital era, de fato, pelo menos um pouquinho assustador. Deu partida no carro, novo, que ganhara há pouco tempo de seu pai, para que pudesse ir á outra cidade sozinho e começar sua vida de universitário. Já era tarde da noite quando ele chegou em Seul, sentiu um súbito frio na barriga, com uma pontada de ansiedade. Decidiu ir diretamente para o seu apartamento para descansar, deixaria a euforia para a manhã seguinte, horas dirigindo sugaram toda a sua energia.

No meio do caminho, em um bairro praticamente deserto, seu carro simplesmente morreu, frustrado, pegou o telefone e ligou para o mecânico que sabia que era um dos melhores da cidade, sem sucesso. Ele não atendia a ligação. Luhan o amaldiçoou com palavras, ele só queria ir para casa descansar.

Ouviu passos atrás de si, se virou assustado, e arregalou os olhos ao ver a figura alta do homem á sua frente.

— A minha oficina é ali, na próxima quadra. Eu posso te ajudar.

Luhan conseguiu enxergar um sorriso no rosto do outro, mesmo que estivesse um pouco escuro onde ele se encontrava, e assim que o mecânico se colocou embaixo da luz alaranjada, o chinês conseguiu ver os traços belos do seu rosto. Assim que abriu a boca para falar com o outro, ele passou direto por si, indo até seu carro e entrando nele, que estava com a porta do motorista aberta.

Funcionou o carro, ainda com a porta aberta e colocou a cabeça para fora, tentando checar os faróis. Saiu dali e olhou no motor por alguns segundos.

— Os faróis estão fracos, logo deduzi que seria a bateria, fui checar e os polos estão cheios de óxido. É só limpar e recarregar que seu carro fica novinho. Vou buscar o carregador, já volto.

Luhan sorriu amarelo. Situação extremamente estranha, mas ele estava grato por um mecânico bonito aparecer no meio do nada para salvá-lo. Um anjo, talvez.

Não demorou muito para o moreno de camiseta listrada aparecer novamente e recarregar a bateria do carro. O outro sentiu uma sensação enorme de alívio, finalmente poderia ir para casa e descansar. Aquela foi definitivamente uma noite de sorte para o chinês, ele ficava cansado só de pensar na possibilidade daquele homem não aparecer ali para salvá-lo.

E, novamente, no mesmo segundo em que iria agradecer, o moreno tirou as palavras de Luhan,

— Trinta. — O mais alto disse, e quando percebeu a expressão de confusão do magrinho, soltou uma risada abafada. — Ah, qual é? Você tem a maior cara de riquinho! Dá uma força aí. — Luhan riu fraco e lhe entregou a quantia em dinheiro. — Valeu!

— Obrigado pela ajuda. Eu sou Luhan, qual é o seu nome?

— Oh Sehun.

Sehun, o Mecânico • HunhanOnde histórias criam vida. Descubra agora