Capítulo 1: A Velha

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"Ela estava perdida, em uma era que não sabia nem o nome, talvez um Mundo diferente, o medo transcorreu pelo seu rosto pálido e quem via seu rosto nesse momento sentia o pânico em seu olhar. Estava com medo, e tudo o que estava na sua frente era o rosto desse lindo rapaz moreno, e ela não sabia o que fazer(...)"

1988

                                    LIZZIE está segurando seu livro nas mãos, enquanto se perde em pensamentos por alguns minutos, apenas olhando para o nada. Está pensando o quanto desejaria poder entrar dentro de histórias, dentro de mundos diferentes, costumes diferentes. Sempre acreditou que veio ao mundo no tempo errado, na verdade, no século errado. "Não, Lizzie. Pare de ser infantil", de repente cai na realidade. Fecha o livro rapidamente e o coloca de volta à sua estante.

                                   Elizabeth Smith é uma garota comum de 20 anos, bem magra, não muito alta, na verdade, nenhum um pouco alta. Possui cabelos longos e levemente ondulados que atingem quase metade das suas costas, são da cor de um castanho claro levemente puxado para o laranja, mas dependendo do ponto de vista, poderiam toma-la como ruiva. Seus olhos são de um azul que pode ser comparado à um topázio. Apesar da beleza, Lizzie não se sente bonita e nem se esforça para ser. É pouco vaidosa, passar uma cor nos lábios já é demais para ela. Usa toucas e roupas compridas e mais largas do que a serviria. Possui pai e mãe, mas não convive mais com eles. Não por se darem mal ou algo do tipo, mas precisava estudar longe e de um cantinho só seu. Sente falta da comida da mãe e do "Bom dia, Elizabeth" de seu pai – ele não gostava de chama-la de Lizzie, dizia que seu nome era bonito como de uma rainha e deveria ser dito por completo.

                                   É quase 9hrs e precisa ir para a faculdade. Se arruma rapidamente, coloca sua mochila nas costas e sai de casa, não há tempo para café. Enquanto anda pela calma e vazia Avenue St., seus pensamentos não param. Fica imaginando aquele pequeno cantinho da Inglaterra, por quantas mudanças passou, por quantas histórias passou, quantas pessoas, talvez até reis, pessoas que foram esquecidas e apagadas. Daria tudo para saber como seria. É sempre assim, durante a vida toda pensou no passado, na história, ninguém da importância para isso, mas Lizzie sempre teve essa curiosidade.

                                    Acelera os passos para que os pensamentos parem, precisa parar de pensar bobagem. Tem 20 anos e tem que focar no seu futuro, tem que lembrar de fazer os trabalhos da Prof. Lena, que sempre esquece. Isso é importante. Nada mais.

                                 Num momento de lucidez, pisca os olhos para voltar a se concentrar no caminho e no mundo real, se depara com a esquina com Ermold St. e se prepara para virar, mas só consegue sentir um grande baque, uma dor terrível nos braços e está no chão, sentada.

                           Quando olha para sua frente, vê alguém vestido com calças largas e de cor marrom escuro, uma blusa da mesma cor e um casaco antigo acinzentado. Os cabelos brancos escorrendo pelo ombro. O rosto é de uma senhora com idade aparente de sua avó, mas tem um semblante ativo, apesar do rosto enrugado tem um olhar astucioso, desafiador e muito inteligente.

                                "Mil perdões, senhora. Eu estava distraída...", levanta, devagar. "Eu espero que a Sra. não esteja machucada! Me desculpa, não foi por mal, se você quiser posso te acompanhar até o hospital ou chamar algum táxi... eu tenho dinheiro aqui, posso acompanha-la..."

                                Lizzie é interrompida ao sentir as mãos frias da senhora nas suas. Só consegue olhar para ela, sem dizer absolutamente nada, aquelas mãos são muito geladas, muito geladas. Ao olhar para os olhos da Senhora estranha a sua frente, nota que estão distantes, como se estivesse perdida em pensamentos enquanto segura suas mãos.

                                  "A senhora está bem??"- sussurra.

                                  Os olhos verdes da senhora, que até então a olhavam imóveis, piscam de maneira forte e ela finalmente parece viva.

                                "Estou bem querida, fique tranquila." Ela dá um pequeno sorriso, e Lizzie sente um arrepio percorrer sua espinha, como se já tivesse visto aquilo. É uma sensação estranha, sente uma ansiedade fora do normal, como se algo estivesse prestes a acontecer. Um aperto no coração, um medo irracional. Quer voltar para casa.

                                     "Tem certeza?", diz Lizzie, e direciona seus olhos para as mãos da Senhora, que ainda se encontram nas dela.

                                    Imediatamente a Senhora estranha percebe o olhar, mas não se incomoda, ou pelo menos, não transparece. Retira delicadamente as mãos das mãos de Lizzie, que rapidamente as coloca no bolso.

                                     "Eu acho que você tem um futuro importante à sua frente, garota.", diz a Senhora, ignorando a pergunta anterior.

                                  Sem dizer nada, Lizzie apenas franze o cenho, com uma cara de interrogação. Antes que possa perguntar o que ela quer dizer com isso, como ela pode opinar sobre seu futuro, a senhora coloca as mãos dentro do casaco acinzentado e retira um medalhão.  

                               "Você gosta de coisas antigas, meu bem?", coloca o medalhão na palma da sua mão, mostrando-o para Lizzie.

                               "Eu gosto sim...mas de onde isso veio?", ela não consegue afastar os olhos do medalhão, sente-se atraída por ele.

                              "Tome, pegue. Acho que você merece." A Senhora estica os braços e Lizzie sente-se na obrigação de pega-lo. "Eu sabia que ia encontra-la quando chegasse a hora, me disseram há muito tempo atrás que eu sentiria, que saberia o que fazer, e é verdade. Você também saberá, mas ainda há muito tempo. Guarde muito bem isso, deixe sempre com você."

                                Lizzie não compreende nada das palavras que ela acabou de dizer. O que ela saberá? Por que ela merece esse medalhão? Quem é essa senhora por que acha que ela é a pessoa que estava procurando?

                                  "Senhora, o medalhão é lindo, mas acho que se enganou.. eu não devo ser a pessoa que você pensa que é, mas posso ajuda-la a achar...", -      Mais uma vez sua fala é cortada pela Senhora.

                               "Shh pequena pombinha, é você sim. Fique tranquila. Você vai entender.", ela dá uns tapinhas no ombro de Lizzie, e passa por ela deixando cair no chão seu sobretudo acinzentado.

                                Lizzie ainda está imóvel pensando no que havia acabado de ocorrer, e aí se dá conta do casaco no chão. Agacha rapidamente para pegar, "Senhora, seu casaco..." e vira-se para a direção em que a velha acabou de passar, porém, não há mais ninguém alí, nem um sinal da velha. Apenas ela, e o medalhão nas mãos.

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