mais uma criatura atordoada pelo amor.

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"nada de bom acontece após as duas da madrugada. depois das duas da manhã, apenas vá dormir. as decisões tomadas depois desse horário são decisões erradas." - ted mosby.

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no bar havia apenas dois homens bebendo suas cervejas, sentados no banco, com os braços apoiados no balcão de madeira rústica; eles debatiam banalidades, falavam sobre times de futebol e mulheres.

ali, eu era apenas um figurante secando copos.

era como uma noite qualquer, de um dia qualquer, onde nada grandioso aconteceria. onde tudo que eu faria resumia-se em servir mais doses para homens, secar alguns copos e no final, ir para casa com as mãos cheirando à licor.

apenas mais um dia monótono e comum.

o noticiário passava em uma altura baixa na televisão ao meu lado direito, dizia que um forte vendaval se aproximava da cidade, nos alertando a ficar em casa.

os homens ao ouvirem o que o apresentador falava soltaram um riso forçado com tons de deboche e em seguida viraram juntos os copos com suas bebidas.

- outra rodada! - exigiu o homem de aparência cansada e quebradiça, ele era padre nota-se pelas suas vestimentas típicas.

servindo mais uma dose de algum whisky velho eu ganho um sorriso amargo enquanto observo e ouço o ranger da cadeira velha sob o peso do padre enquanto ele tentava se ajeitar numa posição confortável, fiquei mais uma vez espantado em ver o quanto o homem era enorme.

pelo que eu ouvi de sua conversa com o homem ao seu lado ele não tinha mais do que trinta anos, se tanto, embora parecesse um homem de meia-idade possívelmemte por causa de anos de trabalho árduo. seu rosto era firme e pesado, com um nariz que havia sido amassado por golpes e um naco enrolado de pele protuberante atrás da gola. os cabelos estavam bem-arrumados, com gomalina e penteados para trás, formando um sólido capacete em sua cabeça. entretanto, eram as mãos que pareciam inadequadas, eram grandes e vermelhas, rígidas como couro como se tivesse passado toda uma adolescência erguendo paredes e muros feitos de pedra sem argamassa ou confinando novilhos nos currais para a perfuração de orelhas e aplicação de brincos identificadores.

se não fosse pelo colarinho romano e sua voz calma, ele poderia facilmente passar por um porteiro ou ladrão de banco.

despertando-me desta observação eu volto para o banco onde eu estava sentado, fingindo prestar atenção no noticiário.

devia ser por volta de três e meia da manhã, eu me questionava no silêncio de minha mente se aqueles homens não se cansavam de ingerir aquela quantidade horrenda de álcool.

uma vez eu perguntei a namjoon, meu esposo - este que está em nossa casa resolvendo algumas coisas do trabalho, deixando-me novamente sozinho - do porque eles nunca se cansarem, ele riu fraco com um suave e carinhoso sorriso, olhava-me como se eu fosse o mais ingênuo dos homens e então disse: eles são apenas criaturas atordoadas pelo amor, querido. para eles o amor é o cão dos diabos.

e olhando aqueles bêbados a minha frente eu pude constatar que este é um fato universalmente aceito, eles estão atordoados.

o sino que tinha na porta de entrada mostrou ser prestativo ao ter a mesma sendo empurrada, um homem possívelmemte no auge de seus vinte e cinco anos entrou em um suspiro de alívio, acho que por ter fugido da chuva que já entrava na cidade sem permissão.

caminhou ofegante até o balcão de madeira se debruçando em cansasso, ele me olhou. pude ver seus olhos, eram lindas orbes castanhas, mas, que agora estavam com as bordas inchadas e avermelhadas, assim como seu nariz delicado.

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