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     Era um dia comum pra mim quando minha história começou.
     Estava já no carro ao lado da minha mãe enquanto ela tagarelava mais uma vez aquele velho discurso sobre como ir morar com meu pai poderia me ajudar, estava cansado de tudo, por mim eu poderia ficar aqui na Califórnia, sempre sentindo o calor do verão, iria sentir saudade do barulho que as folhas secas do Outono faziam. Resumindo, iria sentir saudade de tudo:

- Cam você entendeu? - olho para o lado e vejo minha mãe me olhando pelo canto do olho

- O quê? - pergunto

     Minha mãe suspira pesadamente:

- Querido! Eu sei que está chateado, mas sabe que no momento não estamos muito bem financeiramente pra cuidar de você como deveria... E já faz tempo que você não vê seu pai, se não gostar podemos ver o que podemos fazer pra trazer você de volta...

     Apenas assenti.
     Eu não tinha o direito de ficar chateado, depois do divórcio, minha mãe ficou meio desiquilibrada tanto emocionalmente quanto financeiramente, não levaram nossa casa porque recebemos a ajuda de um amigo nosso, ou melhor, um amigo da minha mãe. Eu nunca tinha visto Grey na minha vida, mas assim que o vi pela primeira vez pude ver que ele tinha uma quedinha pela minha mãe, a forma como ele a chamava pelo nome, e até mesmo o apelido que ele deu pra ela, vocês não vão acreditar, ele chama ela de "Gin", fala sério, isso é basicamente o nome de uma bebida, mas eu não o julgo, ela acha fofo então eu não posso fazer nada.
     Grey daria um bom padrasto, ele é bem atencioso e carinhoso, tem uma boa vida financeira, levando em conta que se não fosse por ele, provavelmente, eu e minha mãe estaríamos em um daqueles hotéis imundos que cheiram a fumaça.
     Passamos o caminho todo em silêncio, eu e minha mãe, acho que ela pensa que está tomando a decisão errada em me mandar para Forx, uma cidadedizinha pequena que fica alguns quilômetros longe de Seattle, ainda me lembro da última vez em que fui lá, eu tinha doze anos, foi lá que eu conheci um dos meus melhores amigos, Nick, na época ele tinha a minha idade, mas ele tinha um corpo muito definido para um garoto de doze anos, aliás, todos os irmãos de Nick são assim, fortes, bonitos, além de Kevin e Joe, Nick tinha mais três irmãos, que até hoje não decorei os nomes, e pelo que eu sei desde a última vez em que conversamos por mensagem, sua mãe havia engravidado de gêmeos, resumindo, a família Jonas é grande, realmente, muito grande... Eu e Nick nos demos bem de primeira, pude jurar que vi seus olhos se encherem de lágrimas quando eu disse "adeus" pela última vez. Me perco nos meus pensamentos e na música que toca no meu fone de ouvido, e nem percebo que já estamos no aeroporto. Inspiro fundo mais uma vez sentindo pela última vez aquele cheiro doce e enjoativo de Chocolate do carro da minha mãe que eu odiava, mas que eu tinha certeza que sentiria falta em algum momento, minha mãe me olhou uma última vez antes de descer do carro e ir em direção ao porta-malas, abri a porta do carro e fui na sua direção ajudá-la com minha mala, levei poucas coisas minhas, apenas algumas peças de roupa, não queria levar tudo daqui da Califórnia para Forx, porque sabia que iria me lembrar daqui, e a raiva e a tristeza que tanto tenho reprimido iriam surgir:

- Cameron - minha mãe disse cautelosa - Não está chateado comigo está?

- Mãe - a abraçei - Sabe que não, porque ficaria? Vou sempre te ligar pra encher o seu saco...

     Ela sorriu, seu lindo sorriso, largo, era o que me fazia criar coragem para ir para Forx:

- Quero que aproveite, Forx pode parecer deprimente, mas... Tenho certeza que irá se acostumar!

- Ok! - falo

     Pego minha mala apesar da insistência da minha mãe em levá-la, olhei para minha mãe disfarçadamente, e pude perceber certa angústia em seu olhar, fato que ela sempre escondia debaixo de um sorriso a cada vez em que perguntava se ela estava bem. Dizem que eu puxei da minha mãe a habilidade de esconder aquilo que eu realmente sentia, não muito bem, claro, todos percebiam que eu estava triste, mesmo quando abria meu mais largo sorriso e dizia que tudo estava bem, quando eu fico irritado minha mãe diz que minhas bochechas tomam uma coloração avermelhada, sempre neguei isso, mesmo sabendo que era verdade.
     Claro que eu tinha características de meu pai, como nunca saber mentir muito bem, já que todas as minhas mentiras resultavam em crises de riso, meu pai sempre disse que quando eu mentia, simplesmente não conseguia permanecer sério e começava a rir, uma maldição na minha vida se querem saber minha opinião, eu também era o tipo de pessoa que tinha um ponto de vista diferente de tudo, mas isso não veio de minha mãe nem de meu pai, é uma característica minha, acho que sou tachado de estranho por isso, nunca concordar com nada nem com ninguém, tem certos momentos em que me pergunto se todos enxergam em "amarelo" aquilo que eu enxergo em "azul", se é que vocês me entendem, provavelmente não, ninguém me entende. Posso até estar soando depressivo e exagerado agora, mas a mente de um adolescente pode ser muito mais confusa do que você imagina:

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