Your Melanin 《jjk BTS》

A sua paleta de cores.

Será que ela acreditaria se eu dissesse que nunca havia visto ninguém igual, assim, tão de pertinho? E que a olhar atentamente sempre me deixava fascinado? Eu realmente não sei. Não faço a mínima ideia do porquê ela diz não gostar da cor de sua pele ou do quanto seus cachos deveriam ser lisos como os meus cabelos.

O que eu sabia e tinha certeza era de que tudo nela era impecável. Cada traço a tornava ainda mais especial para mim. O preto de suas íris, o preto de sua pele, o preto dos cachos volumosos que lhe caiam tão bem; o preto que a fazia chorar.

— Acho que eu deveria alisar. — ditou em frente ao espelho, se analisando da cabeça aos pés e puxando de leve uma mechinha enrolada que se desfez ao esticar e novamente se enroscou quando a garota soltou. — E perder algum peso.

— Por quê? — meus olhos se voltaram para a menor e observaram cuidadosamente cada detalhe da mesma, meu queixo apoiado sobre a palma de minha mão.

Acabei deixando um sorrisinho bobo me escapar inconscientemente enquanto a fitava de longe. 

— Talvez eu me encaixe melhor aqui. — o tom de tristeza em sua voz me fez suspirar. — Talvez faça eu ser mais aceita.

— Você encaixa bem em mim. Comigo. — falei ao me aproximar por trás, a abraçando na curvatura da cintura que ela tanto odiava e apoiando o queixo agora em seu ombro. Seu perfume doce parecia tão natural quanto o turbilhão de sentimentos que se reviravam dentro de mim só de estar perto da outra. Meus olhos miraram os nossos reflexos no espelho e imitei o beicinho dos lábios alheios. — E só quem precisa aceitar alguma coisa aqui é você com você mesma.

— O que tanto vê em mim afinal, Jeon Jeongguk?

— Tudo o que você se recusa a ver. — a aconcheguei mais em meus braços, seu tom de pele contrastava com o meu de um jeito que me deixava completamente imerso em sua cor mais intensa, em seus cachos sublevados, atento em cada detalhe que a fazia diferente e que ela mesmo dizia não gostar.

Reparei em cada voltinha que as madeixas de tom negror davam, das mais fechadinhas até às mais abertas, do volume intrigante que todas criavam juntas e que combinava em exatidão com a beleza que ela carregava consigo. Aquela que eu não conseguia deixar de notar, de contemplar, de me apaixonar por ela mais e mais. A beleza que ela não via, mas que com nitidez eu me pegava enlevado.

— Não é tão fácil assim, Jeon. Os olhares que recebo, as piadinhas, a diferença que sinto quando estou em qualquer lugar nesse país.

— A Coreia é um lugar cruel, principalmente por não conseguir enxergar tão bem quanto eu o quanto você é linda assim, desse jeitinho, sem mudar nada.

E pela primeira vez naquele dia vi os cantos de sua boca se repuxarem querendo deixar ali um sorriso delineando os lábios carnudos. A melanina onusta destacava as suas linhas, suas particularidades, sua identidade, o bonito que se sobressaia por mais que a distinção fosse a sua maior preocupação.

Como eu a faria entender que ela tinha nascido do único jeito que deveria ter: como ela,?

O que eu mais sabia fazer era prestar atenção, atinar seu sorriso, a imensidão de nuances que a caracterizava, a forma como tinha me feito seu sem a menor pretensão, o quanto era linda apenas por ser ela mesma e o quanto havia ressignificado minha vida com a sua paleta de cores.

— Eu sei que você pode ter a garota que quiser, Jeongguk. A coreana perfeita e bonequinha que todos exaltam e querem. Por que eu? — os braços alheios me abraçaram de volta quando a outra se pôs de frente para mim. A troca de olhares demorados e o mesclar de nossas respirações próximas foram o suficiente para me fazer roubar um selar seu acompanhado de um sorriso que saiu sem que eu sequer percebesse.

— Porque é você. Sempre vai ser você. E mesmo que não me quisesse, ainda seria você. — encostei as pontas de nossos narizes gordinhos, sorrindo pequeno.

— Você faz isso parecer tão fácil, Ggukie. — rascunhou um sorriso fraco.

— Queria que você o fizesse também.
Queria que visse o que vejo. Que você é linda, absolutamente perfeita por ser você. Seu cabelo, sua cor, seus quilos a mais ou a menos, cada detalhe que eu conseguia notar que te faziam se sentir menos era o que te faziam ser mais, ser você.

Por mais que o mundo às vezes insista em dizer que não, você nasceu incrível, no seu próprio padrão.

Eu acabei me perdendo no negro intenso da sua pele, no pigmento que te constrói e na maré de ondas que seus cabelos emergem; acabei me deixando levar nas minúcias que te completam e me apaixonei pelo que você tem dentro de si, porque, na realidade, é isso que mais importa.

É isso o que te resulta e te reflete, o seu cerne. O âmago que traz sob qualquer característica que refute e que olhar maldoso, palavras insensíveis e preconceitos desnecessários nenhum podem tirar de você. 

Mas, de qualquer jeito, meu deus! Tua cor, teu tom, tudo em ti que lhe é tão particular, cada detalhezinho que te faz ser você, me tira todo o fôlego.