2. UM DIA QUALQUER

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- Por que tem que ser justo eu?

- Porque não é você quem gosta dela e vai tremer e gaguejar quando chegar lá.

- Exatamente! Não sou eu quem gosto dela, então é você quem vai entregar.

- Por favor, por mim. - ele sabe o quanto eu odeio quando ele fala "por mim", pois sabe que eu faria qualquer coisa por ele.

- Você me convenceu, manda o bilhete. - eu abro o papelzinho amassado que ele me entrega e o observo durante algum tempo - Mas você é uma anta mesmo, ein Ivan!

- Por que? O que aconteceu?

- Como ela vai saber que o telefone é seu, sendo que você não colocou seu nome nele?

- Aé! Eu tinha me esquecido disso - ele passa a mão lindamente no seu cabelo enquanto dá um sorriso meio torto, sem-graça, com suas covinhas à mostra - Pô, depois você entrega.

- Ta bom, eu fico te devendo essa. - sorrio para ele também - Agora vamos, porque o sinal já tocou.

Fomos para a sala de aula e a professora já estava lá, sentada em sua mesa, lendo um livro gigante, enquanto aguardava o resto da turma chegar. Era a professora de redação e português, Suzana. Apesar de serem as minhas matérias favoritas, com essa nova professora as minhas notas cairam nesses primeiros meses de aula, pelo simples fato de ela me odiar. Sempre fui a queridinha nessas matérias, mas com essa professora foi diferente, desde o primeiro dia ela não foi com a minha cara, e já disse que a minha redação estava péssima e além disso, ela sempre acha defeito em tudo. Ok, eu tive um pequeno surto de nada, e eu juro que não desejei a morte dela. Eu juro!

Estava escrevendo aquela redação imensa de tantas bilhões de palavras que ela passou, quando uma bolinha de papel bateu na minha cabeça. Me virei já sabendo quem era. Ivan. Olhei para ele e não entendi nada do que ele disse, não por ele ser péssimo em fazer gestos, claro que não... Mas porque a sala estava uma bagunça. Acredite. Tinha gente conversando, gritando, ouvindo música, e até os mais retardados, quer dizer, os nerds e intelectuais, fazendo guerra estilo Star Wars, com aquelas espadas sabre de luz de papel enrolado. Ela não liga muito para a sala, o negócio dela é fazer a redação e pronto. Finalmente entendi o que ele quis dizer, então peguei o papel que estava no chão.

"Olíviaaaaaaa, eu estava conversando com o Josias e o Pablo, e pelo visto os boatos estavam certos, a Helena terminou com o Carlos. Fechou!!! É a minha chance!!!! E você vai me ajudar, pode ter certeza."

Confesso que depois que li o bilhete eu sorri. O Ivan realmente tem chances com ela. Ambos são lindos. O Ivan é alto, seu cabelo é castanho-claro, olhos azuis meio esverdeados. A Helena é a menina mais cobiçada da escola, então você já deve ter alguma ideia da beleza dela. Além disso, ela é muito inteligente. Apesar de andar com uma galera, ela não é popular, pelo menos não se comporta como uma, ela não é metida e além disso, ela anda mesmo é com suas duas amigas, Nicole e Luana. Elas são inseparáveis.

Terminei a minha redação e entreguei para a professora, que me olhou com uma cara de desprezo e disse que eu podia sair mais cedo. Afinal, faltava uns dez minutos para acabar a aula.

Fui para o pátio e me sentei em um banco esperando o sinal tocar. Fiquei um tempão observando duas pombas brigar por um pedaço de pão, e nada do Ivan... Fiquei impaciente. Meu celular vibra.

Mensagem.

"Macaca, cade você?? Estou te esperando um tempão aqui no estacionamento... Minha mãe já chegou, vem logo se não você vai de busão para casa."

Corri. Fui em desparada para o estacionamento, onde não demorei muito para encontrar o carro da tia Georgia. Eu acho meio estranho chamar ela de tia, mas mãe de amigo meu é tia e ponto final. Entrei no carro, no banco de trás, onde o Ivan também estava sentado.

- Oi minha querida - dizia a voz doce da tia Georgia, e eu a observava pelo espelho - Como foi a escola, hoje?

- Até que foi bem...

- Ah sim, você tem que ir mais vezes lá em casa para estudar fom o Ivan, esse dai não quer nada com nada... Só quer saber dessa tal de Helena.

- Poxa, mãe!

- Vou sim, não se preocupe - sorri para ela.

A conversa não passou por aí, teve muitas risadas, brincadeiras - a maioria ofensivas, mas que nos fez rir muito - e música. Chegamos na minha casa. Enquanto eu procurava as chaves pensando onde deixei, a tia Georgia interrompeu os meus pensamentos:

- Querida, diga aos seus pais que estou com saudades e que temos que marcar de sair para um jantar qualquer dia desses... Ta bom?

- Digo sim, pode deixar... - encontrei as minhas chaves e abri o portão.

- Ah, qualquer coisa, me liga viu?

- É claro, sei que posso contar com vocês. Manda um beijo pro tio Lúcio.

Quase todos os dias a "tia Georgia" me leva para casa, é porque meus pais trabalham muito e quase nunca têm tempo de me levar para a escola ou me buscar. Isso não é problema para ela, já que nossas casas ficam no mesmo quarteirão... Na verdade, meu pai vive viajando à negócios e minha mãe é aeromoça, ou seja, quase nunca para em casa, às vezes ela faz muitas viagens seguidas, e fico sem vê-la por um bom tempo. Eu nunca entendo a paixão dela por viagens, a minha mãe já deve ter viajado para quase todo o mundo com o trabalho dela, e ela ama isso. Eu a admiro.

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⏰ Última atualização: Oct 06, 2012 ⏰

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