Prólogo

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- Anda Sophie, você não vai querer se atrasar para o primeiro dia na escola nova.

Ouço a voz da minha mãe, mas ainda estou terminando de arrumar o meu cabelo. E obviamente não quero me atrasar para o primeiro dia. Seria estressante chegar depois que todo mundo num lugar completamente desconhecido.

- Já estou indo mãe.

Respondo após ouvi-lá me apressando pela quarta vez seguida. Juro que o nervosismo que a Sra. Lauren Evans demonstra supera o meu próprio nervosismo, mas eu sei que na verdade, o que ela mais quer é que eu me dê bem nesse novo ambiente. Principalmente se considerarmos a culpa que ela sente pela nossa mudança.

No fundo a culpa não pertence a ela, o seu trabalho precisava dela nesta cidade e não havia razões para que minha mãe recusasse. Embora a cidade em que morávamos havia sido a nossa cidade desde sempre, ainda sentíamos a tristeza pela perda do meu pai e um novo ambiente faria bem para nós.

Novos ares era o que precisávamos para superar a dor da perda, entretanto tenho minhas dúvidas se dê fato um dia a superaremos.

A forma como John Evans morreu tão prematuramente, tão terrivelmente, é o motivo dos meus pesadelos noturnos. Um acidente de trânsito, onde um condutor irresponsável, dirigia alcoolizado. Ele causou a morte do meu pai e por pouco, não causou a morte minha e da minha mãe. Apesar de quê nos primeiros meses da perca, tudo o que nós desejávamos era que toda a família fosse exterminada naquele acidente. 

Mas não foi assim. Apenas o meu pai morreu. Apenas o meu herói. O alicerce da nossa casa. A base da nossa família.

Ele se foi.

Eu e a minha mãe permanecemos. Sofrendo. Porém unidas. 

Juntas superamos a dor e hoje estamos aqui, uma casa nova, uma cidade nova, onze meses depois do dia mais triste de nossas vidas. 

Tenho apenas dezesseis anos, mas já vivi tantas coisas que as vezes parece que tenho bem mais. Hoje é o primeiro dia na escola nova e não tenho nem ideia do que me espera no High School Myer, ser uma novata no segundo ano será uma experiência dolorosa, considerando o fato de quê a última vez em que fui novata, eu tinha apenas seis anos, desde então a minha escola sempre foi a mesma. Até agora.

Mal consigo engolir o café da manhã que a minha mãe preparou, mas percebo que o mesmo ocorre com ela, confirmando a minha tese de que ela está muito mais nervosa que eu. Trocamos poucas palavras enquanto ela me conduzia até o colégio. Meu coração dispara acelerado e eu sinto vontade de fazer xixi, pelo nervosismo, sei que não estou com a bexiga cheia, acabei de sair do banheiro. 

Finalmente chegamos ao nosso destino. Ainda não conheço muito bem a cidade, mas minha mãe parece não encontrar dificuldades para se locomover por aqui. 

E não. Não estou atrasada, pelo menos acho que não já que o gramado de entrada está lotado de estudantes que aos poucos começa a adentrar no prédio da escola. Eu dou um beijo de despedida na minha mãe e a ouço me desejar boa sorte. 

Espero mesmo que a sorte me acompanhe nesse dia.

Sigo os estudantes que estão entrando no prédio e não faço ideia de onde ir para localizar minha sala de aula.

Com a minha mochila nas costas, e em minha mãos o papel com a minha matrícula, tento ler o número da sala da primeira aula, mas sou surpreendida esbarrando em alguém.

- Ei garota, presta atenção por onde anda. Você não sabe que quando Jay passa, todos saem da frente? Em que mundo você vive?...

Olho para a garota ruiva na minha frente. Ela fala tanto e tão alto que eu mal consigo assimilar o que está saindo da boca dela. Ótimo, uma super babaca. Tudo o que eu precisava para o meu primeiro dia.

- Me..de..desculpe. Não vi você.

Ela finalmente me encara e surpresa está estampado em sua face.

- Olha só o que temos aqui. Carne nova. Quem é você novata?

- E..eu s..sou So..Soph..Sophie. 

Mas porque eu to gaguejando? Ah, agora eu me tornei a super babaca. Ótimo!

- Você é doente mental ou o quê?

- Ei, eu não sou nada disso. Só quero paz, ok?

- Ah claro. Pode apostar que isso você não terá, ok?

Ela repete a minha última palavra num tom zombeteiro. Não fui com a cara dessa garota, mas pensando bem eu não fui com a cara de ninguém até o momento. E a primeira cara que de fato me encara de volta é de uma ruiva metida a superstar numa escola de ensino médio. Odeio garotas populares, assisti Meninas Malvadas nas férias, não vou me meter com elas. Conseguem ser cruéis quando querem. 

Eu ignoro o que ela fala e me viro para andar na direção oposta, não antes de revirar os olhos, involuntariamente e infelizmente. A tal da Jay percebeu e é claro, não deixou barato:

- Você está muito ferrada garota, escolheu mexer com a pessoa errada. Seus dias nessa escola estão contados. 

Ela fala baixinho, para que eu escute mesmo de costas. Então ela cruza por mim e me empurra, fazendo com que eu tropece em minhas próprias pernas e caia no chão.

Ótimo!

Estou no chão, no corredor lotado de gente querendo o meu sangue.

Sendo odiada por uma ruiva que acha que é dona do mundo. 

Isso é o que chamo de sorte, Sophie.

Muito sortuda você.

Ainda sou PrincesaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora