I- Cinco anos não são cinco meses

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Malu

Eu sentia que o cansaço tomaria conta de mim totalmente em pouco tempo, meus olhos pesados apenas observavam pelo vidro da porta, as paredes acinzentadas passando rapidamente enquanto o metrô andava.

— Vai Malu! Qual a graça de trabalhar em um cinema, ganhar um ingresso por mês se você não quer aproveitar com a sua melhor amiga? — Insistia Nathy.

— Nathy, eu já disse que vamos assistir o filme, mas amanhã não... Eu preciso de ao menos um dia para ter uma noite de sono descente antes de surtar totalmente! — Respondi passando a mão no meu rosto na tentativa de espantar todo aquele sono de mim. Pegando uma mecha do meu cabelo o levei até o nariz. — Deus... Não há shampoo no mundo que tire o cheiro de manteiga do cabelo.

— É impressão sua! É que o cheiro gruda no nosso nariz aí tudo fica cheirando a manteiga. — Disse fazendo ambas rirem enquanto nos apertávamos já que entravam mais pessoas.

— E como foi o final de semana com o boy?

— A mesma de sempre. — Não pude evitar revirar os olhos.

— Vocês ainda não conseguiram... Cê sabe... — Nathy me olhou sugestivamente arqueando as sobrancelhas.

— Não. — Respondi dando um leve tapa na minha própria testa. — Acho que meu tesão morreu.

— Acho que o seu namoro morreu, isso sim.

— Nathy!

— Não me julgue por ser sincera! Você está em negação a muito tempo. — Disse enquanto descíamos na nossa estação.

— Desde quando você me analisa? — Perguntei subindo correndo as escassas rolantes.

— Não preciso te analisar, até cego vê que o seu namoro afundou igual ao Titanic!

— Essa doeu, e não é verdade, eu ainda gosto do Rafael.

— Gosta tanto que não sente mais tesão nele. — Disse rindo mesmo ofegante. — Encare os fatos Malu, vocês estão prorrogando o inevitável.

— Podemos focar menos na minha vida sexual e mais na prova de hoje?

— Tudo bem, não vou mais falar nadinha... — Nathy não parecia ofendida, parecia mais cansada.

Todo os dias dos últimos dois anos têm sido a mesma coisa: Vamos trabalhar a tarde no cinema do shopping não muito longe de casa e logo saímos correndo para a faculdade, ambas começamos a cursar psicologia juntas, faltam apenas três anos para a conclusão.

Nossas vidas tem se baseado em correr como se não ouve-se amanhã para não perder os trens, ônibus e metrôs de ida e volta. Já corremos tanto nos últimos dois anos que sinto poder apostar uma corrida com Usain Bolt e ganhar!

Assim que chegamos a faculdade tínhamos tempo para comer alguma coisa antes da aula, então descemos até o refeitório que ficava no subsolo, compramos cada uma um lanche e sentamos em uma das varias mesas.

— Não vai perguntar como foi o meu final de semana? — Perguntou Nathy dando uma mordida no lanche.

— Como foi seu final de semana? — A olhei com um sorriso totalmente falso a fazendo jogar uma fatia de salame em mim.

— Ignorando seu sarcasmo, meu fim de semana foi ótimo! E...

Nathy parou de falar ao olhar para trás de mim, apenas quando senti alguém colocando a mão no meu ombro entendi o porquê.

— Oi amor. — Disse Rafael sorrindo e dando um rápido beijo em meus lábios.

— Oi. — Sorri mais de nervoso pelo inesperado do que de felicidade em vê-lo.

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