Sonhar

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Prólogo

Já se passava do meio dia quando a garçonete trouxe a conta, um café e um chá à mesa. O sol incidia perfeitamente de seu pico no céu e as sombras tentavam se esconder da luz intensa. O calor do verão ainda estava forte, demoraria mais algumas semanas para o outono começar a trazer um equilíbrio a essa onda de calor. Do lado de fora do restaurante, pessoas andavam apressadas de um lado para o outro buscando o breve conforto de algumas poucas sombras enquanto aqueles do lado de dentro tomavam coragem para enfrentar o mormaço ao saírem de seu confortável assento dentro do restaurante. Era um restaurante comum, não muito chique ou caro, nem muito simples, algo que se espera de um restaurante qualquer. Boa comida, limpo, um ambiente agradável e um jazz baixinho para fazer um som ambiente. As paredes eram de um tom rosa salmão com alguns contornos em um vermelho mais forte, detalhes em madeira e um dourado um pouco descascado. Parecia uma construção antiga e do lado de fora da janela, algumas plantas e flores. Um grande vidro ao lado da porta deixava a luz entrar e as pessoas de dentro verem o que se passava do outro lado, assim como as de fora verem o que era oferecido lá dentro.

Marcos gostava daquele lugar. Almoçara ali de segunda a sábado pelos últimos cinco anos e todas as vezes se sentia satisfeito. Victor o acompanhara dessa vez, gostava do lugar, mas por outro lado, não queria almoçar sempre no mesmo restaurante e por isso deixava seu amigo e procurava outros lugares para comer os outros dias da semana. Marcos estava com seu uniforme do dia-a-dia; um sapato preto, um pouco gasto e um pouco sujo, uma calça jeans que talvez já tivesse visto dias melhores e uma camisa de botões xadrez. Victor era um pouco mais formal, usava um sapato preto impecável, uma calça social preta e uma camisa social novinha. Marcos levou seu chá perto da boca e inalou os vapores de camomila enquanto Victor tomava seu café e olhava seu relógio.

- Está atrasado para a aula? – Perguntou Marcos.

- Hoje terei que dar uma aula a mais. Vou substituir a Clarissa. Ela passou mal e teve que ficar em casa. Quando é a sua próxima aula?

- Duas horas. Ainda tenho tempo... – Marcos fechou os olhos e tomou um pouco de seu chá. O calor da água invadiu seu ser e desceu até seu estômago enquanto os vapores quentes subiam para sua cabeça. Considerava aquilo refrescante.

Victor olhava seu amigo realizando seu ritual habitual, nunca entendera aquela demora toda para tomar a primeira golada de chá, sempre, apenas a primeira. Mesmo com os olhos fechados, Marcos sentia o olhar do amigo.

- Eu sonhei com Elisabeth essa noite. – Disse sem abrir os olhos. Mesmo assim, notou a reação do amigo. Ouviu seu suspiro, seu coçar na nuca e seu relógio raspando na tábua da mesa. Lentamente abriu os olhos.

- Você tem que deixar isso para lá. – Victor ficou claramente ansioso. – Já fazem anos que vocês terminaram, e desde então quantas vezes vocês se viram? Quantas vezes se falaram?

Marcos ia abrir a boca para responder, mas seu amigo o cortou.

- Nenhuma! Você nem sabe onde ela vive... como ela vive. Não são as mesmas pessoas que eram antes. Está na hora de parar de sonhar e viver no mundo real.

Victor fez uma pausa. Notou que seu tom de voz estava um pouco alto demais.

- Desculpa. Eu não deveria ter falado desse jeito.

- Sem problemas. – Disse Marcos com calma. – Eu já estou acostumado. Você não acredita em sonhos, não é mesmo?

Victor tomou mais um gole de café, essa pergunta era muito vaga. Não estava acostumado com esse tipo de questionamento. Ajeitou-se na cadeira e cruzou as pernas, estava pensando na melhor resposta para dar ao amigo.

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⏰ Last updated: Jun 04, 2019 ⏰

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