O amor seria algo obrigatório? Seria algo imposto pela sociedade? Algo que todos devessem seguir? Algo que todos devessem sentir? Michael não sentia e se culpava por isso, todos estavam sentindo o que era o amor e ele estava no vazio, não sabia o que deveria fazer, não sabia onde deveria procurar o amor. Na rua movimentada, pessoas andando de um lado para outro, com seus celulares, falando entre si, conversando, esbarrando umas nas outras, apesar de tudo todas elas sentiam o amor, era necessário sentir. Michael estava sentado no telhado de sua casa, a ventania fazia seu cabelo mexer, tirou seu celular do bolso e foi para seus contatos, passou pela lista de dezenas de conhecidos, todos eles estavam amando, ele passava pelos contatos até que parou em um. Margô. Ele havia conhecido no elevador de seu trabalho, talvez ela estivesse amando também, ele não saberia, mas era bem provável. Queria ligar para ela, quem sabe convidá-la para sair? Um café talvez? Já havia semanas que vivia encontrando com ela no elevador e havia poucos dias que ela havia dado seu número para ele, talvez ela estivesse esperando sua ligação. Ele desligou o celular, colocou no bolso, não conseguia ligar ou não estava pronto, não sabia ao certo. A ventania ficou mais forte, Michael observava a cidade, turbulenta, movimentada e amável, quer dizer, todos estavam amando, ele conseguia ver de longe um grande outdoor coberto de corações, dizia a frase "Você já disse um eu te amo hoje?". Michael nem conseguia contar quantos "eu te amo" havia dado daquele dia, para os vizinhos, para as pessoas no trabalho, para a mulher no elevador, para os parentes. Não sabia quantos "eu te amo" teria que dar para realmente amar, ele procurava isso em todos os lugares. A ventania ficou mais forte, ele percebeu que estava começando a chover, saiu do telhado descendo para a varanda da casa, já estava acostumado com isso. O vento forte fazia as cortinas da varanda balançarem livremente, Michael entrou no quarto, lá estava sua irmã deitada na cama, não olhou quando o viu entrando pela varanda.
-Vai quebrar alguma parte do corpo subindo no telhado. -Disse sua irmã.
-Assim eu ficaria mais tempo aqui, sob seus cuidados.
-Eu iria te deixar no hospital e sair da cidade. -Ela disse com um sorriso. -Rachel precisa mesmo de umas férias.
-Rachel não saberia se está de férias, mas sentiria saudades do tio maneiro, ela não sabe falar ainda, mas tenho certeza que ela falaria "Vai buscar o tio Michael".
-Com certeza. -Ela disse depois de algumas risadas, o celular dela começou a tocar, ela atendeu. -É a Michelle, ...Okay, ah... espera um minuto, Michael pode buscar minha bolsa lá na cozinha?
-To indo. -Enquanto Michael saia de perto do quarto, conseguia ouvir sua irmã falando com a pessoa no telefone, conseguiu reconhecer o "eu te amo" na conversa.
A casa de sua irmã era bem grande, conseguia-se andar livremente pela casa, sem esbarrar-se em nada, ou tropeçar, ela havia conseguido bastante dinheiro no decorrer de sua carreira, fascinante com uma politica poderia ganhar dinheiro amando todos, ela era responsável pelos milhares de outdoors espalhados pela cidade e pelos sábados do amor, Michael adorava esse dia, a cada sábado tinha chance de encontrar alguém novo, uma chance nova, quem sabe no próximo sábado poderia encontrar o amor. Atravessou o corredor que continha três quartos, em um deles estava a pequena Rachel dormindo, desceu as escadas e dobrou a esquerda onde estava a excecionalmente comum cozinha de sua irmã, havia uma mesa circular de tamanho médio que ocupava uma parte considerável do cômodo, ao redor da mesa havia quatro bancos dourados, Michael não sabia o motivo daquela cor, onde em um estava a mochila dele, havia várias prateleiras, uma pia, dois fogões modernos e uma elegante geladeira, Michael sabia que uma politica renomada como sua irmã poderia ter bem mais, porém ela não gostava de tanto assim, apesar disso suas poucas coisas eram de um preço que nenhum amor poderia comprar, muito menos o dinheiro, em cima da mesa estava a bolsa da sua irmã, de repente Michael se assustou, ouviu um grito vindo do quarto de sua irmã, pegou a bolsa e subiu rapidamente. Atravessou a corredor, fazia tempo que não corria assim, abriu a porta do quarto de Michelle com um estrondo, não havia ninguém lá, apenas o som do TV consumia o quarto. De um segundo para o outro, Michael se lembrou, mas não poderia acreditar, não poderia aceitar, correu de volta para o corredor. Outro grito preencheu a casa. Abriu a porta do quarto da pequena Rachel com a mesma força de anteriormente e viu uma cena que ficou na sua mente por vários anos. Sua irmã estava sentada no chão, com a filha nos braços, ela gritou novamente, porém não foi tão alto, não tinha mais forças para gritar, continuava ali, acariciando o rosto da criança de apenas 6 meses, não parava de chorar, chorava tanto que soluçava, ficou sem ar. Michael ficou ali, olhando, não sabia o que fazer, não sabia, se aproximou da irmã e se sentou ao lado, abraço-a. Ficaram ali por vários minutos, Michelle não parava de chorar, que mãe poderia parar? Michael ficou sentado ao seu lado, apenas estando ali, ninguém mais podeira estar. Então ela diminuiu o nível do choro, e falou com uma voz fraca para Michael.
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amor .1
General FictionNa Itália, o amor é predominante, mas do que em qualquer lugar do mundo, todos devem amar, todos querem amar, todos amam, todos dizem que amam, tudo ocorre em constante amor no país italiano, até que eventos começam a acontecer, fazendo se pensar no...