Capítulo Único

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   Estava no segundo horário do dia, quando o sinal tocou. Estranhamente cedo.

   Yoongi exibia seu belo sorriso enquanto andava pelos corredores daquela escola. O mundo a sua volta estava em câmera lenta, com pessoas andando na direção oposta e parecendo estar assustadas com algo. Demorou a entender realmente que, após dois anos de planejamento, o moreno estivesse realizando seu grande sonho. Um objeto cintilava em sua mão esquerda, ao mesmo tempo em que, na destra, segurava seu óculos de grau, em formato redondo. O jogou no chão sem se importar.

   Voltou a encarar o corredor, dando passos mais rápidos. Neste momento, apenas, pôde perceber o que estava acontecendo. O que ele estava fazendo. E riu fracamente por isso. Finalmente as coisas passaram a dar certo para si. Depois de ser largado por sua família, deixado à beira da morte em um hospício ─ e sendo bullyinado por isso na instituição ─, estava ali, para propagar parte de sua vingança.

   Vingança. Ah, essa era uma palavra que chegava a causar arrepios na pele do rapaz, depois do tanto que pronunciara e guardara o significado em sua mente e coração. Hoje era o dia da queda desse monte de merda, desse gasto inútil de racionalidade... hoje ele iria anistiá-los. Iria perdoá-los pelo que fizeram, iria purificar o mundo, começando por aqui, por essa escola que tanto lhe fez mal. Que tanto sujava a existência humana.

   Parou por alguns instantes, para finalmente processar o que acontecia. O objeto em sua mão era a arma de seu padrasto, aquele mesmo que o abusava debaixo dos olhos da progenitora biológica, que preferia fingir não ver nada a defender seu único filho. Min acabou rindo sarcasticamente com o armamento na mão. Fora uma pena que o padrasto houvesse se mudado antes que o adolescente pudesse tê-lo machucado, ou pudesse tê-lo feito se arrepender. Mas tudo bem, iria atrás disso depois. No momento, tinha outro tipo de entreterimento.

   Era engraçado ver as pessoas implorando por piedade, pela própria vida, quando Yoongi se aproximava e apontava a arma em sua cabeça. Isso estava acontecendo com Kim Namjoon agora, um babaca do terceiro ano que participava das brincadeiras ao qual lhes fizeram mal. Com um olhar de desespero bem plantado em suas orbes, encarou o moreno, que agora já tinha suas vestimentas manchadas com rubro de outros falecidos e "queridos" amigos, ou desconhecidos que passaram por sua frente.

   ─ Suga, não faça isso, me perdoa...

   Implorava com um tom quase cômico na voz, se mantendo ajoelhado, com as mãos para cima. O Min, totalmente divertido, sussurrou pesadamente.

   ─ Você será perdoado, Nam... o inferno é cheio de boas intenções.

   E aquele sorriso lindo, porém sociopata, foi a última coisa que Kim pôde observar antes de apagar de vez. Mais um perdoado, naquele dia. E isso era ótimo! Quanto mais pessoas fadadas ao trauma, melhor.

   Se afastou do corpo, notando alguns gritos de fundo. Era como se uma lindíssima ópera tocasse em sua mente, o reafirmando do quão certo esse momento permanecia. Do quão forte ele se sentia. Do quão poderoso ele era. Mesmo com várias pessoas no outro lado do corredor, seguiu caminho calmamente até uma das salas de aula. Aquela era a sua, de dois anos atrás. Foi ali que tudo começou.

   Fez um joguinho mental: ninguém sai dessa sala vivo. Ninguém.

   Estava abrindo a porta, quando sentiu algo em seu braço, algo queimando como o inferno. Gemeu em dor, cambaleando para trás, se dando com uma vista da qual jamais imaginaria.

   Jeon Jungkook.

  
   ─ Você gostou, Suga hyung?

   Ouviu o questionamento com certa doçura, mas respondeu com um revirar de olhos claramente sarcástico.

༺ irrєαℓ ༻ | 非現実的 | • myg . jjk •Onde histórias criam vida. Descubra agora