PRÓLOGO

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                Minha vida nunca teve muito sentindo, cresci acreditando viver em um mundo paralelo. O tempo todo buscava um motivo para minha existência, no meu interior perpetuava um vazio, uma solidão, uma tristeza que não encontrava as respostas para tanto sofrimento. Eu era apenas um garoto que vivia em uma orbita oposta dos demais, resultado da criação divina e como todos os seres supostamente humanos feitos de carne e ossos sentia medo, medo do que o mundo lá fora poderia fazer comigo. Ás vezes a revolta tomava conta do meu inconsciente, pois, tudo o que mais desejava era ser igual aos outros, porque assim, seria possível evitar que as hostilidades dos olhos famintos que se camuflam nas ruas pegassem-me como presa na densa relva cinza que vivemos. Porém, com passar dos anos percebi que era idiotice querer ser como os outros, uma vez que a beleza da vida está no ser diferente, mesmo que uma parte da sociedade não consiga aceitar essa concepção. Hoje, consigo entender que a vida é feita de fases e, talvez a adolescência tenha sido a pior delas para mim, porque neste período vivemos as descobertas do que somos e queremos e estas escolhas serão o reflexo do futuro de cada indivíduo.

Bennie, encostado na janela de seu leito, se perdia em suas reflexões. No fundo ele questionava se a felicidade realmente tinha sido escrita para uma pessoa como ele, ou, ter-se nascido assim fosse uma punição da natureza divina para a hipocrisia de uma sociedade altamente persuasiva e cruel. Enquanto o jovem bruxo buscava soluções para a culpa que estava sentindo, sua fiel amiga adentra o quarto rompendo as suas reflexões.

── Bennie! Diz Amanda.

── Olá, Amanda, tudo bem?

── Sim, estou, mas, e você?

── Estou confuso para definir como estou neste momento. Diz Bennie deprimidamente.

── Sinto muito pelo que aconteceu.

── Obrigado por esta aqui. Diz Bennie segurando a mão da amiga.

── Pare de se culpar! Exclamou Amanda ao amigo.

── Eu tinha que ter evitado. Diz Bennie com os olhos marejados.

── Pense que ele faria o mesmo por você, por falar nele, como está?

── Irá sobreviver a tudo isso. Bennie ficou cabisbaixo.

── Disso eu tenho certeza. ── por alguns minutos ambos ficaram em silêncio ── Bennie, sei que não é o melhor momento e, também, não queria me envolver entre vocês, mas sou sua amiga e preciso expressar minha opinião. Por isso, quando Jhonny acordar não perca mais tempo, conte a ele sobre seus verdadeiros sentimentos, permita-o conhecer o Bennie que eu conheço.

── Amanda, acredite, é tudo o que mais quero, mas, eu não faço ideia de como dizer o que sinto por ele. Talvez você não consiga me compreender, mas tenho medo.

── Realmente não compreendo. O Jhonny praticamente deu a vida por você, acredito que ele mereça saber que você o ama, pois ele sempre foi honesto com os sentimentos dele em relação você.

── Sei que você tem razão. Não há como evitar o inevitável.

── OK! Tenho que ir agora, amanhã farei o possível para vir vê-lo.

── Obrigado mais uma vez minha amiga. Desculpe-me por não a levá-la até a porta, não quero me distanciar dele.

── Não há problema, eu conheço bem o caminho. Até amanhã.

── Até amanhã.

Amanda desceu as escadas, Bennie voltou para o quarto em que Jhonny estava se recuperando. Sentando-se em uma poltrona oposta da cama do enfermo, Bennie começa a relembrar todos os acontecimentos de sua infância, lembranças estas que se volta para o período do colégio e nesse naufrágio de recordações o som da voz de Jhonny o desperta para a realidade.

── Bennie! Exclama Jhonny exaurido.

── Oi, fique calmo, estou aqui Jhonny.

── Como é bom poder olhar para você outra vez.

── Não fale, você precisa descansar.

── Bennie, eu tenho a eternidade para descansar, esqueceu que sou um vampiro.

── Da mesma forma que teremos muito tempo para falarmos. E aliás, é impossível esquecer-se disso.

── Obrigado! Diz o frágil vampiro.

── Obrigado, por quê?

── Por ter ariscado sua vida para salvar a minha.

── Uma vez você fez o mesmo por mim e, deixar você morrer estava fora de cogitação.

── Mas o que eu fiz tem uma explicação. A voz de Jhonny falhou pela emoção.

── Tem? E qual é? Quis saber Bennie.

── Que eu te amo, acredite, desde a primeira vez que nossos olhares se cruzaram na...

── Primeira vez? Bennie ficou surpreso.

── Sim, ainda estávamos no colégio, ainda éramos dois adolescentes vivendo uma fase de descobertas. Só que eu não estava preparado para este novo mundo, mas se eu soubesse que seria tão bom a nossa relação, que viveria os melhores momentos da minha vida, teria feito tudo diferente.

── Tudo tinha que acontecer como aconteceu. Não podemos voltar no tempo, mas podemos melhorar o presente para termos um futuro esperável.

── Bennie, pode me responder uma pergunta?

── Sim, quantas você quiser.

── Você me ama? Ou, será que algum dia você conseguirá me amar? Jhonny precisava ouvir de Bennie, o que o bruxo do fogo realmente sentia por ele.  

O DESPERTAR DO FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora