Bom dia, seu Zé

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O ano era 1997. Eu tinha 5 anos. Fui com meu avô ao mercado, para dar alguns minutos de casa silenciosa à minha avó e, na volta, passamos no açougue. Na cordialidade do atendimento, risadas eram trocadas em meio a piadas recicladas do jornal e jogos de palavras que só eles pareciam achar graça. A verdade é que meu avô nunca soube o nome daquele jovem açougueiro, mas recebia sempre um aceno sorridente junto ao "Tenha um bom dia, seu Zé!". E não era só ele. Mais de 75% do bairro era território dominado pelo seu Zé.

Ele não tinha intenção de criar laços, mas tudo nele atraia as pessoas para uma conversa besta, um cumprimento simpático ou uma provinha de melancia na feira. A postura confiante, a feição amigável, o riso solto e uma história do tempo de roça. Um conquistador culposo.

O ano é 2018. A população de "Seus Zés" caiu drasticamente. Saíram de linha e a produção massiva dos millennials sobrecarrega as máquinas. Prioridades mudam. Quem caminha não acompanha os novos tempos. E olhando para os que estão vindo, talvez incluir no currículo algumas aulas de empatia possa ser um diferencial.

Será que ouviremos muitos "Bom dia, seu Enzo" ?

Bom dia, seu ZéWhere stories live. Discover now